Mal-entendido ou desconvite? Rigo 23 já não é comissário da candidatura do Funchal a Capital Europeia da Cultura

Artista plástico acusa a autarquia de amadorismo e de o querer apenas como adereço. Câmara justifica afastamento com uma visão diferente do papel de comissário.

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Rigo 23 com o autarca Miguel Gouveia DR

Um “desconvite” ou um “mal-entendido”? O artista plástico Rigo 23 já não é comissário da candidatura do Funchal a Capital Europeia de Cultura 2027. A notícia, avançada pelo jornal digital Funchal Notícias, e confirmado pelo PÚBLICO, surgiu um dia depois da autarquia funchalense ter formalizado uma plataforma com os restantes municípios regionais, com o propósito de promover o envolvimento de todo arquipélago nesta candidatura.

“Houve aqui, claramente um desconvite”, afirma Rigo 23 ao PÚBLICO, dizendo que insistiu em vários momentos com a vereadora responsável pela Cultura, Madalena Nunes, e com a chefe de divisão do Turismo e cultura, Sandra Nóbrega, sobre o que entendiam por comissário da candidatura.

“Nunca foram claros. Devolveram-me a pergunta, sobre o papel que teria um comissário”, continua o artista madeirense, com uma vasta obra nos Estados Unidos, que, cinco meses de ter sido convidado pelo presidente da câmara municipal do Funchal, Miguel Silva Gouveia, devolveu a carta, com o convite.

“Não está aqui em causa dinheiro ou protagonismo, como têm vindo a dizer. O que se exige aqui, numa candidatura de uma cidade como o Funchal, é profissionalismo e seriedade”, sublinha Rigo 23, explicando que a decisão foi tomada depois de ter apresentado um projecto comissariado. “O que eu entendo, e o que todos na cultura entendem por comissário, é alguém que é responsável por coordenar a componente cultural do projecto. A câmara queria apenas que fosse embaixador. Usar o meu nome. Uma espécie de adereço”, acrescenta o pintor, muralista e activista político, que tem desenvolvido o trabalho principalmente em São Francisco.

Rigo 23 diz-se honrado pelo convite, que começou por aceitar por “dever cívico”, e que declina agora, por imperativo de consciência. “Nunca me esquivei a intervir na sociedade. O meu trabalho tem sido esse, e o meu dever era aceitar. Mas aos 50 anos, não tenho que lidar com amadorismos.”

A autarquia rejeita que tenha existido um “desconvite” e fala em visões “dissonantes” do papel de comissário. O convite era para assumir um papel de “embaixador”, de “mandatário” junto dos agentes culturais, da sociedade e da União Europeia. “Em nenhum momento a Câmara Municipal do Funchal retirou o convite que havia efectuado a Rigo 23. “O que se verificou foi uma recusa por parte deste em assumir o papel de comissário nas condições que a Câmara propôs”, reagiu em comunicado o gabinete de Miguel Silva Gouveia, o independente, próximo do PS, que lidera a autarquia desde a saída de Paulo Cafôfo para o parlamento regional.

Ao PÚBLICO, a presidência da autarquia, complementa que nunca esteve sobre a mesa uma prestação de serviço ou a coordenação de uma equipa. A mesma fonte, rejeita que Maurício Marques, gestor cultural, que foi colega de lista do actual presidente da câmara, em 2013, na candidatura liderada então por Paulo Cafôfo, tenha sido escolhido para substituir Rigo 23, na coordenação da candidatura. “Maurício Marques será mais um na equipa, não vai ocupar qualquer posição de destaque”, garante a presidência, dizendo que sim, que neste caso haverá lugar a um contrato de prestação de serviços. “Pela sua experiência, trará muito à candidatura e como vai prestar um serviço, é natural que exista um contrato.”

Depois de Lisboa em 1994, o Porto em 2001 e Guimarães (2012), o país volta a organizar a Capital Europeia da Cultura em 2017, em conjunto com uma cidade da Letónia. A decisão da escolha da cidade é feita internamente pelo respectivo país até 2023. Além do Funchal, por Portugal já apresentaram candidaturas as cidades de Coimbra, Braga, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Évora, Aveiro, Guarda e Oeiras.

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