Não tem telemóvel para responder se quer ser vacinado? Tome a iniciativa e contacte o SNS, diz ministra

Já fizemos 5,1 milhões de testes de diagnóstico de covid-19 e o SNS tem hoje mais 2816 enfermeiros do que no ano passado, revelou a ministra da Saúde numa audição parlamentar. Mas os deputados quiseram saber mais pormenores sobre a operação de vacinação que se avizinha.

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Reuters/POOL

O objectivo era ouvir a ministra da Saúde sobre as medidas de resposta à pandemia de covid-19 em Portugal, mas a audição de Marta Temido esta sexta-feira no Parlamento acabou por ser dominada pelo plano nacional de vacinação. No meio do manancial de dúvidas, os deputados quiseram perceber o que acontecerá com os cidadãos sem telemóvel e que não podem assim receber um SMS para dizerem se querem ou não ser vacinados, o modelo anunciado para a aferição do interesse das pessoas na inoculação. Poderão ser os próprios a “ter a iniciativa de contactar o sistema”, respondeu a governante.

“Sabemos que não vamos conseguir alcançar todos [os utentes elegíveis para vacinação prioritária]”, mas “haverá um momento em que, quem não for contactado”, e tiver critérios para vacinação numa primeira fase, “poderá contactar o SNS”, frisou Marta Temido, durante uma audição conjunta da Comissão Parlamentar da Saúde e a Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia.

Sobre os pontos de vacinação, e perante a insistência de vários deputados que não acreditam que os centros de saúde possam por si só dar conta do recado nas primeiras fases da operação, a ministra da Saúde admitiu que, numa altura em que haja uma quantidade maior de doses e a operação se transformar “numa realidade mais lata e ampla”, poderá “haver vantagem em envolver outros actores”. Por exemplo, especificou, a vacina poderá vir a ser administrada em espaços de juntas de freguesias, como se fez nalguns locais na vacinação contra a gripe.

Mas enfatizou sempre que, na primeira fase da operação, Portugal está condicionado pela entrega das doses das várias vacinas em que há acordos prévios de aquisição. Repetiu, a propósito, que o país espera receber cerca de 1,2 milhões de doses da primeira vacina, a da BioNTech-Pfizer entre Dezembro e o primeiro trimestre de 2021. “São 312.975 (doses) no acumulado de Dezembro e Janeiro, 429 mil doses em Fevereiro e 487.500 em Março, ou seja, um total de 1,2 milhões de doses, se se confirmarem as entregas da Pfizer ao longo do primeiro trimestre. Mas insisto que depende da produção e distribuição de entidades terceiras”.

Quanto aos profissionais de saúde a vacinar com as primeiras doses que vão chegar previsivelmente já no próximo dia 26, estes podem não ser apenas trabalhadores dos centros hospitalares do São João (Porto) e de Lisboa Central, como está planeado, porque não se sabe ainda quantos dos que têm critérios para tal querem ser inoculados ou se pretendem ser vacinados de imediato, admitiu Marta Temido, que foi ouvida por videochamada.

Os profissionais de saúde destes dois centros hospitalares estão “neste primeiro lote, mas não quer dizer que sejam necessariamente os únicos”, disse a ministra, que descreveu que as primeiras doses da vacina da BioNTech-Pfizer - que vão começar a ser administradas a partir do próximo dia 27, se a Agência Europeia do Medicamento a aprovar entretanto - vêm “em duas caixas” e estarão “distribuídas num conjunto de tabuleiros”.

Aplicação StayAway Covid descarregada 2,8 milhões de vezes

Insistindo que a rapidez da vacinação estará sempre sujeita às autorizações de introdução no mercado da Comissão Europeia e reiterando que neste momento é impossível antecipar quando é que Portugal atingirá a imunidade de grupo, a governante pediu que se tenha seriedade para evitar a transmissão de mensagens “não correctas”. O processo depende mais da capacidade de produção e fornecimento das vacinas do que da capacidade de as administrar em Portugal, onde, em média, o Serviço Nacional de Saúde administra 22 milhões anualmente, enfatizou Marta Temido que, ao longo da audição, destacou a “resiliência do SNS” durante os meses de pandemia.

Para provar esta capacidade, elencou uma série de números. Um que prova a aposta no reforço do SNS, que tinha, até Novembro, mais 2816 enfermeiros do que no mesmo período do ano passado, totalizando agora mais de 48 mil. É “uma ficção que não corresponde à realidade” dizer que o Governo não tem contratado mais profissionais de saúde para reforçar o SNS nestas duas legislaturas, atirou, agastada com as críticas dos deputados.

Adiantou ainda que a aplicação StayAway Covid (que permite identificar contactos com casos positivos de infecção pelo novo coronavírus e avisar os utilizadores) teve até agora “2,8 milhões de downloads”, apesar de apenas terem sido descarregados “oito mil códigos”. E revelou que já foram feitos 5,1 milhões de testes de diagnóstico no país, que conta agora com 81 pontos com capacidade para fazer os mais recentes testes rápidos de antigénio.

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