G7 reforça o papel da OMS na luta contra a covid-19 e Biden e a UE financiam compra de mais vacinas

Numa reunião virtual do G7, o Presidente dos EUA demonstrou o compromisso renovado do seu país com a luta global contra a pandemia, financiando a compra de vacinas para os países mais pobres. A União Europeia vai ao seu encontro.

Foto
Joe Biden leva para o G7 provas de que os EUA estão de volta à luta global contra o novo coronavírus KEVIN LAMARQUE/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, levou para a reunião virtual do grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) desta sexta-feira a promessa de que o seu país está de volta à colaboração global na luta contra a pandemia. Fê-lo com a oferta de um investimento de quatro mil milhões de dólares (3310 milhões de euros) na iniciativa COVAX, através da qual a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras organizações pretendem comprar vacinas para imunizar pelo menos 20% da população mundial.

A União Europeia, que era até agora a principal financiadora deste projecto, levou o G7 virtual a oferta de duplicar o seu apoio – de 500 para mil milhões de euros. A contribuição consiste numa bolsa de 300 milhões de euros mais 200 milhões de euros em garantias do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Sustentável +, que vai dar apoio a um empréstimo do Banco Europeu de Investimento, anunciou a Comissão Europeia.

Com Donald Trump na presidência, os Estados Unidos tinham-se mantido afastados da iniciativa COVAX – que pretende garantir que pelo menos 20% da população mundial, com especial enfoque nos países mais pobres, será imunizada contra o novo coronavírus até ao fim de 2021, comprando pelo menos dois mil milhões de doses de vacinas.

 O Presidente Joe Biden juntou o país a esta iniciativa global, na qual se incluem 191 países, 92 dos quais nações de baixos ou médios rendimentos, que poucas oportunidades terão de aceder a vacinas contra a covid-19 para além da COVAX. Os 3310 milhões de euros do financiamento norte-americano foram já aprovados pelo Congresso dos EUA e serão distribuídos até 2022, especifica a Deutsche Welle.

Mas os países do G7 quiseram tornar claro que a Organização Mundial de Saúde (OMS), tão mal tratada e criticada nos últimos tempos, em especial por causa das guerras geopolíticas entre os Estados Unidos e a China, deve ser o motor da cooperação internacional em termos de saúde.

Licenças voluntárias para vacinas?

O comunicado final da reunião expressa o compromisso do G7 em “trabalhar com, e juntamente com a OMS, para reforçarem e apoiarem a sua liderança e papel de coordenação”, para diversos fins: “Acelerar o desenvolvimento e distribuição global de vacinas; trabalhar com a indústria para aumentar a capacidade de produção, incluindo através de licenças voluntárias” – depreende-se que seja atribuindo a países terceiros a autorização para produzir localmente vacinas contra a covid-19.

Houve uma insistência por parte da UE para que as vacinas fossem referidas como “bens públicos globais”, disse fonte europeia ao PÚBLICO - e isso ficou reflectido no comunicado final.

Foto
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi o anfitrião desta reunião virtual Ian Forsyth/Pool via REUTERS

“Reafirmamos o nosso apoio a todos os pilares do Acelerador ao Acesso a Ferramentas para a Covid-19, ACT-A ”, do qual a COVAX é apenas um deles, com o acesso a medicamentos e a testes de diagnóstico a completarem este tríptico, lê-se no comunicado do G7.

“Convidamos todos os parceiros, incluindo o G20 e instituições financeiras internacionais, a apoiarem o ACT-A, incluindo para aumentar o acesso dos países em desenvolvimento a vacinas aprovadas pela OMS através do mecanismo COVAX”, diz ainda o comunicado.

Estas declarações não têm carácter vinculativo, funcionam pela força do exemplo. Há uma ajuda financeira, como disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado, para “garantir que em breve vão chegar vacinas aos países de baixo e médio rendimento”. Mas os líderes dos países mais ricos querem dar um sinal claro de que “só vamos ficar seguros se o mundo inteiro ficar seguro”, como disse Von der Leyen.

