A incerta meta autárquica

A oposição também precisa de metas, mas, para já, quer empurrar para a frente a das autárquicas.

O Presidente da República traçou na quinta-feira uma meta: “Temos, até à Páscoa, de descer os infectados para menos de 2000, para que os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de 5000 e mais de 800, agora, para perto de um quarto desses valores. E descer também a propagação do vírus para números europeus.”

Os “números europeus” dizem-nos que somos hoje os piores, com cerca de 1190 casos assinalados por 100 mil habitantes, bem longe da média europeia de 358 casos. Até à Páscoa são 51 dias, a somar aos mais de 20 de confinamento duro que já levamos. Muito tempo em tempos difíceis, mas, olhando para as tendências recentes, a meta presidencial parece desafio bem alcançável.

Já há uma das metas enunciadas pelo primeiro-ministro, e reafirmada no mesmo dia, de ter 70% por cento da população vacinada em Setembro parece fixada num horizonte mais incerto, quando, como António Costa admitiu, o fornecimento das farmacêuticas à União Europeia leva a ter “cerca de metade” das vacinas previstas para esta altura.

Todos estamos a precisar urgentemente de metas e, numa altura em que o discurso político parece mais assertivo, era importante que o Governo fixasse objectivos bem mais claros em áreas como os testes, o rastreamento de contactos ou o regresso faseado às aulas. Evitar fazê-lo, para não poder ser julgado pelo seu cumprimento, é perder capacidade de mobilização e mostrar falta de ambição.

A oposição também precisa de metas. Suspensa pelo estado de emergência, com o Presidente a afastar qualquer hipótese de crise política, as eleições autárquicas e o Orçamento para 2022 perfilam-se como duas das mais evidentes. Mas, para já, Rui Rio quer empurrar mais para a frente a meta das autárquicas, embora o PS feche a porta a uma mudança.

É correcto defender que uma campanha para eleições autárquicas, pela necessidade de proximidade, tem exigências diferentes da das presidenciais e precisa da pandemia bem controlada para decorrer da melhor forma. Mas esta hipótese do adiamento não pode também deixar de ser olhada como uma tentativa de alinhar a meta autárquica com a discussão e aprovação do Orçamento, um momento que, após mais um ano de pandemia, não será nada fácil para o Governo.

Com tantas metas pela frente para vencer, sem ainda sabermos como vamos estar em Abril, em Setembro, quanto mais em Novembro, a discussão em torno da meta das autárquicas, e do destino da oposição, pode mesmo esperar mais um bocadinho.

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