Guterres quer parar “guerra à natureza” com coligação para a neutralidade carbónica

O secretário-geral da ONU disse que o mundo está perto de uma “catástrofe climática” e que a humanidade está a cometer “suicídio” ao “declarar guerra à natureza”. António Guterres apresentou a Coligação para a Neutralidade Carbónica durante um discurso na Universidade de Columbia.

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A seca na Austrália DAVID GRAY/REUTERS

O objectivo central das Nações Unidas (ONU) para 2021 é criar uma Coligação para a Neutralidade Carbónica, para contrariar a “guerra” que a humanidade está a travar contra a natureza. 

António Guterres, secretário-geral da ONU, considerou esta quarta-feira, 2 de Dezembro, num discurso na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, que a humanidade está a cometer “suicídio” ao “declarar guerra à natureza” e que o mundo está perto de uma “catástrofe climática”, segundo relatórios da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e do Programa Ambiental das Nações Unidas.

Para o dirigente da ONU, responder à crise climática passa por atingir neutralidade carbónica dentro de 30 anos, “alinhar as finanças globais para o Acordo de Paris” e evoluir com avanços “na adaptação para proteger o mundo e especialmente as pessoas e os países mais vulneráveis dos impactos climáticos”.

O secretário-geral mostrou estar animado pelos compromissos adoptados por mais de 110 países em atingir neutralidade carbónica até 2050 e pela União Europeia pretender ser o primeiro continente neutro em emissões poluentes.

A ONU espera que todos os países, cidades, instituições financeiras e empresas adoptem planos para atingir emissões zero até 2050. Isso significa que até 2030 devem cortar-se 45% de emissões, em relação aos níveis de 2010. Os consumidores, produtores e investidores, “todos têm de fazer a sua parte”, acrescentou Guterres.

O quinto aniversário do Acordo de Paris vai ser celebrado a 12 de Dezembro, na Cimeira da Ambição Climática, um evento virtual, e a cimeira climática COP26, em Glasgow, irá realizar-se no próximo ano. “A prioridade para todos, em todo o lado” deve ser “fazer as pazes com a Natureza” e pensar nas gerações futuras.

António Guterres considerou que o planeta “está estragado”, já que devido à degradação ambiental, que afecta os mais vulneráveis, a paz entre comunidades fica mais distante, os conflitos e desalojamentos são mais frequentes.

Todos estes são obstáculos nos esforços para eliminar a pobreza e assegurar segurança alimentar são causados por actividades humanas. “Não é por acaso que 70% dos países mais vulneráveis ao clima também estão entre os mais frágeis política e economicamente”, considerou o secretário-geral.

Entre os 15 países mais susceptíveis aos riscos climáticas, oito recebem actualmente missões de paz da ONU. “Como sempre”, lamentou António Guterres, “aqueles que menos fizeram para causar o problema são os que mais sofrem”.

Os desastres ambientais custaram, só no ano passado, mais de 124 mil milhões de euros, declarou Guterres. A desertificação, a desflorestação, a diminuição da biodiversidade (um milhão de espécies estão em riscos de extinção), poluição, aquecimento dos oceanos, descoloração dos corais, o degelo e “inundações e incêndios apocalípticos” foram mencionados pelo secretário-geral.

O secretário-geral da ONU alertou também que os gastos para dar respostas às dificuldades criadas pela pandemia de covid-19 vão ficar como dívidas “de biliões de dólares” para as futuras gerações. “Não podemos usar esses recursos para criar políticas que sobrecarregam [as futuras gerações] com uma montanha de dívidas num planeta destruído”, considerou António Guterres

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