Projecto Mais Novos do Teatro São Luiz envolto em polémica

Direcção do teatro garante que não está em causa a continuidade da programação. Susana Duarte, a responsável pelo projecto, diz ao PÚBLICO não se rever na proposta que lhe foi feita para se manter no cargo.

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O espectáculo Professar, que Lígia Soares e Sara Duarte criaram com professores e educadores no âmbito do projecto Mais Novos Nuno Ferreira Santos

Um manifesto pela manutenção da Programação Mais Novos, do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e contra o alegado afastamento da sua responsável, surgiu na Internet, mobilizando centenas de assinaturas de artistas, professores, educadores de infância, pais, espectadores e profissionais do espectáculo. A responsável pela programação, Susana Duarte, disse à agência Lusa ter sido afastada do cargo na sequência de uma “reorganização estratégica da programação” da sala, encetada pela direcção. A directora artística do São Luiz, Aida Tavares, ouvida pelo PÚBLICO, garante que “nunca o trabalho da Susana [Duarte] foi posto em causa e nunca existiu nenhuma ideia de a afastar.” Também contactada pelo PÚBLICO, Susana Duarte diz não se rever “na proposta” que lhe terá sido feita.

Segundo Aida Tavares, “o manifesto ocorre porque é erradamente veiculado que o projecto vai acabar”, intenção que nega: Não é verdade. Nunca esteve em causa que este projecto terminasse.” A directora afirma que terá sido iniciado em Maio, num procedimento conjunto com a empresa municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa (EGEAC), um processo de reflexão acerca da “relação do teatro com os públicos”, para o qual Susana Duarte terá sido convidada. “Todas as instituições passam por momentos em que reflectem sobre o trabalho produzido e foi isso que aconteceu, nada mais. Aquilo que foi proposto à Susana tem a ver com o reposicionamento relativamente à nossa relação com os públicos, numa altura em que a direcção do teatro entende que é o momento para pensar nessas questões, seja pelo que estamos todos a vivenciar, seja porque estamos a mudar a nossa comunicação.” A até agora responsável pela programação Mais Novos contrapõe por sua vez que “não houve espaço para se chegar a acordo sobre o caminho a seguir na construção deste novo projecto”.

Lugar à criação

O projecto Mais Novos teve início há seis anos. “Iniciei este projecto, ainda enquanto directora artística interina, convidando a Susana. Achei que era importante testar este segmento de público”, lembra Aida Tavares ao PÚBLICO. “E convidei a Susana, que na altura estava na produção, porque tinha essa capacidade. Ao longo destes anos não tenho nada a apontar-lhe. Tivemos sempre uma óptima relação. Mas neste momento a direcção achou que havia um novo posicionamento do teatro que devia ser reflectido — e isso é um questionamento amplo, embora saibamos que o segmento de programação para os mais novos tem um papel central na relação com a comunidade escolar, os professores e famílias.” Também Susana Duarte salienta ter desenvolvido o projecto “em estreita relação com a direcção do teatro, com a comunidade artística, as escolas, alunos, professores, pais e público em geral, que puderam ter no São Luiz uma casa onde a programação para os Mais Novos ganhou projecção e destaque”. 

À Lusa, Susana Duarte garantiu que a sua saída lhe terá sido comunicada há duas semanas. Responsável pela programação para os Mais Novos desde o início do projecto, disse ao PÚBLICO que gostaria que este “continuasse, sobretudo na sua relação cada vez mais estreita com o público, na relação com as escolas e no que esta representa, pois é através dela que o acesso democrático à cultura se faz”. Manifestou ainda o desejo de que o trabalho desenvolvido “não se perca”, considerando-o fundamental para a criação de novos públicos.

A direcção, por sua vez, garante que o projecto irá continuar. “A Susana não quis repensar o trabalho. Mas uma coisa garantimos: o projecto vai continuar. E mais forte. Porque é um pilar fundamental da relação com os públicos, o universo escolar e as crianças.”

À Lusa, Susana Duarte disse que cessa funções no final de Dezembro, regressando à Câmara de Lisboa, de que é funcionária. Nos últimos dias, entretanto, surgiu a iniciativa “Cidadãos Mais Novos”, em defesa da programadora e do projecto. O seu manifesto foi já subscrito por mais de 350 pessoas. “Foi com enorme tristeza e preocupação que soubemos que Susana Duarte (...) cessaria em breve as suas funções”, lê-se no texto que, segundo os subscritores, foi enviado à direcção do São Luiz e da EGEAC. O projecto tornou “possíveis objectos artísticos de enorme qualidade e diversidade, que foram apresentados por todo o país e fora dele, enriquecendo a oferta para a infância e juventude”, prossegue o manifesto.

O dramaturgo e encenador Alex Cassal, o artista António Jorge Gonçalves, a actriz Isabel Abreu, a cantora Capicua, a directora do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, o actor e realizador Gonçalo Waddington, a pianista Joana Gama, ou artista João Galante são alguns dos subscritores. com Lusa

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