Deixa-me falar-te sobre a Birmânia

“Ainda não conheci um viajante que tenha ido à Birmânia e não tivesse ficado encantado. A mim, entrou-me, genuína, emoções adentro, e bastou-me uma única vez para guardá-la no coração”, escreve a leitora Patrícia Caeiros, que quer contar as histórias das pessoas, num momento de instabilidade no país, porque “é também urgente a nossa voz”

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Bagan Patrícia Caeiros
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Bagan Patrícia Caeiros
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Nascer do sol em Inle Lake Patrícia Caeiros
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Nos campos Patrícia Caeiros
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Pôr do sol, Zwegabin, Hpa-An Patrícia Caeiros

Ainda não conheci um viajante que tenha ido à Birmânia e não tenha ficado encantado. A mim, entrou-me, genuína, emoções adentro, e bastou-me uma única vez para guardá-la no coração.

Todos procuramos a autenticidade da vida, e enquanto indivíduos buscamos momentos que façam a diferença nos dias. Pois a Birmânia oferece isso, muito em virtude de um passado recente debaixo da ditadura militar e fechado à comunidade internacional. Mas em Dezembro de 2019, antes de a covid-19 nos restringir as viagens, fui conhecer o país e sentar-me a ouvir as suas histórias. É que, no fim do dia, são as histórias que fazem crescer a empatia e relacionarmo-nos com os outros sem reservas.

Tenho memórias bonitas desse quase mês, como quando abalei para o Norte e durante as muitas horas de estrada os olhos e os sorrisos além janela voltaram-se repetidamente para estenderem a visão só mais um pouco para quem vinha lá. Ou quando me sentei em nenhures na floresta com o veterinário responsável pelos elefantes semi-selvagens à nossa frente e discutimos antibioterapia e o conceito One health.

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Montanha Taung Wine, Hpa-An Patrícia Caeiros

Ou quando, numa noite em Bagan, me demorei um segundo a mais a escutar a música birmanesa de um grupo à beira da estrada, e logo se juntaram cadeiras e um convite com sorrisos a transbordar que se alongou noite fora. Ou quando, no trekking de Kalaw até Inle Lake, conversei à luz das velas com as estrelas no céu, sobre a política do país, a Constituição de 2008 e a transformação da Birmânia numa democracia.

Podia também falar da comida deliciosa ou das paisagens, e de como os templos de Bagan são cenário à Indiana Jones, ou das subidas às montanhas de Hpa-An, tão bonitas, e de como o pôr do sol no cimo da Zwegabin ficar-me-á para sempre. Ou ainda sobre as pessoas, os sorrisos, e os olhos, só mais uma vez, porque ficam-nos mesmo gravados na memória.

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Patrícia Caeiros

Mas no dia 1 de Fevereiro os militares assaltaram a democracia e, num golpe de Estado, trouxeram a violência de volta à Birmânia. A 11 de Março foi discutido no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas o relatório da violação de direitos humanos que se vive no país, e nós, enquanto viajantes, e parte do mundo, precisamos de criar consciência para o que lá se passa e conversar sobre o assunto.

Fala-se da possibilidade de guerra, de instabilidade da região, e o país precisa da comunidade internacional. Por isso, é também urgente a nossa voz para que os que lutam nas ruas sejam ouvidos, porque todas estas histórias, e todas estas pessoas, fazem parte de nós também.

Patrícia Caeiros

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