Profissionais da cultura manifestam-se frente à AR a 21 de Abril

Onze meses depois de terem organizado uma vigília pela cultura, os trabalhadores do sector regressam ao mesmo local. Desta vez, porém, a vigília será um velório: “Sairemos à rua com apenas um caixão. Dentro dele estarão todos os que todos os dias ficam para trás”, escrevem os organizadores.

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A vigília de Maio de 2020 tinha como mote “e se tivéssemos ficado sem cultura?” LUSA/MIGUEL A. LOPES

Onze meses depois de actores, produtores, cenógrafos, técnicos e outros profissionais terem organizado uma vigília frente à Assembleia da República, alertando para os apoios tardios e insuficientes ao sector, a cultura voltará a manifestar-se no mesmo local. Dizendo-se “mais cansados, mais descrentes, mais desconsiderados, mas ainda menos resignados”, os organizadores anunciam nova vigília para dia 21 de Abril, entre as 10h as 17h, marcada por um gesto simbólico forte. A nova vigília será um velório. “Sairemos à rua com apenas um caixão. Dentro dele”, lemos no comunicado enviado à imprensa pelos organizadores, “estarão todos os que todos os dias ficam para trás”.

A iniciativa surge, como argumentado no comunicado, pela constatação de que “a proclamação de que ninguém seja deixado para trás torna-se hoje vazia”. Sentindo-se “deixados ao abandono” pelo Estado, “apesar dos anúncios de milhões, dos apoios que servem sempre menos do que aqueles que excluem e das medidas avulsas que chegam sempre com atraso e desadequação”, os profissionais da cultura deixam uma série de perguntas ao Governo e ao Ministério da Cultura.

Questões específicas — “onde andam os milhões que possibilitariam às Câmaras Municipais programarem no Verão de 2020”?, ou “porque é que as ajudas financeiras ao sector da cultura, que deviam ser apoios universais de garantia de sobrevivência, continuam a vir em forma de concurso à criação artística”? —, juntam-se a um questionamento mais vasto da forma como o sector cultural é percepcionado pelo poder político: “Perguntamos ainda para quando o reconhecimento de que este é um sector vasto, complexo e interdependente, que compreende muito mais do que meia dúzia de nomes sonantes e de eventos de grande dimensão”.

Convocando profissionais da cultura e cidadãos que com eles se solidarizem a juntarem-se ao velório em todo o país (“em frente à estrutura ou edifício que na tua cidade seja o alvo do teu descontentamento”), os organizadores transformam o mote da vigília de Maio de 2020 — “E se tivéssemos ficado sem cultura?” — num outro, que consideram hoje mais realista: “E se ficássemos sem profissionais da cultura?”.

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