Casos de covid-19: Portugal passa do pior da Europa a oitavo

O país registou, nos últimos 14 dias, 589 casos por 100 mil habitantes – metade da incidência apresentada há uma semana. Epidemiologista Manuel Carmo Gomes diz ao PÚBLICO que confinamento é a “única explicação” para “decréscimo tão grande”.

Portugal é o oitavo país com maior taxa de incidência de covid-19 na Europa, deixando de surgir em primeiro lugar na tabela do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), como aconteceu nas duas semanas anteriores. 

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Portugal registou, nos últimos 14 dias, uma incidência de 589 casos de covid-19 por 100 mil habitantes, indica o relatório semanal divulgado esta quinta-feira pelo ECDC. Portugal registava, na semana passada, 1212 casos por 100 mil residentes. A média europeia ronda as 305 infecções por 100 mil habitantes.

No topo da lista está Montenegro, com 1167 casos por cada 100 mil habitantes. A República Checa, com 968 infecções por 100 mil residentes, ocupa a segunda posição desta lista, seguida por São Marino (847) e o Mónaco (819). A fechar o top 5 da taxa de incidência a 14 dias está Andorra: o principado registou quase 789 casos por 100 mil habitantes. Segundo o mapa de cores criado pelo ECDC, com excepção da região Norte e do Algarve, Portugal Continental é pintado de vermelho escuro – o grau de risco mais elevado.

Foram ainda conhecidos os dados relativos aos testes realizados nas últimas semanas: de acordo com os números, Portugal reduziu para metade o número de testes feitos à covid-19. As estatísticas recolhidas pela entidade europeia dizem respeito ao período entre a terceira e a sexta semana do ano, período em que o país entrou no segundo confinamento. Nestas três semanas, o número de testes desceu de 450.356 para 217.605. Por cada 100 mil habitantes, o país faz em média 2113 testes.

A França é o país da União Europeia com maior número de rastreios, somando 2.147.335 na sexta semana do ano. Itália, Áustria, Espanha e Alemanha completam a lista dos cinco países com melhor classificação neste indicador. 

Confinamento “é a única explicação” para queda da incidência, diz Carmo Gomes

Para o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, a justificação para a redução da incidência a 14 dias para metade deve-se principalmente às medidas de confinamento impostas pelo Governo, recentemente endurecidas com o encerramento das escolas.

“Não vejo outra explicação. Nós tomámos medidas muito restritas de confinamento a partir do dia 22 [de Janeiro], o Conselho de Ministros foi a 21. A única explicação que vejo para um decréscimo tão grande – mais rápido do que na primeira vaga – foi o facto de as medidas de confinamento serem mais sérias e as pessoas, paralelamente, terem interiorizado as medidas de protecção”, explica o epidemiologista ao PÚBLICO.

Não é “coincidência”, reforça. Uma das principais componentes do R(t) [índice de transmissibilidade do vírus] é o número de contactos que as pessoas têm por unidade de tempo. O que faz o confinamento é reduzir os contactos por unidade de tempo, é esse o objectivo. Isso reflecte-se no R(t) e na propagação de doença. Há uma associação muito forte entre confinamento e redução drástica do número de casos, percebendo até o mecanismo pelo qual isso ocorre. Não é só uma associação por acaso.”

Questionado sobre o número de casos que considera “confortável” para o sistema de saúde, Carmo Gomes aponta para “menos de 1500 por dia” durante um período prolongado, deixando claro que este não é um valor a partir do qual o país pode desconfinar. Antes de se falar disso, diz o especialista, ainda será preciso reduzir substancialmente a pressão nos hospitais: o país conta 3819 pessoas internadas e 688 em unidades de cuidados intensivos

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