Portugueses já estão a sair mais do que em Janeiro — na quarta-feira só 28% ficaram em casa

Nesta quarta-feira, 72% da população saiu à rua, um valor superior ao verificado em qualquer dia do mês de Janeiro. Dados reunidos pela consultora PSE revelam que portugueses têm vindo a desconfinar de forma ligeira nas últimas três semanas. Tendência já tinha sido mencionada por Marta Temido na reunião no Infarmed.

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Lisboa, Portugal. Portugueses estão a desconfinar de forma ligeira Rui Gaudencio

Os portugueses saíram mais de casa nas primeiras semanas de Fevereiro em comparação com o mês anterior, altura em que o segundo confinamento geral foi decretado pelo Governo. A conclusão é da consultora PSE, especializada em ciências de dados, que destaca que se verificou uma descida consecutiva do confinamento nas últimas três semanas, ainda que esta diminuição seja “ligeira”.

Nesta quarta-feira, por exemplo, 72% da população saiu à rua, o que significa que apenas 28% ficou em casa. “Sendo verdade que o confinamento é mais alto ao fim-de-semana e que a mobilidade é muito menor aos sábados e domingos, nos dias úteis a realidade é totalmente diferente”, diz a consultora em comunicado. O nível 100 representa o valor da mobilidade média dos portugueses entre 1 de Janeiro e 14 de Março de 2020, ou seja antes do primeiro confinamento em Portugal, o que significa que o índice está apenas a menos 28 pontos do nível normal (anterior à pandemia) nos dias úteis. 

É de realçar que o estudo da PSE resulta de uma recolha de dados contínua (24 horas por dia) através da monitorização de localização e meios de deslocação, com recurso a uma aplicação móvel, de um grupo de 3670 pessoas representativas da população portuguesa com mais de 15 anos. Os participantes residem nas regiões do Grande porto, Grande Lisboa, Litoral Norte, Litoral Centro e Distrito de Faro. Segundo a consultora, para um universo de 6.996.113 indivíduos residentes nas regiões estudadas, a margem de erro é de 1,62% para um intervalo de confiança de 95%.

A PSE diz que a tendência de “desconfinamento ligeiro” é clara. “Sendo certo que a mobilidade é sempre superior às sextas-feiras, a tendência é de crescimento, tendo subido dez pontos nos últimos 30 dias”, diz a consultora, que compara estas últimas semanas com a primeira semana depois do fecho das escolas, altura em que a mobilidade foi de cerca de 60%. “Isto quer dizer que, aproximadamente, temos em circulação mais de 70% da população que circulava no período pré-pandemia. Se as medidas adoptadas para o confinamento conseguiram com sucesso uma redução de 40% da mobilidade, actualmente essa redução é já inferior a 30%”.

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Paragem de autocarro em Lisboa, 24 de Fevereiro RUI GAUDENCIO

Segundo confinamento de “menor dimensão"?

A consultora divide o conceito de confinamento em duas partes: o confinamento natural, composto pelas pessoas que habitualmente já estavam em casa e o confinamento adicional, que inclui os cidadãos que antes da pandemia não ficavam em casa, mas que “por força das actuais circunstâncias” tem de ficar em casa. A PSE diz que, para a análise ser mais “rigorosa” só considerou o segundo grupo.

“O confinamento adicional teve, neste segundo confinamento, o pico na semana quatro de 2021 [fim de Janeiro], com 27,2%, valor que comprara com o pico do primeiro confinamento, que foi de 36,5% na Páscoa de 2020. Este valor (os 27,2%) tem vindo sempre a reduzir-se nas últimas semanas, sendo agora, na terceira semana de Fevereiro, de 21,5%. A manter-se a tendência, estaremos perante um confinamento com menor dimensão e com menor duração que o primeiro confinamento de Março e Abril”, lê-se no relatório.

Os dados mostram ainda que as pessoas do género masculino estão a desconfinar mais no mês de Fevereiro, enquanto o sexo feminino está a desconfiar apenas -1% entre a primeira e a terceira semana deste mês.

Na reunião no Infarmed desta segunda-feira, que juntou políticos e especialistas, a ministra da Saúde já tinha alertado para um aumento da mobilidade verificado nos últimos dias, sublinhando o risco que o relaxamento precoce pode ter na evolução da situação pandémica do país.

“Na ultima semana, o índice de mobilidade aumentou ligeiramente, e este é um aspecto que deve suscitar atenção na medida em que sabemos que os valores a que chegamos são valores que resultam de um esforço e se esse esforço se inverter voltaremos a atingir números de incidência e números de risco de transição que não são compatíveis com o que precisámos de garantir”, referiu Marta Temido. “Nada disto está adquirido e tudo depende de cada um de nós e das medidas combinadas. [Deixo] uma nota de preocupação para algum relaxamento sem nenhuma alternação legislativa”.

A ministra reforçou o Governo ainda não tem data prevista para iniciar o desconfinamento. “Este não é o momento de falar de tempos ou de modos, lá chegaremos. Todas as hipóteses neste contexto são hipóteses de cenários que são possíveis”, disse.

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