Rentabilidade do take away e entregas é “praticamente nula”, diz a AHRESP

Associação que representa as empresas de hotelaria e restauração já propôs ao Governo a criação de um mecanismo único de acesso aos apoios, mas ainda não obteve resposta.

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Secretária-geral da AHRESP, Ana Jacinto, reivindica mais apoios ao sector Daniel Rocha

A secretária-geral da AHRESP, Ana Jacinto, afirmou que a rentabilidade do take away e entregas ao domicílio é “praticamente nula” para restaurantes que aderiram recentemente e uma das razões são as comissões elevadas das plataformas.

Em entrevista à agência Lusa, a responsável da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) defendeu que as empresas “vão trabalhando, porque precisam de trabalhar”, mas quando chegam ao final do mês percebem que “a rentabilidade das vendas é praticamente nula no que diz respeito ao take away e ao delivery [entregas ao domicílio]”.

“No que diz respeito ao delivery e às comissões, que são elevadíssimas e que acabam por não tornar os negócios rentáveis, não é a salvação para nenhuma empresa, mas acabam por ir facturando alguma coisa, para manter os trabalhadores e a rotina de trabalho, para a operação não parar totalmente” afirmou Ana Jacinto.

A secretária-geral da AHRESP disse que, à excepção de empresas que já tinham como ramo de actividade básica o take away ou as entregas ao domicílio (delivery) antes da pandemia, as que aproveitaram estas modalidades para fazer face às restrições impostas para conter a covid-19 “enfrentam várias dificuldades”.

“A primeira é não conhecerem bem essas modalidades quando contratam com as plataformas [de entregas ao domicílio], contratam com o desconhecido, porque a verdade é que, independentemente de o Governo ter intervindo nesta matéria, como sabemos - e bem, porque limitou a comissão - a comissão ainda é elevada, nós estamos a falar de 20%”, explicou.

“Muitos destes negócios não têm margem sequer de 20% para pagar 20% a uma plataforma e, portanto, logo à partida isto é um fracasso”, referiu, apontando que, apesar de ser “alguma coisa que cai na caixa registadora”, trata-se de um valor “extremamente residual e muito insuficiente para a maioria”.

Ana Jacinto considerou, ainda, que a proibição de venda de bebidas em take away é um factor prejudicial ao negócio dos restaurantes, uma vez que leva os consumidores a dirigirem-se a espaços onde podem comprar a comida e a bebida juntas.

Para a AHRESP, a restauração está neste momento dependente da “capacidade que o Governo tenha de, efectivamente injectar dinheiro nas empresas”, para que consigam resistir até ao momento da retoma.

“Nós não temos dúvidas que isso vai acontecer [a retoma da procura] e, se calhar, até com uma intensidade quiçá maior até do que aquela que nós já tivemos no passado. Agora, que empresas é que ficam cá para responder a essa procura?”, questionou Ana Jacinto.

Assim, para a AHRESP é prioritário fazer com que o dinheiro chegue às empresas. “Depois logo veremos que caminhos é que temos de percorrer, como é que vamos percorrer os caminhos, mas agora não podemos criar entraves ao dinheiro entrar nas empresas”, sublinhou.

Desequilíbrio entre medidas sanitárias e económicas

Como já tinha defendido em recente entrevista ao PÚBLICO, a secretária-geral da AHRESP volta a afirmar que não se está a conseguir um equilíbrio “necessário e desejável” entre as medidas sanitárias e as económicas e que os apoios à restauração e hotelaria aparecem de forma “tardia” e “muito complexa”.

“Nós não estamos a conseguir fazer um equilíbrio que é necessário e desejável entre as medidas sanitárias e as medidas económicas, tão simples quanto isto”, considerou a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), na entrevista à Lusa.

Ana Jacinto considerou que os apoios às empresas da restauração e do alojamento turístico “aparecem de forma tardia” e “de forma muito complexa”, tendo em conta um tecido empresarial composto, em grande parte, por microempresas.

“As empresas têm tido muita dificuldade em perceber a que tipo de apoios podem recorrer, como é que podem recorrer, se são elegíveis ou se não são elegíveis”, salientou a responsável da associação, destacando “dois grandes problemas”, que são a “insuficiência dos apoios” aliada à “complexidade” dos processos.

Ana Jacinto apontou que as medidas de apoio, além de demorarem “muito tempo a ser estruturadas e disponibilizadas”, quando ficam prontas “são tantos os entraves” que acabam por deixar de parte “a maior parte dos empresários”.

Relativamente ao tempo que as empresas demoram a receber os apoios, a AHRESP disse que, no caso do lay-off simplificado e dos apoios do Turismo de Portugal, os pagamentos têm estado a ser feitos com “alguma celeridade”, porém, o mesmo não acontece com outros programas.

“Tenho situações de empresas, por exemplo, que recorreram ao incentivo extraordinário na modalidade dos dois salários e ainda não receberam a segunda prestação. E estamos a falar de um apoio do ano passado”, explicou a secretária-geral da AHRESP.

“Entretanto têm os salários que têm de ser pagos aos colaboradores, têm esse custo que tem de ser pago, tudo tem de ser pago, mas, no momento certo, os apoios não vêm com a celeridade que deviam vir”, sublinhou, enfatizando que há muitos empresários que estão “com a corda na garganta, sempre a ver quando é que conseguem aguentar mais um dia”.

Neste sentido, a AHRESP já propôs ao Governo a criação de um mecanismo único de acesso aos apoios, por forma a facilitar o processo, mas, até à data, não obteve resposta.

“Os empresários não têm capacidade de andar a recorrer a cada um destes mecanismos em sítios diferentes, com condições diferentes, com condições de elegibilidade diferentes e, muitas vezes, sem saberem se é melhor um ou se é melhor outro”, afirmou Ana Jacinto.

A AHRESP alertou, ainda, para a necessidade de intensificar e reforçar as linhas de apoio, lembrando que o Apoiar.pt e o Apoiar a Restauração já esgotaram a sua dotação e, portanto, já não estão acessíveis a mais empresários.

“Estes apoios foram anunciados em Dezembro, numa conjuntura em que as empresas estavam a laborar, com quebras de receitas, mas estavam a laborar. Entretanto, nós entrámos num período de confinamento que não se sabia, na data do dia 10 de Dezembro, portanto, obviamente que agora os apoios têm de ser reforçados”, defendeu.

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