Moradias projectadas por Tomás Taveira para Aveiro geram onda de críticas

Arquitecto confessa-se surpreendido pela celeuma levantada numa “cidade tão culta” e “com uma Universidade tão influente e forte”. Autarquia diz que não lhe cabe pronunciar-se sobre a estética dos projectos.

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Há um projecto arquitectónico para a construção de duas moradias, na cidade de Aveiro, que está a gerar uma onda de críticas. Assim que foram conhecidas as imagens do empreendimento Alto das Agras, os comentários negativos não tardaram a inundar a página de Facebook do promotor imobiliário. Da autoria de Tomás Taveira, o empreendimento é criticado pelo impacto que irá ter na paisagem envolvente, marcada pela presença da ria. O arquitecto, que também assinou o Estádio Municipal de Aveiro, diz que foi acolhido de surpresa pelas críticas. Também o promotor não esperava que o projecto fosse “quase polémico”.

“Quando optámos pelo arquitecto Tomás Taveira já sabíamos que existem pessoas que não gostam da sua linguagem, mas não estávamos à espera de todas estas críticas”, introduz Pedro Patrício, da empresa Moreira e Patrício. Aliás, no texto de apresentação do empreendimento, a empresa começa logo por reconhecer que o “este projecto destaca-se pela irreverência”.

O promotor imobiliário não vê razão para tanto alarido em torno do “jogo de cores”, lembrando que Aveiro tem outros exemplos em que o colorido dos edifícios consegue “integrar-se bem na paisagem envolvente”. Pedro Patrício alude, em concreto, ao caso da zona do Rossio, no centro da cidade da ria, e aos palheiros típicos da praia da Costa Nova, em Ílhavo.

O motivo da polémica reside no desenho para duas moradias de grande dimensão — uma com cerca de 700 metros quadrados e outra com cerca de 800 metros quadrados de área —, a edificar na zona das Agras, “num palco elevado sobre a ria, mas que confina com a A25”, repara o promotor. Com dois pisos cada, as habitações parecem ter já, segundo Pedro Patrício, alguns interessados. “É tão legítimo gostar de um estilo mais irreverente quanto de um mais discreto”, frisa o promotor, depois de ter sido confrontado, no Facebook, com comentários que classificam o empreendimento como “um crime urbanístico”, “um verdadeiro horror” ou “uma aberração”.

Reacções que não deixaram de surpreender também o arquitecto. Ao PÚBLICO, Tomás Taveira considerou que “uma cidade tão culta, com uma universidade tão influente e forte, tinha obrigação de demonstrá-lo”. “A estética pós-moderna está já tão desenvolvida e espalhada pelo mundo, que já nos admiramos com o ainda espanto que uma obra representativa dela possa provocar”, especificou.

Perante a crítica de que o projecto “perturba” a paisagem envolvente, marcada pela presença da ria, Tomás Taveira lembrou que toda a sua vida de arquitecto se caracterizou “por tentar fazer cidade, imprimindo-lhe marcas de cultura e de inovação estética”. “Claro que uma obra de arquitectura vai sempre ‘contra’ o meio ambiente, não no sentido de o violentar, mas quando é culta, no sentido de lhe acrescentar algo; uma nova vida”, argumentou. No seu entender, “o projecto não perturba a ria, antes lhe acrescenta um novo motivo de interesse”. Tomás Taveira sustenta, ainda, que “ao mundo natural, sempre se ‘opôs’ o mundo construído, desde as pirâmides de Gizé...”

Licenciamento aprovado

A autarquia aveirense já licenciou o projecto de arquitectura do empreendimento Alta das Agras, faltando apenas emitir o alvará de construção — cujo pedido está a ser sujeito aos trâmites habituais. Segundo fez saber fonte do gabinete da presidência, as câmaras municipais não podem chumbar um projecto por questões estéticas, salvo quando está em causa um projecto de reabilitação urbana — o que não é o caso.

Aveiro estará, assim, prestes a ganhar duas novas construções com a assinatura de Tomás Taveira, precisamente a poucos quilómetros de distância do estádio por ele projectado no âmbito da realização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004 em Portugal — e igualmente conhecido pelo seu design colorido.

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