Dezenas de milhares de pessoas marcham na Birmânia contra os militares, nos maiores protestos desde 2007

Contestação ao golpe ganha força e não se via tanta gente em manifestações desde 2007, quando os monges budistas organizaram grandes protestos contra a Junta militar. Internet foi restabelecida após corte de 24 horas.

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Milhares de pessoas marcharam nas ruas de Rangum, maior cidade da Birmânia Reuters
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Manifestantes exigem libertação de Aung San Suu Kyi LYNN BO BO/EPA
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Pelo segundo dia consecutivo, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas da Birmânia para contestar o golpe militar da semana passada e exigir respeito pelo resultado das eleições legislativas de Novembro, vencidas com maioria absoluta pela Liga Nacional para a Democracia (NLD) de Aung San Suu Kyi, mas consideradas fraudulentas pelo Exército, que por isso decidiu derrubar o Governo e prender os principais líderes políticos e civis.

“Não queremos ditadura militar, queremos democracia”, gritaram os manifestantes em Rangum, a maior cidade do país, onde, segundo a Reuters, participaram mais de 60 mil pessoas nas manifestações deste domingo, consideradas as maiores desde a “Revolução de Açafrão” de 2007, promovida por monges budistas que iniciaram uma vaga de protestos contra o aumento do preço dos transportes e combustíveis que se transformou numa contestação generalizada à Junta militar

“Não queremos uma ditadura para a próxima geração”, disse Thaw Zin, um manifestante de 21 anos. “Não vamos terminar esta revolução até fazermos história. Vamos lutar até ao fim”, garantiu.

Depois de um corte de 24 horas que se revelou ineficaz, a Internet foi restabelecida na Birmânia este domingo, apesar de o acesso a algumas redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, continuar limitado, diz a BBC. 

Além dos protestos em Rangum, onde a cor vermelha da NLD voltou a ser dominante nas roupas dos manifestantes, nos laços na lapela ou nos balões espalhados pelas ruas, registaram-se manifestações de menor dimensão na capital Naypyidaw e em Mandalay, a segunda maior cidade birmanesa.

A polícia, equipada com escudos antimotim, montou barricadas e fechou várias ruas em Rangum enquanto os manifestantes marchavam rumo ao pagode Sule, no centro da cidade, um local simbólico que foi palco dos grandes protestos de 2007 e de 1988, quando se estima que tenham sido massacrados centenas ou até milhares de manifestantes.

Apesar do forte aparato policial, as autoridades não recorreram à violência para dispersar manifestantes, que cantavam músicas de apoio a Suu Kyi e faziam a saudação dos três dedos, um dos símbolos de contestação aos militares, inspirado nos movimentos pró-democracia na vizinha Tailândia. Segundo a Reuters, alguns manifestantes entregaram flores aos polícias.

Até agora, os militares, chefiados por Ming Aung Hlaing, que assumiu o poder e declarou um estado de emergência de um ano, ainda não se pronunciaram sobre a vaga de protestos e estão a hesitar em reprimir os manifestantes, numa altura em que a pressão internacional tem vindo a aumentar.

O Papa Francisco juntou-se ao coro de vozes internacionais que pedem o respeito pela democracia na Birmânia. Durante a mensagem do Angelus deste domingo, expressou a sua preocupação e manifestou solidariedade ao povo birmanês, pediu o regresso a uma “convivência democrática harmoniosa”.

Em 2017, o Papa Francisco visitou o Bangladesh e a Birmânia, país em a esmagadora maioria dos seus 53 milhões de de habitantes é budista e apenas cerca de 800 mil são católicos, tendo-se encontrado com o general Ming Aung Hlaing, a quem manifestou a sua preocupação com o tratamento da minoria muçulmana rohingya às mãos do Exército.

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