Vernon Subutex, o rock parisiense dos anos 1990 não sobreviveu até hoje

A minissérie de 2019, adaptação da saga literária homónima de Virginie Despentes, estreou-se na última sexta-feira no Filmin, o serviço de streaming do cinema independente.

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Romain Duris é Vernon Subutex, aqui visto na sua versão dos anos 1990, na minissérie homónima DR

Vernon Subutex é um bicho de outro tempo. Uma criação de Virginie Despentes, é o protagonista da trilogia literária homónima que durou entre 2015 e 2017 e foi adaptada à televisão há dois anos, numa minissérie de nove episódios que chegou agora ao Filmin, o serviço de streaming de cinema independente.

Subutex é um animal dos anos 1990, que tinha nessa altura uma loja de discos de vinil em Paris, a Revolver. Era o epicentro de uma cena musical de rock donde saiu uma enorme estrela pop, o seu amigo Alex Bleach. Quando a série arranca, Subutex, a chegar aos 50 anos sem emprego e a morar por cima da loja agora fechada, é despejado do apartamento e, nessa noite, vai ao concerto de regresso de Bleach a Paris, que tem um desfecho trágico. Sem casa, Subutex é obrigado a andar pela cidade a encontrar novos e velhos amigos em diferentes estágios de evolução, para poder ter onde ficar. Pelo meio, um poderoso produtor de cinema com um segredo e a mercenária que faz os seus trabalhos sujos, a filha de uma estrela pornográfica, entre outras personagens, cruzam-se com a história de Vernon, a quem é dada vida pelo popular actor Romain Duris.

A adaptação foi feita por Cathy Verney, que falou ao telefone com o PÚBLICO sobre a série na última sexta-feira, o mesmo dia em que a série se estreou em Portugal. A realizadora e argumentista, que co-escreveu alguns episódios com Benjamin Dupas, queria “fazer um retrato de uma geração que foi arrastada pelo século XXI, que era jovem no final do século passado e aproveitou e apreciou isso”. “É uma geração que achava que o mundo estava a mudar, mas percebeu que as coisas não melhoraram muito. O Vernon era o herói obscuro de uma geração perdida”, continua.

Para lá do rock'n'roll, diz, esta é “uma série sobre memória, a nossa relação com o passado e sobre amizades que se desfazem e refazem, é universal”. Como o rock'n'roll é importante na vida do protagonista, a banda sonora foi escolhida a dedo. “Tínhamos um grande orçamento para isso. Normalmente em séries não temos, mas aqui eu sempre disse que precisava de muito dinheiro para a banda sonora, é sobre alguém que vende discos, a música é quase como uma personagem, precisamos de ter música muito específica”, elabora. Mesmo assim, ficaram de fora os Nirvana, porque não havia dinheiro suficiente para os pagar. Ouvem-se bandas que vão dos Sham 69 aos Mudhoney, com Karen Dalton, Jonathan Richman, Suicide, Sonic Youth, DEVO ou Butthole Surfers pelo meio.

Além das canções já existentes, também foi criada uma identidade musical para Alex Bleach, o amigo bem sucedido de Vernon. “Era preciso criar esse universo, era um trabalho complicado, tinha de ser uma música que estivesse meio fora de moda, comercial, algo meio vergonhoso para o Vernon”, conta. Era preciso que soasse real. Para recriar os anos 1990, que aparecem em flashbacks, foram à procura de fotografias e documentários. Para o presente, escolheram na sua maioria filmar o protagonista, um actor altamente reconhecível, no meio da rua em Paris, com pessoas. “As pessoas não o reconheciam com barba e cabelo comprido e muito sujo, pudemos fazer isso, andar no meio de pessoas reais e depois pedir-lhes os direitos de imagem”, explica a realizadora. “Queria ter vida, não pô-lo no meio de um ambiente estilizado”, conclui.

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