Porque detesto o Monopólio

O jogo é dado a conflitos, totalmente baseados em factores aleatórios, gerando imensa frustração. Por outro lado, é incrivelmente longo e os jogadores vão sendo eliminados, ficando a assistir até ao fim sem nada poderem fazer.

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O famoso jogo de tabuleiro Monopólio foi o jogo que mais joguei na minha infância, tendo memórias de horas intermináveis a jogar com amigos e vizinhos. Memórias de jogar igualmente em família, mas também das tentativas de fazer algumas versões alternativas do jogo. No entanto, hoje, depois de ter jogado mais de um milhar de jogos de tabuleiro diferentes, detesto o jogo. O Monopólio tem um importante papel na história dos jogos e até nas actividades de entretenimento sociais, mas não é para mim uma opção para levar à mesa.

No entanto, quando olho para trás, para os anos 80 e 90, fico a pensar como seria se tivesse acesso aos outros jogos de tabuleiro. Nem imaginava que pudessem existir. Irrita-me tanto não os ter conhecido! Poderia ter usado todo aquele tempo e companhia para explorar jogos que ainda hoje se demarcam pelo design e pelas experiências únicas que proporcionam. Isto porque os jogos de tabuleiro não são todos iguais.

Mas talvez o Monopólio me irrite ainda mais como jogador de jogos de tabuleiro de hobby, conhecidos também como jogos de tabuleiro modernos. Como aficionado deste tipo de jogos, sou levado a convidar pessoas para os experimentar, pois é a jogar com mais pessoas que eles mais brilham, independentemente de alguns deles proporcionaram boas experiências a solo. Todos os apaixonados pelos novos jogos já tentaram, em algum momento, convidar amigos e familiares para entrar neste novo mundo. E pode ser difícil ultrapassar as primeiras associações que se fazem, quando estamos a tentar cativar novatos. A pergunta típica é: “Isso é tipo o Monopólio?”. Parecendo que não, dificulta o processo de sedução.

Apesar de muitas pessoas terem boas memórias associadas ao Monopólio, e de ser um dos mais vendidos, raramente é o jogo mais jogado. A tendência é ficar abandonado na prateleira ou ir à mesa uma vez por ano para fazer uma partida que nunca se termina. E há bons motivos para isso. O jogo é dado a conflitos entre os jogadores, totalmente baseados em factores aleatórios, gerando imensa frustração. Por outro lado, é incrivelmente longo e os jogadores vão sendo eliminados, ficando a assistir até ao fim sem nada poderem fazer. Por outro lado, os jogos de tabuleiro modernos há muito tempo que proporcionam opções onde nada disto acontece. São esses jogos que os jogadores de hobby jogam, coisas que tanto podem ser simples e pensadas para crianças, tal como complexos, duros e pesados para adultos. Há opões para todas e todos, seja para que situação ou contexto for.

Sabemos que a indústria dos jogos de tabuleiro está a crescer e que os jogos de hobby muito contribuíram para isso. As pessoas procuram estes jogos porque lhes proporcionam experiências não digitais tão interessantes que justificam desligar os ecrãs. Mas depois, quando acedemos a reportagens e artigos a abordar o fenómeno nos principais media, o desalento é quase total. Inevitavelmente, passa a mensagem de que andamos todos novamente a jogar Monopólio. A pandemia levou muitas famílias e procurar alternativas de actividades para fazer em casa. Obviamente que cada pessoa irá jogar o que conhece, e claro que esse é o jogo mais conhecido. Mas não é um design de um jogo com 90 anos que fez alavancar e inovar numa indústria que se pensava caminhar para uma morte lenta com o advento dos jogos digitais.

Por fim, esta irritação acaba por ser uma brincadeira. Na realidade não detesto jogo e defenderei a liberdade de cada um jogar o que quiser. É apenas uma forma de chamar a atenção e fazer umas piadolas, uns memes e de chamar a atenção para o facto de existirem milhares de jogos novos potencialmente muito melhores, que proporcionam experiências que a maioria das pessoas nem imagina serem possíveis de ocorrer num jogo de tabuleiro.

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