Desastres naturais causaram prejuízos superiores a 49 milhões de euros em Portugal em 2020

Em termos mundiais, em 2020 a economia sofreu prejuízos de cerca de 221 mil milhões de euros devido a catástrofes naturais, dos quais apenas 79 mil milhões de euros foram cobertos por seguros.

ciencia,meteorologia,ambiente,clima,catastrofes-naturais,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Depressão Bárbara causa estragos em Setúbal,Depressão Bárbara causa estragos em Setúbal RUI MINDERICO/LUSA,RUI MINDERICO/LUSA
ciencia,meteorologia,ambiente,clima,catastrofes-naturais,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Estragos provocados pelo temporal na Madeira HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Em 2020 registaram-se em Portugal alguns desastres naturais que tiveram um forte impacto económico. A tempestade Bárbara foi um deles, tendo causado prejuízos de mais de 70 milhões de dólares (cerca de 57 milhões de euros) para Portugal, Espanha e França. Já a chuva forte e consequentes inundações que ocorreram a 25 de Dezembro na Madeira causaram perdas superiores a 36 milhões de dólares (cerca de 29 milhões de euros), enquanto a tempestade subtropical Alpha, a tempestade atlântica mais oriental alguma vez registada e a primeira a atingir terra em Portugal, no dia 18 de Setembro de 2020, matou uma pessoa e deixou estragos no valor de 25 milhões de dólares (cerca de 20 milhões de euros), de acordo com um estudo intitulado Weather, Climate & Catastrophe Insight, desenvolvido anualmente pela Aon, uma gestora de risco e corretora de seguros, com sede em Chicago (EUA), divulgado esta quinta-feira.

As perdas económicas causadas pelos desastres naturais mencionados que atingiram território português totalizam pelo menos 49 milhões de euros, aos quais se somam os prejuízos que a tempestade Bárbara causou apenas em Portugal (um valor que não consta do relatório).

Além da pandemia de covid-19 que assolou o mundo no ano passado, 2020 foi um ano marcado por um número de catástrofes naturais acima da média, com grande impacto em termos humanitários e financeiros. Para Anabela Araújo, directora de sinistros da Aon Portugal, “o ano de 2020 foi mais uma prova das consequências das alterações climáticas e do impacto que os diferentes fenómenos naturais têm ao nível dos prejuízos económicos que, na maioria dos casos, não estão totalmente cobertos pelas apólices de seguro”, refere em comunicado.

Prejuízos de mais de 220 mil milhões de euros em todo o mundo

O estudo revela ainda que, a nível europeu, a tempestade Ciara, que ocorreu em Fevereiro, foi a catástrofe natural que gerou maiores perdas económicas, tendo resultado em prejuízos de dois mil milhões de dólares (cerca de 1,6 mil milhões de euros).

Em termos mundiais, no ano passado a economia sofreu prejuízos de 268 mil milhões de dólares (cerca de 221 mil milhões de euros) devido a catástrofes naturais — mais 21 mil milhões de dólares (aproximadamente 17 mil milhões de euros) do que em 2019. Do valor total de prejuízos, apenas 97 mil milhões de dólares (cerca de 79 mil milhões de euros) foram cobertos por seguros (de seguradoras privadas ou programas de seguro comparticipados pelos governos), o que significa que aproximadamente 64% das perdas não foram cobertas por apólices de seguros (a quarta percentagem mais baixa desde que há registo).

Desastres naturais provocaram mais de oito mil mortes em 2020

De acordo com o relatório, foi registado um total de 416 episódios de catástrofes naturais a nível global no ano passado — que representaram perdas económicas 8% superiores à média anual de prejuízos (de cerca de 201 mil milhões de euros) obtidos neste século.

Para o total de perdas económicas a nível mundial contribuíram, sobretudo, fenómenos naturais como ciclones tropicais (que causaram perdas directas de cerca de 64 mil milhões de euros), cheias (que resultaram em prejuízos de cerca de 62 mil milhões de euros) e tempestades causadas por massas de ar (com perdas de cerca de 51 mil milhões de euros). Importa ainda ressalvar que estes desastres naturais provocaram mais de oito mil mortes, sendo que o desastre que provocou mais vítimas mortais (1922) no ano passado foram as monções na Índia.

Em termos globais, o episódio que teve maior impacto económico foram as inundações sazonais ocorridas na China, entre Junho e Setembro de 2020, que resultaram num total de prejuízos na ordem dos 35 mil milhões de dólares (cerca de 28 mil milhões de euros) e provocaram 280 mortes. Segue-se o furacão Laura, que afectou os Estados Unidos e as Caraíbas e causou um prejuízo de 18,2 mil milhões de dólares (cerca de 14 mil milhões de euros) e 68 mortes, e o ciclone Amphan, no Sul da Ásia, que resultou em perdas económicas de 15 mil milhões de dólares (perto de 12 mil milhões de euros) e 133 mortes.

"Probabilidade crescente de ocorrerem fenómenos extremos"

No que diz respeito aos fenómenos climáticos, o estudo destaca que 2020 foi o ano em que foi atingida a temperatura mais elevada de sempre acima do Círculo Polar Árctico, com os termómetros a chegarem aos 38 graus Celsius em Verkhoyansk, na Rússia. Além disso, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos citados, 2020 foi o segundo ano mais quente desde 1880, tendo a temperatura dos oceanos subido 0,98ºC. O relatório revela ainda que 30% da área do Pantanal, na América do Sul, foi consumida pelos incêndios florestais.

Greg Case, director executivo da Aon, defende, em comunicado, que “a resposta global à volatilidade socioeconómica causada pela pandemia de covid-19 gerou uma maior atenção sobre alguns riscos sistémicos – especialmente as mudanças climáticas –, facto que está a causar uma importante reorganização das prioridades dos negócios”.

As conclusões do relatório, segundo Greg Case, demonstram “a probabilidade crescente de ocorrerem fenómenos extremos conectados entre si”. “2020 veio realçar que, num mundo altamente volátil, o risco está sempre presente, mais conectado e, como resultado disso, torna-se mais grave. Ao mesmo tempo, o último ano enfatizou a necessidade de haver uma maior colaboração entre os sectores público e privado, cenário essencial para reduzir os níveis de protection gap [perdas que não são cobertas por apólices de seguros] e construir a resiliência contra catástrofes naturais”, acrescenta.

Sugerir correcção
Comentar