Facebook acusa Apple de “alegações enganosas” sobre privacidade

Na semana em que ambas apresentaram bons resultados, as empresas mostraram que têm visões opostas sobre a privacidade.

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A Apple reportou receitas recorde no último trimestre EPA/JUSTIN LANE

O Facebook acusou a Apple de enganar os utilizadores sobre a privacidade dos seus serviços numa semana em que a Apple bateu recordes de receitas — pela primeira vez, a fabricante do iPhone reportou mais de 100 mil milhões de dólares de receitas num só semestre.

Só que para Mark Zuckerberg (dono do Facebook), o sucesso do serviço de mensagens da Apple, o iMessage, vem de “alegações sobre privacidade que são frequentemente enganosas” e a marca “vai prejudicar pequenos negócios” com as novas regras sobre rastreio de publicidade. Tim Cook, presidente executivo da Apple, rebate: “Se uma empresa é criada com base em enganar utilizadores e em abusar de dados [...] não merece os nossos elogios”, aludindo às várias falhas na privacidade do Facebook ao longo dos anos. 

A troca de criticas, que ocorreu esta semana, começou na quarta-feira durante a apresentação de resultados do Facebook. A dona da rede social e dos serviços de mensagens WhatsApp e Messenger, que reportou uma receita de 28 mil milhões de dólares (cerca de 23 mil milhões de euros) entre Outubro e Dezembro de 2020, define a Apple como uma das maiores rivais nos serviços de mensagens online.

Zuckerberg vê Apple como maior rival

“A Apple é uma das nossas maiores competidoras”, afirmou Mark Zuckerberg, numa chamada com investidores sobre os resultados. Para o presidente executivo do Facebook, o facto de o iMessage vir  “pré-instalado em todos os iPhones, com APIs e permissões privadas” leva a que seja um dos serviços de mensagens mais utilizados nos Estados Unidos. 

“O iMessage guarda cópias de segurança de mensagens encriptadas por defeito a não ser que se desactive o iCloud [serviço de armazenamento na nuvem da Apple]”, argumentou na quarta-feira. 

Zuckerberg acrescenta que obrigar aplicações na App Store (a loja online da Apple) a listar os dados que recolhem dos utilizadores é injusto e favorece a aplicação de mensagens da Apple que vem pré-instalada no iPhone e no iPad que, por isso, não têm de partilhar esses dados. 

As novas funcionalidades de privacidade da Apple — conhecidas por ATT, App Tracking Transparecy — também são acusadas de prejudicar pequenos empreendedores. “[E com o ATT] muitas pequenas empresas não vão poder chegar aos consumidores através de anúncios direccionados”, reforça Zuckerberg-

 

Em Junho, a Apple anunciou funcionalidades de transparência para apps (ATT na sigla inglesa) que obrigam às aplicações que as pessoas instalam no iPhone a pedir autorização para obter dados do utilizador. Ou seja, as apps só podem usar cookies de terceiros (também chamados de rastreadores) para aceder aos hábitos de pesquisa dos utilizadores se estes autorizarem.

O Facebook está contra a estratégia. Em Dezembro, o vice-presidente de publicidade do Facebook, Dan Levy, já tinha criticado a política por se “focar nos lucros” em vez da privacidade.

Apple responde

Menos de 24 horas após as acusações de Zuckerberg, a Apple respondeu.

“E quais as consequências de dar prioridade a teorias da conspiração e incitação da violência simplesmente porque trazem mais interacções [online]?”, questionou Tim Cook, na quinta-feira, aludindo ao Facebook. “Quais as consequências de ver milhares de utilizadores a juntar grupos extremistas e perpetuar um algoritmo que recomenda mais?”

Em 2018, o Facebook admitiu que as páginas mais populares tinham direito a excepções quando partilham conteúdo problemático.

Cook lembrou o problema durante a conferência Computadores, Privacidade e Protecção de Dados que ocorreu na quinta-feira por data do Dia da Protecção de Dados, um evento internacional que ocorre anualmente a 28 de Janeiro. No dia anterior a Apple tinha reportado lucros de 111,4 mil milhões de dólares (91,83 mil milhões de euros) para o primeiro trimestre fiscal de 2021. 

Para o presidente executivo da Apple, a funcionalidade ATT é um passo na direcção correcta. 

“Os utilizadores têm pedido esta funcionalidade”, defendeu. “Muitos apreciaram quando construímos uma funcionalidade semelhante no Safari [navegador de Internet da Apple] para limitar rastreadores online.”

Em Setembro de 2017, porém, vários publicitários criticaram as mudanças ao Safari notando que dificultavam a criação de publicidade personalizada, tornando-a “genérica e menos útil”.

Nos últimos anos a privacidade tornou-se uma prioridade de várias tecnológicas. Esta semana, a Google também anunciou novas ferramentas para proteger a privacidade dos utilizadores. A estratégia da empresa chama-se FLoC (sigla inglesa para Federated Learning of Cohorts, que alude a um bando de aves ou a um rebanho) e aglomera pessoas online em grupos com base em hábitos de pesquisa semelhantes. Isto significa que os anunciantes têm acesso a “identificadores de grupo” (por exemplo: pessoas que gostam de culinária e fado) em vez de informação específica sobre cada utilizador.

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