Maria Luís Albuquerque faz escudo a Moedas no inquérito ao Novo Banco

Carlos Moedas depõe na próxima terça-feira na comissão de inquérito ao Novo Banco. Ex-ministra das Finanças garante que antigo secretário de Estado não tinha competências em matéria de sector financeiro, apesar de se ter reunido com Ricardo Salgado antes do fim do BES.

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LUSA/TIAGO PETINGA

A ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque tentou esta quinta-feira esvaziar a audição de Carlos Moedas, que vai depor na próxima terça-feira no inquérito ao Novo Banco a pedido do PS, ao garantir que o antigo secretário de Estado e candidato social-democrata à Câmara Municipal de Lisboa não tinha competências no sector financeiro. 

Carlos Moedas era secretário de Estado Adjunto de Pedro Passos Coelho e fazia a ponte entre o Governo e a troika. A ex-governante adiantou aos deputados da comissão parlamentar de inquérito que o ex-secretário de Estado tinha o pelouro do acompanhamento das reformas estruturais do memorando assinado entre Portugal e os credores financeiros. “[Carlos Moedas] tinha uma visão global, com excepção das áreas do Ministério das Finanças que eram as contas públicas e o sector financeiro”, esta última competência partilhada com o Banco de Portugal. 

“Carlos Moedas não tinha competências, quaisquer que fossem, nesta matéria. Nem envolvimento sequer”, disse a ex-ministra, que respondia a questões dos deputados do PSD, que têm mostrado incómodo com o pedido do PS de chamar Carlos Moedas à comissão de inquérito ao Novo Banco

Os socialistas decidiram fazer um novo pedido de audições depois da inquirição de José Honório, antigo administrador do Novo Banco, e que aos deputados falou das reuniões em que acompanhou o líder histórico do BES, Ricardo Salgado, com vários responsáveis políticos à data dos factos que antecederam a resolução do BES. Carlos Moedas é o único a depor presencialmente, sendo também pedidos depoimentos novos por escrito ao ex-Presidente da República Cavaco Silva, ao antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e ao ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso.

“Todos sabiam da exposição do BES ao GES”, disse o socialista João Paulo Correia, quando pediu novas audições, acrescentando que, ainda assim, em Junho de 2014, “depois das reuniões decorreu o aumento de capital de 1000 milhões de euros”. “Não fizeram nada para impedir o aumento de capital que gerou lesados”, disse, lembrando também que houve declarações feitas por estes responsáveis de que a situação do BES era “sólida”.

Carlos Moedas acusou, esta quarta-feira, o PS de estar a usar a comissão de inquérito ao Novo Banco para fins políticos. “Não vou lá como ex-secretário de Estado, mas como candidato à Câmara de Lisboa”, disse numa sessão relacionada com a candidatura a Lisboa, na qual corre contra o socialista Fernando Medina.

Além de tentar proteger Moedas do que os social-democratas vêem como um ataque por causa das eleições autárquicas que se avizinham, a ex-ministra das Finanças negou que os responsáveis políticos na altura tivessem omitido a situação financeira em que o BES estava. “O que nós [o Governo] sempre dissemos é que a informação que obtivemos é de que os problemas não teriam contágio sobre a área financeira”, disse. “A minha actuação foi continuar a acompanhar junto do Banco de Portugal as medidas”, afirmou. Ou seja, “diligenciei” para apurar se os riscos estavam “devidamente acautelados”.

A ex-ministra considerou também que as medidas aplicadas pelo supervisor para proteger o BES e os clientes só foram insuficientes porque houve “desobediência” por parte da administração de Ricardo Salgado.

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