Cantor e compositor moçambicano Hortêncio Langa morre aos 70 anos

Músico estava internado num hospital de Maputo devido a complicações pulmonares, que viriam a vitimá-lo na manhã desta segunda-feira. Tinha 70 anos e mantinha-se activo na música.

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Cantor, compositor, pintor, escritor e professor, Hortêncio Langa não resistiu ao agravamento de complicações pulmonares que levaram ao seu internamento. Morreu na manhã de segunda-feira, 12 de Abril. “Ele apanhou de facto pneumonia, baixou no Hospital Central de Maputo e hoje [dia 12] transferiram-no para o Hospital da Polana Caniço”, disse à Rádio Moçambique o reverendo e também músico Arão Litsure, seu amigo e co-fundador do grupo Alambique, em 1984, junto com Hortêncio Langa, Celso Paco, Childo Tomás e Adérito Gomate (este último, natural da Zambézia e músico apaixonado pelo jazz, morreu em 15 de Janeiro, de uma paragem cárdio-respiratória).

Nascido Hortêncio Ernesto Langa, em 23 de Março de 1951, em Manjacaze, província de Gaza, começou cedo a tocar gaita, guitarra de lata e a cantar, como recordam a Rádio Moçambique e a MMO (Moçambique Media Online) no seu obituário. Influenciados por, entre outros, os Beatles, os Rolling Stones, Elvis Presley ou o brasileiro Luiz Gonzaga, conhecido como “Rei do Baião”, Hortêncio e os irmãos mais novos seguiram os caminhos da música: ele nos Rebeldes do Ritmo, Monomotapa, Alambique e TP50; Pedro Langa nos Ghorwane; e Milagre Langa no Grupo RM.

Para Hortêncio, o primeiro grupo surgiu logo aos 12 anos. Depois de se iniciar na guitarra com um seu amigo de infância, José Mucavel, fundou em Chibuto o trio Rebeldes do Ritmo, com outros dois amigos de infância, Wazimbo e Miguel Matsinhe. Durante o cumprimento do serviço militar, em Nampula, fez parte de outras duas bandas. Mas foi em 1979, integrado na banda afro-rock Monomotapa, junto com Arão Litsure, que “conheceu o seu baptismo internacional”, ao viajar a Cuba, Jamaica e Guiana na sequência da visita do então presidente moçambicano Samora Machel (1933-1986) àqueles países.

Nos primeiros anos de independência de Moçambique, nota por sua vez a agência de informação norte-americana VOA, “Hortêncio Langa destacou-se pela participação na trilogia Amanhecer”. E em 1980, num trio formado por ele, por Arão Litsure e João Cabaço, gravou um disco ao vivo no festival de Neubrandenburg, na antiga República Democrática da Alemanha, disco esse que, acrescenta ainda a VOA, “marcou uma era.”

“Personalidade multifacetada”

O jornal moçambicano O País refere que Hortêncio se formou pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, sendo aí também docente de História da Música. Foi ainda professor de trabalhos manuais e de desenho em escolas secundárias. A sua produção musical a solo, inspirada em problemas do quotidiano de Moçambique ou na temática do amor, juntava-se às artes plásticas e à escrita – foi autor dos livros Magoda e Luzes de Encantamento. Hortêncio foi ainda, durante anos, secretário-geral da Associação de Músicos Moçambicanos.

A Televisão de Moçambique (TVM), no apontamento noticioso com que assinalou a morte de Hortêncio Langa, referiu-se-lhe como uma “personalidade multifacetada que colocou a música moçambicana além-fronteiras”, ideia também expressa pelo Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, na sua mensagem de condolências, ao elogiá-lo como um “exímio e talentoso compositor e intérprete de música de vários géneros” e “versando sobre vários temas sociais, políticos, eminentemente educativos, em palcos nacionais e internacionais”. Filipe Nyusi descreveu ainda Hortêncio como um “homem de admirável humildade e trato fácil”, granjeando “simpatia e respeito com o seu público e seus colegas artistas, dentro e fora dos palcos”.

Hortêncio Langa mantinha-se activo na música, não só a solo como também no grupo TP50, do qual foi fundador. Em 2020, gravou um dueto com o jovem cantor e compositor moçambicano Bakhil no tema Moçambique, do qual foi publicado um videoclipe, disponível no YouTube.

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