Covid-19 – Prevenir a 3.ª vaga

Depois de uma primeira vaga de covid-19 na Primavera e de uma segunda vaga no Outono – mais mortífera e complexa de administrar do que a primeira, não só pela forte pressão causada nos nossos hospitais e unidades de cuidados intensivos mas também pelos atrasos no atendimento a pacientes não covid, sendo que as consequências para a saúde a médio e longo prazo são preocupantes –, importa prevenir uma terceira vaga no Inverno.

Mesmo que a vacinação se torne uma realidade no início do ano, a verdade é que existe o risco de termos de enfrentar uma terceira vaga nos próximos meses, uma vez que o controlo da epidemia demorará algum tempo, pois persistem as condições ambientais para a propagação do vírus – podendo até piorar –, dado que o Inverno ainda não começou e são necessárias inequívocas medidas que reduzam o contágio expectável no Natal e no fim de ano, designadamente retardando o início das aulas presenciais em Janeiro, atendendo a que na escola é muito difícil respeitar o distanciamento. 

Assim, importa também planear as condições para prossecução do ano lectivo, equacionando um modelo de “ensino à distância”, tanto mais que a vacina contra o coronavírus deverá ser administrada ao longo do primeiro semestre de 2021 e que o contágio – tendo em conta que este coronavírus se transmite principalmente pelo ar, sendo o contágio facilitado pelo contacto próximo e prolongado, o que aumenta o risco em espaços fechados e muitas pessoas – em ambientes fechados é muito superior ao que ocorre em espaços abertos, salvaguardando a saúde de professores, alunos, trabalhadores não docentes e respectivas famílias.

Ora, considerando que em Portugal já morreram mais de cinco mil pessoas, e nos últimos dias têm morrido cerca de 90 pessoas por dia, é necessário controlar a pandemia, sobretudo minimizando o número de mortes, adoptando-se, por exemplo, ao nível do ensino, mediante a ser a opção pelo ensino à distância, uma medida de prevenção, eficaz no plano da saúde pública.

Aliás, diversos países europeus já o fizeram. Por exemplo, no passado dia 17 de Novembro a Áustria anunciou novo confinamento para tentar travar o aumento do número de casos de covid-19 no país, alargando o recolher obrigatório e encerrando creches, escolas e universidades e optando pelo ensino à distância. Na Alemanha, apesar de seis semanas de encerramento total de restaurantes, bares, teatros, cinemas, museus e equipamentos desportivos, a situação piorou e, face à necessidade urgente de agir para travar o aumento dos casos de covid-19, escolas, creches e a maioria das lojas vão encerrar a partir do dia 16, permanecendo abertos estabelecimentos essenciais, como os supermercados, as farmácias e os bancos, sendo que estas restrições estarão em vigor pelo menos até 10 de Janeiro e, dado que o sistema de saúde está sob intensa pressão, não se exclui a imposição de um confinamento mais exigente. Também a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen anunciou, de 9 de Dezembro a 3 de Janeiro, o encerramento das escolas a partir do 5.º ano em várias cidades do país e ainda diversas outras restrições que serão prolongadas até 28 de Fevereiro.

A cada momento da sua história, a democracia desenvolve-se, simultaneamente, ao nível da dimensão de confiança das pessoas nas instituições e se – nesta fortíssima crise sanitária – existe a possibilidade de minimizar os efeitos de uma terceira vaga porque há conhecimento para fazê-lo com antecedência suficiente, intervindo precocemente, e se vivemos a transição digital em que o trabalho e o ensino digital permitem, felizmente, responder a crises súbitas como a actual, nada justificará não optar por uma solução capaz de salvar muitas vidas.

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