Presidente confirma confinamento “Março fora”. E sublinha que não quer crises políticas

Marcelo insiste que quer plano de desconfinamento, mas aponta para depois da Páscoa. E por várias vezes recusa cenários de Governo de salvação nacional.

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Marcelo falou ao país a propósito do 11º estado de emergência LUSA/MIGUEL FIGUEIREDO LOPES/PR

O Presidente da República confirmou, numa declaração ao país, a mensagem do primeiro-ministro de que o confinamento está a dar resultados, embora tenha de durar “Março fora”, para não dar sinais errados em relação à Páscoa. Mas acrescentou que tudo terá de acontecer “sem crises políticas” ou apelos a “governos de salvação nacional”. “Não se conte comigo para dar o mínimo eco a cenários de crises políticas ou eleitorais”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois de ter sido aprovado no Parlamento o decreto de renovação do estado de emergência, em cujo preâmbulo o chefe de Estado pedia ao Governo planos para desconfinamento e para o regresso às aulas presenciais, o primeiro-ministro fez, ao fim da tarde, uma declaração na qual dizia ser “prematuro” pensar em desconfinamentos, mesmo que apenas nos seus moldes. A seguir reuniu-se com o Presidente da República. Quando Marcelo falou ao país, concordou, no essencial, com o primeiro-ministro, mas insistiu na exigência de planos e acrescentou uma mensagem política de destinatário incerto.

No caderno de encargos que Portugal tem de assumir, a primeira palavra do chefe de Estado foi para concordar com o que primeiro-ministro dissera cerca de uma hora antes: “Temos de manter o estado de emergência e o confinamento como os actuais por mais 15 dias, e, apontar para prosseguir, Março fora, no mesmo caminho, para não dar sinais errados para a Páscoa”. 

A segunda palavra foi para definir patamares mínimos para o desconfinamento, colocando números como objectivo: “Temos, até à Páscoa, de descer os infectados para menos de dois mil, para que os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de cinco mil e mais de oitocentos, agora, para perto de um quarto desses valores. E descer, também, a propagação do vírus para números europeus”. Terá de ser uma “estabilização esta sustentada, duradoura, sem altos e baixos”, para não correr o risco de ser “mais um desconfinamento entre duas vagas”.

A terceira palavra foi directamente para a gestão da pandemia a cargo do Governo: “Temos de melhorar o rastreio de contaminados, com mais testes e, sobretudo, com mais operacionais, e ter presente o desafio constante da vacinação possível”. São essas, disse, “as peças-chave para um desconfinamento bem sucedido”.

Se no decreto pedia um plano para o desconfinamento, agora explicita o que deve estar nesse plano. E insiste no pedido de apoios às vítimas no plano económico e social da pandemia: “Temos de continuar a apoiar, e apoiar depressa, os que, na economia e na sociedade, sofrem com estas semanas de sacrifício”.

“Tudo sem crises políticas”, afirmou. “Tudo sem cenários de governos de unidade ou salvação nacional. Não se conte comigo para dar o mínimo eco a cenários de crises políticas ou eleitorais. Já nos bastam a crise da saúde e a crise económica e social”, insistiu.

Já antes tinha dito que, nestas duas últimas semanas, “os portugueses ficaram a saber o que o bom senso já aconselhava – provocar, nesta altura, crises políticas, com cenários de governos à margem dos partidos, de resultado indesejável – em tempo perdido, em terceiras eleições no Verão e nada de novo no horizonte – não servia para outra coisa senão para agravar a pandemia, nunca para a abreviar”.

É esse o mandato que diz ter dos portugueses: “Vencer as crises, mesmo as mais graves. Não provocar as crises, mesmo as mais sedutoras. E, contar, sempre, mas sempre, com os portugueses!” E foi a esse mandato que se referiu no discurso da noite das eleições presidenciais, quando disse ter percebido que o voto dos portugueses não era “um cheque em branco” e que sabia o que significava.

O que os portugueses compreenderam

Marcelo começou a sua declaração afirmando que as duas últimas semanas foram “difíceis”, mas “terminaram melhor do que haviam começado”. “Começaram com números de infecções e de mortos dos piores da Europa e dos piores do mundo, pressão elevadíssima nas estruturas da saúde, notícias de favoritismos no desvio de vacinas, sentimentos divididos quanto a apoios europeus, e, nalgumas vozes da opinião política, acenos a Governos de salvação nacional”.

Mas ao longo dos dias, diz que foi possível “esclarecer o que parecia incompreensível, decidir o que o que não podia esperar, trazer razão onde reinava a emoção, compreender o que estava a mudar”.

Não concretizou, mas acrescentou que “os portugueses compreenderam” várias coisas. Que “os apoios europeus eram simbólicos”, que “há atrasos na produção e no fornecimento de vacinas na Europa” e que isso vai obrigar Portugal a “vacinar mais e mais depressa” a partir de Abril. E que “os responsáveis pelos favoritismos no desvio de vacinas iam ser exemplarmente punidos”.

A substituição do coordenador do Plano Nacional de Vacinação por um militar, defendida por Marcelo, mereceu também uma referência no discurso: “Os portugueses compreenderam que sublinhar a essencial ajuda das nossas Forças Armadas – presentes desde Março de 2020 – a pessoal da saúde e autarcas – é um trunfo no processo de vacinação.

Mas compreenderam também aquilo que considerou “o mais importante”: é possível descer o número de infectados por dia “de mais de 15 mil ou 16 mil para entre dois e sete mil” e isso – a manter-se – “podia, dentro de semanas, um mês, mês e meio, reduzir a enorme pressão sobre as estruturas de saúde”.

Foi também aos portugueses que dedicou as últimas palavras, para “agradecer o “confinamento global”, apelar a “mais resistência ainda no futuro próximo” e “para dar esperança, porque sem esperança o dia-a-dia de sacrifício perde sentido”.

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