Andrew Cuomo acusado de assédio por uma terceira mulher

Terceira denúncia contra o governador de Nova Iorque motivou o primeiro pedido de demissão por uma figura nacional do Partido Democrata. Anna Ruch, de 33 anos, acusa Cuomo de a ter assediado num casamento.

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O governador de Nova Iorque vai ser alvo de uma investigação independente Carlos Barria

Uma terceira mulher veio a público acusar de assédio sexual o governador do estado norte-americano de Nova Iorque, Andrew Cuomo, motivando o primeiro pedido de demissão na bancada do Partido Democrata no Congresso dos EUA.

Anna Ruch, de 33 anos, disse que foi abordada por Andrew Cuomo no casamento de um casal de amigos, em Setembro de 2019, quando o governador andava pela sala a cumprimentar convidados.

Segundo Ruch, o comportamento impróprio de Cuomo começou assim que ela lhe agradeceu pelas palavras que o governador dedicou ao casal. Cuomo, de 63 anos, aproximou-se dela e pôs-lhe a mão no fundo das costas.

Quando Ruch afastou a mão de Cuomo, o governador disse-lhe que ela estava a ser “agressiva”, pôs-lhe as mãos nos dois lados da face e perguntou-lhe se podia beijá-la.

“Fiquei confusa, chocada e envergonhada”, disse Ruch. “Virei a cabeça e fiquei sem palavras naquele momento.”

A interacção ficou registada numa fotografia tirada com um telemóvel por uma amiga de Ruch.

"Cultura de assédio e bullying"

O testemunho de Anna Ruch é diferente das acusações feitas por Charlotte Bennett e Lindsey Boylan, mas indica que o padrão de comportamento do governador de Nova Iorque na presença de mulheres mais jovens estende-se para lá do ambiente de trabalho.

No domingo, Cuomo publicou um comunicado sobre as acusações de Bennett e Boylan – ambas suas ex-assistentes – e disse que os seus gestos e palavras eram apenas uma tentativa “de acrescentar alguma leveza a um trabalho muito sério”.

“Por vezes, no trabalho, faço piadas que julgo serem engraçadas”, disse o governador de Nova Iorque. “Percebo agora que as minhas interacções têm sido insensíveis ou demasiadamente pessoais, e que alguns dos meus comentários, devido à minha posição, fizeram outras pessoas sentirem-se de uma forma que eu nunca pretendi.”

Questionado pelo New York Times sobre as declarações de Anna Ruch – uma mulher que Andrew Cuomo não conhecia e que abordou fora do ambiente de trabalho –, um porta-voz do governador de Nova Iorque remeteu o jornal para o comunicado de domingo.

A primeira denúncia concreta contra Cuomo surgiu a meio da semana passada, quando Lindsey Boylan acusou o governador de Nova Iorque de a ter beijado contra a sua vontade e de a ter convidado para jogar strip poker a bordo de um avião. 

Durante os dois anos em que trabalhou perto de Cuomo, entre 2016 e 2018, Bennett diz que o governador “criou uma cultura na sua administração em que o assédio sexual e o bullying estão disseminados, sendo não só tolerados como também esperados”.

No sábado, outra ex-assistente de Andrew Cuomo, Charlotte Bennett, de 25 anos, acusou o governador de a ter pressionado com perguntas sobre o que pensava ela de relacionamentos amorosos com homens mais velhos. 

Segundo Bennett, Cuomo tornou-se mais insistente na primeira metade de 2020, depois de ter pedido a sua transferência para o edifício do governo, em Albany.

“Percebi que o governador queria dormir comigo e senti-me horrivelmente desconfortável e com medo”, disse Bennett, apontando para as insistentes perguntas de Cuomo sobre a sua vida sexual e os comentários do governador sobre o facto de se sentir sozinho.

Pedidos de demissão

Nos últimos dias, várias figuras do Partido Democrata vieram a público apoiar a abertura de uma investigação independente às acusações de assédio sexual. 

No Twitter, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez disse que as denúncias de Charlotte Bennett e de Lindsey Bouylan são “extremamente graves e dolorosas”, e o mayor de Nova Iorque, Bill De Blasio, teceu duras críticas a Andrew Cuomo pelas “acusações documentadas e detalhadas de assédio sexual e intimidação”, e também por outro escândalo que está a afectar a sua gestão – a acusação de que o governador mascarou o número de mortes por covid-19 em lares de idosos.

Também no Twitter, a senadora democrata Alessandra Biaggi, do Senado de Nova Iorque, chamou a Andrew Cuomo “um monstro” e disse que o governador “tem de sair já”.

Mas só na noite de segunda-feira, depois da notícia sobre a terceira acusação contra Cuomo, surgiu o primeiro pedido de demissão por parte de uma figura nacional do Partido Democrata. 

A congressista Kathleen Rice, eleita pelo 4.º Distrito Eleitoral de Nova Iorque, partilhou a notícia do New York Times no Twitter e escreveu duas frases: “Chegou a hora. O governador tem de se demitir.”

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