Para evitar uma “inundação catastrófica”, a Florida causou um problema ambiental

O risco de colapso de um reservatório em Tampa está a descer à medida que as águas contaminadas com fosfogesso são drenadas para a baía de Tampa, mas com isto crescem os riscos para o ecossistema, avisam os ambientalistas.

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O reservatório de águas residuais foi mal construído e já em 2003 se alertava para o seu perigo DRONE BASE/Reuters

Um reservatório de águas residuais, no estado norte-americano da Florida, que estava sob risco iminente de colapso, ameaçando inundar a cidade de Tampa com mais de 1000 milhões de litros de água contaminada, transformou-se num problema ambiental, devido às águas contaminadas com fosfogesso, subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, libertadas na baía.

A possibilidade de “inundação catastrófica” parece superada e o risco deve diminuir significativamente esta terça-feira, no entanto, os ambientalistas falam em “danos significativos” para o ambiente, em resultado das operações de drenagem para o porto de Manatee, na baía de Tampa, de parte substancial das águas cuja pressão ameaçava destruir o reservatório.

“O nosso objectivo agora é tentar prevenir e responder, se necessário, a uma situação de inundação verdadeiramente catastrófica”, disse o governador da Florida, Ron DeSantis, numa conferência de imprensa no domingo à noite, citado pelo Tampa Bay Times.

O fim-de-semana de Páscoa viu-se ameaçado depois de uma “parte da parede de suporte se ter deslocado lateralmente” na sexta-feira, agravando a deterioração da estrutura do reservatório de uma antiga fábrica de fosfato em Piney Point. O risco iminente de colapso da estrutura levou as autoridades a declararem o “estado de emergência” no sábado.

Como medida de precaução, mais de 300 casas foram evacuadas e muitas das famílias alojadas em hotéis.

Segundo o administrador do condado de Manatee, Scott Hopes, a cidade “ainda não está livre do perigo”, embora as autoridades estejam a contar com a acalmia da situação esta terça-feira.

No local, as equipas tentam colmatar as falhas no revestimento com pedras e outros materiais, ao mesmo que retiram parte das águas residuais de forma controlada para o porto de Manatee através de “uma vala de drenagem”, referiu Hopes, citado pela Reuters.

A estrutura em risco é um de três reservatórios de águas residuais deixados pela antiga fábrica de fosfato de Piney Point, que contêm uma mistura de água do mar e da chuva contaminadas com fosfogesso e nitrogénio – resultantes do fabrico de fertilizantes.

Ainda que estejam assentes numa “pilha de fosfogesso”, que é uma substância monitorizada por causa da sua potencial radioactividade, a Agência de Protecção Ambiental da Florida garante que as águas do reservatório não são “radioactivas” nem “tóxicas”, refere a Associated Press.

Por esta razão, os riscos ambientais estão a ser desvalorizados pelas autoridades, que consideram que “as questões da qualidade da água resultantes desta situação menores quando comparadas com o risco para a saúde e segurança de todos, particularmente das pessoas que podem viver na zona" em caso de colapso da estrutura.

Os ambientalistas, no entanto, alertam para uma “catástrofe ambiental” devido à propagação de algas nocivas que podem vir a afectar a vida aquática na baía de Tampa.

“Esperamos que a contaminação não seja tão grave como tememos, mas estamos a preparar-nos para os danos significativos que possa causar à baía de Tampa e às comunidades que dependem deste precioso recurso”, anunciou em comunicado Justin Bloom, fundador da organização para preservação ambiental Suncoast Waterkeeper, citado pela AP.

Apesar de a água contaminada estar a ser drenada para a baía, as autoridades garantiram à população que a sua principal fonte de água potável, o lago Manatee, não está ameaçado.

"Problemas na instalação"

Os problemas em Piney Point não são de agora. Scott Hopes diz que a situação poderia ter ficado resolvida “há mais de duas décadas”.

Os primeiros indícios da deterioração da estrutura do reservatório remontam a 2003 e já nessa altura a Agência de Protecção Ambiental da Florida autorizara a drenagem de muitos milhões de litros de água para o golfo do México.

Mike Kelley, engenheiro contratado pela HRK Holdings, a actual empresa proprietária de Piney Point, referiu ao Tampa Bay Times “alguns problemas na instalação” do reservatório, falando num “longo historial de problemas relativos ao sistema de revestimento”.

Também os ambientalistas indicam que o problema se tem vindo a arrastar ao longo dos anos, apelando, por isso, às autoridades para que ponham um fim ao uso dos reservatórios para depositar águas residuais. Criticam ainda a falta de controlo relativamente ao fosfogesso libertado no fabrico de fertilizantes.

“Actualmente não existem regulamentos federais, estatais ou locais que exijam que a indústria trate dos resíduos de fosfogesso de uma forma ambientalmente aceitável”, alertou o grupo ambiental Mana-Sota 88​, da Florida, .

Texto editado por António Rodrigues

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