Como controlar a pegada digital?

A Mine quer ajudar as pessoas a seguir o rasto que deixam online e apagar os dados que não querem na Internet.

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Kacper Pempel/Reuters

Na União Europeia, o Regulamento Geral para a Protecção de Dados (RGPD) permite que alguém possa pedir a uma empresa para revelar e apagar todos os dados que tem sobre si. O problema é identificar as empresas que têm esses dados. Em quantos formulários online colocámos o nosso nome, email, telemóvel? E a informação bancária? 

“Centenas” é a resposta da Mine, uma jovem empresa com sede em Londres que quer ajudar as pessoas a reaver o controlo digital da informação. Foi fundada por uma equipa de antigos profissionais da Unidade 8200, o departamento de cibersegurança do Departamento de Defesa de Israel.

“Queremos ajudar as pessoas a identificar rapidamente as empresas que têm os seus dados e o cuidado que estas empresas têm com a privacidade”, resume ao PÚBLICO o fundador Gal Ringel. 

A informação, diz, está toda na caixa de entrada de cada utilizador. “Por norma, cada interacção online, como comprar algo ou fazer o registo num site, deixa um vestígio na caixa de entrada e é isso que procuramos”, justifica Ringel. “Ensinámos modelos com inteligência artificial a interpretar a informação que está escrita no assunto dos emails para saber a quem é que alguém forneceu dados.”

Com autorização do dono do email, que pode ser revogada a qualquer altura, o sistema da Mine cruza essa informação com as políticas de recolhas de dados que as empresas disponibilizam. No final, tem-se acesso a um catálogo que mostra o tipo de informação que cada empresa recolheu e os cuidados que tem para a manter privada. 

Se o utilizador não estiver satisfeito, pode utilizar a Mine para enviar um pedido de remoção automático. Se o utilizador quiser algo menos formulaico, pode optar por contactar as empresas directamente. Ao todo, a informação reunida pela Mine já resultou em mais de dois milhões de pedidos de remoção. 

“O nosso objectivo não é dizer às pessoas para apagar tudo e viverem sem Internet”, acautela Ringel. “O que queremos é que estejam conscientes do tipo de dados que partilham numa altura em que os ciberataques são cada vez mais comuns.”

De acordo com dados da empresa de segurança RiskBased Security, só na primeira metade de 2020 ciberataques expuseram pelo menos 36 mil milhões de registos electrónicos.  

O cenário agudiza-se quando se percebe que as pessoas partilham cada vez mais dados. Segundo informação dos utilizadores da Mine, na União Europeia, cada pessoa deu os seus dados a cerca de 300 empresas e organizações online.​ O valor aumentou 55% desde o começo da pandemia e em apenas 20% dos casos é que partilhar esses dados era fundamental. 

No futuro, a Mine espera introduzir um modelo de subscrição (entre dois e cinco euros). Até lá, o objectivo é perceber melhor quais as ferramentas que os utilizadores precisam para gerirem os seus dados. 

“Se nos pedirem, nós também apagamos todos os dados que recolhemos dos nossos utilizadores. Respeitamos a lei.”

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