Confinamento potencia radicalização, diz relatório de segurança

Radicais de direita aproximaram-se daqueles que não crêem na perigosidade da pandemia. Jovens estão particularmente expostos a este tipo de influências, diz Relatório Anual de Segurança Interna.

Foto
António Cotrim/Lusa

O confinamento adoptado no âmbito da pandemia de covid-19 potencia a radicalização de algumas pessoas assume-se no Relatório Anual de Segurança Interna de 2020, divulgado esta quarta-feira, que identifica a extrema-direita e os movimentos negacionistas como uma das múltiplas ameaças à segurança interna do país.

O documento explica como o confinamento social imposto pela crise pandémica aumentou o tempo de exposição à Internet, em especial por parte dos jovens, “abrindo um leque de oportunidades para que os movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e de desinformação”. Objectivo? Aumentar as suas bases sociais de apoio, galvanizar os sentimentos anti-sistema e reforçar a radicalização de base xenófoba, “recorrendo a um discurso apelativo da violência e do ódio, num momento em que a sociedade portuguesa é, também, confrontada com fenómenos de polarização ideológica”.

O relatório destaca ainda que “os efeitos do confinamento na saúde mental e no aumento de vulnerabilidades sociais e emocionais, aliados à maior exposição da sociedade portuguesa ao ambiente digital, contribuíram para agravar os factores propícios a processos de radicalização violenta”.

Apesar disso, não houve indícios que justificassem, diz o documento, a alteração do nível de ameaça terrorista em Portugal, sem especificar qual o actual nível na escala que varia entre cinco e um, o mais grave.

Neste contexto pandémico, acrescenta o relatório, “também se aproximaram de movimentos sociais inorgânicos nomeadamente dos grupos negacionistas da pandemia”. Destaque merece também, no que diz respeito à militância de rua, o nascimento de um novo grupo de extrema-direita, intitulado Resistência Nacional, que levou a cabo uma iniciativa junto à sede do SOS Racismo e o caso das ameaças, por correio electrónico, a deputados, militantes antifascistas e activistas anti-racistas a que estará ligado um outro grupo extremista, autodenominado Nova Ordem de Avis. Aliás na criminalidade violenta e grave especifica-se que as participações relativas a “organizações terroristas e terrorismo nacional” aumentaram 60%, passando de cinco para oito. O mesmo não aconteceu com os inquéritos associados a terrorismo internacional, que como foram inferiores a três estão cobertos pelo segredo estatístico.

A esta escalada de tensão entre a extrema-direita e os seus adversários políticos, com recurso a manobras intimidatórias, o relatório acrescenta “os riscos de radicalização violenta online de jovens portugueses que poderão conduzir nos próximos anos ao agravamento da ameaça”, muito embora numa dimensão inexpressiva quando comparada com outros países europeus. Com Mariana Oliveira

Sugerir correcção
Ler 1 comentários