Marisa Matias arrancou a campanha rodeada pelas mulheres que Marcelo não ouviu

A candidata apoiada pelo BE escolheu começar a sua candidatura ao lado de oito das 500 mulheres que há três anos lutaram pelos seus direitos laborais no encerramento da Triumph. Marisa Matias vai estar nas ruas porque não quer que a campanha “seja um monólogo”, mas promete respeitar as regras sanitárias.

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Marisa Matias, eurodeputada do BE, candidata-se pela segunda vez a Belém Nuno Ferreira Santos

Marisa Matias chegou à hora marcada e foi recebida com entusiasmo pelas mulheres, trabalhadoras que se dizem “vozes esquecidas” por Marcelo Rebelo de Sousa. O arranque da campanha presidencial da candidata aconteceu este domingo, no Museu da Cerâmica, em Sacavém, num encontro com oito antigas trabalhadoras da Triumph, que há três anos lutaram pelo direito a uma indemnização que ainda não receberam.

O momento, carregado de simbolismo, foi uma amostra do que deverão ser as duas próximas semanas na corrida até Belém: a eurodeputada bloquista ― que é até hoje a mulher com mais votos numa eleição presidencial ― fez questão de se ladear com vozes femininas e deixar claro que concorre para desafiar o actual Presidente da República, não deixando que se transformem “as campanhas em monólogos” e ouvindo as preocupações dos que ficaram para trás.

“Adorei o debate”, gritou uma das oito antigas trabalhadoras enquanto Marisa se aproximava do local de encontro. E ainda que todas estivessem de máscara, a candidata devolveu um sonoro e bem-disposto “bom dia, Lucinda!”. Apesar da baixa temperatura, Marisa Matias e as antigas trabalhadoras ficaram à entrada do Museu durante mais de 20 minutos, recordando “a memória dolorosa” de uma luta que ainda não acabou.

Com as indemnizações por receber há três anos, algumas das antigas trabalhadoras foram novamente empurradas para o desemprego, desta vez por causa da pandemia. Presas entre uma “idade na qual não é fácil encontrar trabalho” e as penalizações de uma reforma antecipada, as mulheres da Triumph pedem justiça e lamentam que o actual Presidente da República não lhes tenha dado mais atenção e tenham apenas sido recebidas no Palácio de Belém pelo assessor de Marcelo Rebelo de Sousa.

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A candidata apoiada pelo BE esteve com oito antigas trabalhadoras da Triumph para prometer mais atenção à lei laboral Nuno Ferreira Santos

Sobre Marisa, a conversa é diferente. “Ela vinha de Bruxelas, ia directamente para perto de nós”, distinguiu Lucinda Carvalho, que assinalando a presença de outros partidos, não perdoa a ausência de Marcelo. À data do protesto, “convidámos o Presidente [da República] para vir tomar o pequeno-almoço connosco e ele não foi. Soubemos que ele iria visitar uma escola a Camarate e fomos ter com ele, mas se ele fez alguma coisa não se notou”, lamentou a ex-funcionária, que trabalhou na Triumph durante 40 anos.

Marisa Matias agarrou essa ausência. “Estive aqui há três anos e estou aqui agora porque estou presente onde Marcelo Rebelo de Sousa esteve ausente”, insistiu, elogiando a “lição de coragem” dada ao país por todas as trabalhadoras da Triumph. “Às vezes, nas dificuldades, há quem queira dividir. Vocês quiserem juntar”, elogiou a candidata apoiada pelo Bloco, que em Setembro anunciou a sua candidatura no Largo do Carmo, de cravo vermelho e prometendo combater “o medo”. 

"As campanhas não são monólogos"

Sobre o funcionamento da campanha eleitoral em período pandémico e com o confinamento a ser preparado, Marisa afirmou a sua campanha foi preparada depois de consultar especialistas e já percebendo que, muito provavelmente, nesta altura Portugal estaria “numa terceira vaga, que é o que se está a confirmar”.

“Não necessitamos de anular arruadas, almoços ou jantares ou grandes comícios porque já não os tínhamos planeado, já não os tínhamos marcado. Tudo o que foi marcado, foi marcado no cumprimento estrito das regras sanitárias e protegendo as pessoas e é cumprindo essas regras que eu agora estou na rua para ouvir as pessoas porque a campanha também é para ouvir as pessoas”, reafirmou a candidata, como já tinha explicado ao PÚBLICO.

A bloquista deu o encontro deste domingo como “exemplo” e argumentando que “dentro de todas as limitações, não podemos transformar campanhas em monólogos porque as campanhas servem para ouvir”, dando nota de que não pretende cancelar as suas acções de campanha, como fizeram Ana Gomes e Vitorino Silva. “Nunca fiz nenhuma campanha sem ouvir e dar voz às pessoas”, justificou, antes de passar a palavra a Silvina Cordeiro, Lucinda Carvalho, Dora Viegas e Madalena Nunes. E se as restrições impedirem a deslocação da população? “Então irei eu ao encontro das pessoas”, simplificou, vincando que não abdicará “da proximidade social e do calor humano”.

A candidata disse ainda que não teme a percepção que a campanha poderá ter num período de restrições, pois acredita que “a percepção dos problemas” dos eleitores é uma das preocupações que deve orientar a sua candidatura. “Sempre respeitei e respeitarei até ao último dia as recomendações dos especialistas e das autoridades de saúde. Não é a minha ideia que deixemos de respeitar. Adaptamo-nos às circunstâncias, é a nossa obrigação, é o nosso dever”, disse.

O dia terminará com um comício no cinema São Jorge, em Lisboa, que contará com a presença da coordenadora do BE, Catarina Martins e do mandatário da candidatura Tiago Rodrigues (mas sempre presencial). O comício será virtual, estando prevista a apenas a presença de Marisa Matias em palco. 

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