Ministro da Educação deixa “bravos” às escolas, professores e alunos, mas não responde à oposição

Tiago Brandão Rodrigues disse que recebeu 1252 perguntas do Parlamento.

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Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O ministro da Educação deixou nesta terça-feira “bravos” às escolas, professores, pessoal não docente, alunos e famílias pela forma como decorreu o primeiro período de ensino presencial em tempos de pandemia, mas não respondeu a qualquer pergunta da oposição.

No final do debate parlamentar de urgência pedido pelo PSD sobre educação, Tiago Brandão Rodrigues gastou os seis minutos disponíveis para fazer um cerrado ataque aos sociais-democratas, quer em matéria de educação quer, até, acusando-os de “patrocinar” o partido Chega.

“O PSD traz-nos aqui o que aconteceu entre 2011 e 2015 [período de Governo PSD/CDS-PP], um tempo de querubins e de querubinas, um tempo de serafins e de serafinas. E agora só Lucíferes, Belzebus, entes cornudos que existem por aqui a trabalhar a educação”, ironizou.

O ministro disse não compreender a urgência do PSD neste debate, “por não ver essa ansiedade no país”, e disse ter respondido “a mais de mil perguntas” das 1252 perguntas que recebeu do Parlamento.

“É da mais elementar justiça, o ministro da Educação vir dizer bravo às escolas, bravo aos directores, bravo aos docentes, bravo aos não docentes, bravo aos alunos e bravo também suas famílias, que mesmo num tempo tão difícil conseguiram erguer em cada escola um espaço de segurança e de confiança”, saudou.

Para Tiago Brandão Rodrigues, a motivação do PSD ao convocar este debate “não foi certamente discutir a educação”, mas “surfar um conjunto de descontentamentos e dificuldades que sempre existem e existirão”

“Gostava de ver o PSD a defender a escola pública, mas o que vemos é o PPD/PSD a aplaudir a intervenção do deputado do Chega”, disse, considerando ter sido notório também no debate de hoje que a ascensão do Chega é “patrocinada por parte do PSD”.

O ministro aconselhou ainda o deputado único André Ventura a frequentar algumas aulas de Cidadania e Desenvolvimento, acusando-o de ter confundido conceitos como casos e surtos que “as crianças conseguem distinguir”.

Às muitas perguntas feitas por todas as bancadas da oposição - sobre número de professores ou pessoal não docente em falta, as discrepâncias dos números oficiais de casos nas escolas e os apontados pelos sindicatos ou os maus resultados em estudos internacionais -, o ministro apenas repetiu o anúncio já feito na sexta-feira de que “mais 260 mil computadores estão a chegar às escolas”, somando-se aos cem mil já disponibilizados.

“As famílias não se deixam enganar, os professores, os directores não se deixem enganar”, afirmou, pedindo ao PSD para deixar a “chicana política” e “ajudar a construir para que o segundo e terceiro períodos sejam tão positivos como foi o primeiro”.

Na resposta, o PSD acusou o ministro de “indigência inclassificável” e o deputado e vice-presidente da bancada Luís Leite Ramos comparou Tiago Brandão Rodrigues aos “vendedores de feira” que falam durante horas sem dizerem nada. “Continua a empurrar os problemas com a barriga (...) Nem sequer tem respeito por quem pediu este debate de urgência, o país, as escolas, o parlamento merecem mais”, afirmou.

Os protestos vieram também da parte da esquerda, com a deputada do BE Joana Mortágua a lamentar que o ministro tenha esgotado o seu tempo “sem responder a nenhum dos problemas que se verificaram no primeiro período”, como a existência de muitos alunos sem aulas ou existirem mais de mil horários de professores que pagam “abaixo do Salário Mínimo Nacional”.

Também a deputada do PCP Ana Mesquita criticou o ministro por ter “ficado do lado de lá” - referindo-se à bancada do PSD - e optado por não responder às dúvidas da sua bancada, como quando será concretizada a proposta do partido aprovada no Orçamento do Estado para 2021 e que prevê mais 5000 trabalhadores não docentes nas escolas.

Durante o debate, a deputada do PAN Bebiana Cunha alertou para o problema do envelhecimento do corpo docente e apelou ao ministro para que, em Janeiro, “saia do seu pedestal” e dialogue com os representantes do sector.

Pelo CDS-PP, Ana Rita Bessa optou por enumerar o que considerou serem as promessas não cumpridas do ministro, como a disponibilização de computadores a todos os alunos no arranque no ano lectivo, e lamentou que, apesar de ser o ministro “com mais longevidade” na pasta da Educação, continue a responsabilizar o antecessor.

O deputado único e presidente da Iniciativa Liberal acusou igualmente o Governo de “fugir às suas responsabilidades” em matéria de educação e lamentou que quem “pague o preço são milhares de jovens”.

Pelo PS, o deputado Porfírio Silva contestou esta visão e, em concreto sobre a avaliação internacional TIMSS, apontou que o grande salto do país se deu entre 1995 e 2011 (um período maioritariamente de governação socialista), e que as diferenças na última década nessa avaliação estão “ao nível das centésimas”.

Já a deputada Mariana Silva, d' "Os Verdes”, repartiu as culpas, dizendo que se “o Governo em matéria de escola pública tem má nota, o PSD também chumbava”.

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