Morreu o professor e investigador cabo-verdiano Moacyr Rodrigues

Um dos impulsionadores da consagração da morna a Património Imaterial da Humanidade, foi um “intelectual com um peso extraordinário” e “alguém que compreendia profundamente não apenas a alma de Mindelo, mas o espírito e a intelectualidade cabo-verdianos”, afirmou o ministro da Cultura do país, Abraão Vicente. Moacyr Rodrigues tinha 87 anos.

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Moacyr Rodrigues alertou que, se a questão da dança não fosse incluída, a candidatura da morna a património da humanidade podia falhar Paulo Pimenta

O professor e investigador cabo-verdiano Moacyr Rodrigues morreuensta quarta-feira, aos 87 anos, na ilha de São Vicente, anunciou o ministro da Cultura de Cabo Verde, lembrando que foi um dos impulsionadores da consagração da morna a património mundial.

Em declarações à agência Lusa, Abraão Vicente referiu que Moacyr Rodrigues já estava há algum tempo debilitado a nível de saúde eque  o ministério estava a acompanhar a situação. “E infelizmente recebemos a notícia hoje”, informou o titular da pasta da Cultura e Indústrias Criativas de Cabo Verde, notando que sempre teve uma boa relação institucional com o também antropólogo por sempre reconhecer a sua capacidade crítica na análise, principalmente no dossier da morna.

“Foi um dos impulsionadores. Acompanhou em todos os momentos a feitura do dossier da morna, foi consultado várias vezes pela equipa técnica, os livros dele são considerados parte da bibliografia do dossier”, referiu, acrescentando que Rodrigues era considerado por muitos como o “expoente máximo” do estudo desse género musical tipicamente cabo-verdiano.

“Perdemos um intelectual com um peso extraordinário, formado em línguas, em interculturalidade, alguém que compreendia profundamente não apenas a alma de Mindelo, mas o espírito e a intelectualidade cabo-verdianos”, descreveu Abraão Vicente.

Para o governante, Moacyr Rodrigues foi sempre conhecido como uma figura que “dava pedradas no charco” naquilo que era o pensamento comum em Cabo Verde, já que fazia análises críticas não baseada em opiniões, mas em “trabalho investigativo forte”.

Moacyr Rodrigues foi das personalidades que alertaram que se a questão da dança não fosse incluída, a candidatura da morna podia falhar. “Claro que eu discordava do Moacyr em alguns aspectos, ele como cientista, e eu como político, porque há outras formas de conduzir processos.” 

O ministro disse que este é um “ano de perdas” para a cultura cabo-verdiana, dando como exemplo as mortes dos músicos Jorge Neto e Kaká Barbosa, e há menos de uma semana da cantora e escritora Celina Pereira, aos 80 anos, também ela uma das apoiantes da candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade, que decorreu no ano passado.

“É um ano em que perdemos grandes vultos da nossa cultura. A alegria que podemos ter, o descanso, é tanto a Celina como o Moacyr terem visto e vivido a consagração da morna a património da humanidade”, salientou Abraão Vicente.

O titular da pasta da Cultura cabo-verdiana recordou que não foi um trabalho apenas do Governo, do ministro e do seu ministério, mas construído ao longo dos anos por várias pessoas, precisando apenas do impulso político do actual executivo.

“É um ano triste para todos os cabo-verdianos, principalmente num período de pandemia, em que não podemos mostrar em grandes eventos e em grandes momentos a tristeza popular pela perda dessas figuras. Mas creio que a figura do Moacyr fica — não sendo alguém do palco, do mundo do espectáculo, das massas, como a Celina, a Cesária Évora ou o Jorge Neto — como um dos pilares daquilo que pode vir a constituir-se como uma academia da cultura cabo-verdiana”, perspectivou.

Abraão Vicente concluiu dizendo que Moacyr Rodrigues é uma figura incontornável do percurso de Cabo Verde como povo e como nação intelectual, porque ele acaba por resumir a herança desde os claridosos até à nova geração.

Professor, investigador, etnomusicólogo, escritor, Moacyr Rodrigues, que estudou em Portugal, morreu nesta madrugada no Mindelo, ilha de São Vicente, onde nasceu em 9 de Abril de 1933.

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