Estudo chinês confirma que campos de reeducação servem para reduzir o número de uigures

O trabalho publicado acidentalmente online mostra que os uigures estão mesmo a ser alvo de perseguição e discriminação por parte do governo chinês, algo que Pequim tem negado.

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População Uigur é perseguida e detida em campos de detenção e reeducação Thomas Peter

Um relatório chinês publicado acidentalmente online confirma que os campos de reeducação para onde o Governo chinês envia os uigures da província de Xinjiang tem por objectivo diminuir a população uigur.

O relatório constitui mais uma prova da perseguição de que a minoria étnica tem sido alvo. O estudo, levado a cabo por académicos da Universidade de Nankai e com o propósito de ser mostrado a altos membros do Governo, acabou online em 2019, tendo sido retirado em 2020. Porém, uma cópia tinha sido entretanto arquivada pelo académico Adrian Zenz. 

O Governo chinês nega as acusações de trabalho forçado em Xinjiang e as transferências de trabalhadores para outras zonas do país, declarando que os programas de educação faziam parte de um programa para diminuir a pobreza e o desemprego crónico rural na província do Noroeste da China. Numa resposta à BBC, Pequim referiu que o estudo “reflecte apenas a visão pessoal dos autores e muito do seu conteúdo não corresponde aos factos”.

Contudo, os dados do relatório de Nakai revelam o contrário: as transferências de uigures para outras regiões são uma medida a longo prazo que “não só reduz a densidade da população uigur em Xinjiang, como é também um método importante para influenciar, dissolver e assimilar as minorias uigures”.

Deixem que gradualmente mudem o seu entendimento e a sua maneira de pensar, e que transformem os seus valores e a atitude perante a vida através de uma mudança de ambiente e através do trabalho”, lê-se no documento.

Ainda assim, é dado ênfase ao facto de os programas serem “voluntários”, mesmo incluindo detalhes contraditórios, como os objectivos de exportação do trabalhador e a necessidade de ter guardas de segurança nas equipas. Também são dadas recomendações para os “programas” serem expandidos para as regiões central e oriental da China.

O estudo também refere que as autoridades foram longe demais na perseguição aos uigures, tendo a demonização da minoria étnica provocado discriminação e estereótipos. Alguns uigures participaram em rebeliões e foram levados para os centros de treino e educação. Contudo, “não se deveria presumir que toda a população uigur é rebelde”. Para os autores do relatório a medida é contraproducente “muito prejudicial para a estabilidade de Xinjiang a longo prazo”.

O relatório inclui outros materiais, nomeadamente uma análise jurídica do antigo consultor do Museu Memória do Holocausto dos Estados Unidos, Erin Farrell Rosenberg, que declara ter encontrado provas que o levam a concluir que os campos de trabalhos de Xinjiang representam crimes contra a humanidade. “Existem provas substanciais de que o Governo chinês está a levar a cabo um ataque extenso e sistemático contra a população civil uigur”, afirma Rosenberg. Inclusive, alguns governos e especialistas em direitos humanos já denunciaram a perseguição aos uigures como genocídio cultural.

O Governo chinês continua a negar as atrocidades de que é acusado, incluindo as detenções arbitrárias de, calcula-se, um milhão de pessoas, a esterilização forçada e a violação de mulheres, a destruição de tradições e locais culturais e religiosos, além da vigilância intensiva. Mais recentemente, foram denunciadas perseguições públicas a mulheres uigures.

No contexto dos direitos humanos, está a ser discutida uma visita à região da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet. Mas Pequim já deixou o alerta de que a ex-Presidente chilena não pode condenar as políticas chinesas.

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