O apoio europeu ao dispositivo COVAX é financiado a partir do orçamento da União, portanto é dinheiro dos contribuintes europeus. A UE fará ainda uma contribuição de 100 milhões de euros de ajuda humanitária a favor da campanha de vacinação no continente africano. Houve uma insistência de Bruxelas para que fosse aumentada a solidariedade com países terceiros, sobretudo no continente africano, no capítulo das vacinas contra a covid-19, soube o PÚBLICO de fonte europeia.

O Reino Unido, que prometeu 766 milhões de dólares (634 milhões de euros) à iniciativa COVAX  e que é o país anfitrião do G7 – a Casa Branca fez saber que Joe Biden estará presente, em pessoa, na reunião marcada para Junho na Cornualha –, é também o país que recebe a próxima Cimeira do Clima. Talvez por isso, o comunicado final deste G7 tem uma forte promessa, no capítulo da recuperação pós-pandemia, “em colocar as nossas ambições sobre as alterações climáticas e reverter as perdas de biodiversidade no centro dos nossos planos”.

Não foram avançadas medidas, mas a União Europeia insistiu na necessidade de uma transição em que as alterações climáticas e o digital contribuam de forma igual para a recuperação económica após a economia - para que sejam consideradas a coluna vertebral da recuperação, soube o PÚBLICO junto de fonte europeia. 

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson mencionou a possibilidade de constituir um tratado global sobre pandemias para garantir a transparência na troca de informações entre os Estados numa situação de crise como a da covid-19. Isto foi acolhido com agrado pela UE, disse fonte europeia, pois o mesmo tem sido defendido, em diversas instâncias, pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e em conversações com a OMS.

Para além da COVAX

Boris Johnson prometeu ainda que o Reino Unido partilhará com nações mais pobres vacinas contra a covid-19 que tiver em excesso e encorajar outros países do G7 a fazer o mesmo. Vários países fizeram já esta promessa, face ao enorme desequilíbrio de doses adquiridas pelos países ricos, e à falta que delas têm os países mais pobres. Mas nenhum até agora concretizou as suas promessas, ou tentou sequer contabilizá-las ou calendarizá-las.

A União Europeia, no entanto, está a trabalhar num mecanismo de partilha de vacinas países da sua vizinhança, os Balcãs Ocidentais e algumas nações africanas, tendo como destinatários prioritários trabalhadores do sector da saúde e necessidades humanitárias prementes, recordou nesta sexta-feira a comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides.

O director-geral da Organização Mundial de Saúde agradeceu os novos compromissos feitos nesta sexta-feira pelos vários parceiros da COVAX. “Há um movimento crescente em torno da igualdade no acesso às vacinas e agradeço aos líderes que estão a avançar para cumprir o desafio de assumir novos compromissos para acabar com esta pandemia partilhando doses de vacinas e aumentando o financiamento à COVAX”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.

As primeiras vacinas distribuídas através da COVAX começarão a chegar aos países beneficiários já este mês. A maior parte será da AstraZeneca – em África serão cerca de 19 milhões, disse a directora-geral da OMS para o continente, Matshidiso Moeti, numa conferência de imprensa virtual na quinta-feira.

Mas o objectivo do CDC África é conseguir que pelo menos 60% da população africana seja vacinada contra a covid-19 ainda este ano – bastante acima dos objectivos mínimos da COVAX. O valor de 60% é considerado o mínimo para haver imunidade de grupo entre a população africana.

Por isso, a União Africana, entretanto, tenta organizar esquemas alternativos para que os países-membros desta organização regional possam comprar vacinas, testes e outro material médico essencial para lutar contra a pandemia, através de uma plataforma apoiada pelo Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank).

Nesta semana, a Rússia adicionou 300 milhões de doses da sua vacina Sputnik a este mercado virtual. Todas as 270 milhões de doses que tinham anteriormente sido colocadas nesta plataforma de aquisição pela AstraZeneca, Pfizer e Johnson&Johnson foram já compradas pelos 55 países da UA, diz um comunicado de imprensa.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários