Testar a paciência dos portugueses

Os portugueses devem continuar a fazer a sua parte, mas precisam de acreditar que o Governo está a fazer a sua.

Os portugueses vão ser testados, mas, infelizmente, ainda não na dose prometida pelo programa de testagem em massa, anunciado há mais de um mês pela ministra da Saúde e previsto numa norma actualizada pela Direcção-Geral da Saúde, cujas alterações deveriam ter entrado em vigor três dias depois.

No que os portugueses vão certamente ser testados em massa é na sua capacidade de suportar boas notícias, a manter-se a tendência que os números têm revelado. O país epidémico está hoje como estava em meados de Outubro de 2020, em número de internamentos, mesmo em cuidados intensivos, em vítimas mortais e com um total ainda inferior de novos casos. A continuar a processar-se o desconfinamento dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Governo, não será muito difícil prever que mesmo as metas rigorosas estabelecidas pelo Presidente da República para desconfinar serão em breve atingidas.

Todos nós gostamos de boas notícias, como a de que as vacinas já estão a diminuir os surtos nos lares e, com naturalidade, elas são um convite para retomar a nossa vida dentro da normalidade possível. Mas voltar a Outubro é também recordar que esses números prenunciaram a subida de casos que só terminou no início de Fevereiro e que se hoje sabemos mais do vírus, também é certo que as novas variantes vieram trazer outras incertezas.

Os portugueses devem continuar a fazer a sua parte, mas para que o façam, precisam de acreditar que o Governo está a fazer a sua, muito especialmente que está preparado para continuar a lidar com a pandemia quando os números nos mostrarem que é possível sair de casa. A ameaça não desaparece por decreto e tem de haver estratégia para além do confinamento.

Os atrasos no processo de testagem em massa mostram que o Governo continua a não ser suficientemente expedito em áreas essenciais para lidar com a pandemia. A vacinação continuará dependente do fornecimento das farmacêuticas, mas está na mão do executivo o sucesso da testagem em massa e do seguimento de casos covid – que são afinal as “vacinas que não temos”, recomendadas por todos os especialistas. É nestas frentes e não só na razoabilidade dos planos de desconfinamento que o Governo deve continuar a ser avaliado.

Bem pode Marcelo Rebelo de Sousa deixar no ar a ideia de que o processo de desconfinamento deveria ser ainda mais rigoroso. Ele é suficientemente cauteloso, especialmente na medida em que somos um país com recursos muito limitados, sabendo que a cada dia que passa o confinamento nos torna mais pobres. Se queremos continuar dentro do plano, é bom que cada um faça a sua parte.

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