Primeiro-ministro da Etiópia rejeita cessar-fogo e denuncia “interferência” externa

Abiy Ahmed pediu às organizações internacionais para se “absterem de quais actos de interferência indesejados e ilegais”. União Europeia, Nações Unidas e União Africana apelam ao diálogo e ao fim da violência.

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Abiy Ahmed diz que a ofensiva contra Tigré é uma "operação de imposição da lei" Michel Euler/REUTERS

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, rejeitou os apelos da comunidade internacional para um cessar-fogo na região do Tigré e para o diálogo com a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), denunciando o que considera serem tentativas de interferência nos assuntos internos no país.

Num comunicado divulgado esta quarta-feira, dia em que terminou o prazo dado no domingo pelo Governo etíope para a FLPT se render, Ahmed pediu às organizações internacionais para se “absterem de quais actos de interferência indesejados e ilegais” e reiterou que “a comunidade internacional deve aguardar até que o Governo da Etiópia submeta os seus pedidos de ajuda”.

As declarações de Abiy Ahmed, numa altura em que as tropas federais preparam uma grande ofensiva contra Mek'ele, capital de Tigré, surgem após vários pedidos internacionais de cessar-fogo e de apelo ao diálogo entre o Governo etíope e a FLPT, o movimento que governa a região no Norte do país.

A União Europeia, pela voz do chefe da diplomacia, Josep Borrell, demonstrou “grande preocupação com o aumento da violência étnica” que já causou centenas de mortos e milhares de deslocados e apelou ao “fim das hostilidades”.

Já a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu para que os dois lados do conflito dessem “ordens claras e inequívocas” para que as suas forças poupassem civis e denunciou “a retórica altamente agressiva de ambas as partes” que pode levar a "mais violações do direito humanitário internacional".

A União Africana, chefiada pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, anunciou o envio dos ex-presidentes Joaquim Chissano, de Moçambique, Ellen Johnson-Sirleaf, da Libéria, e Kgalema Motlanthe, da África do Sul, como enviados especiais à Etiópia para tentar concretizar a mediação do conflito.

O líder da FLPT, Debretsion Gebremichael, afirmou na terça-feira que o povo de Tigré está “pronto para morrer” a defender a região, enquanto o primeiro-ministro etíope, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2019 pela pacificação com a Eritreia, alertou os mais de 500 mil habitantes de Tigré para se “salvarem” porque a ofensiva das tropas federais “não terá misericórdia”.

O conflito entre o Governo etíope e a FLPT exacerbou-se no início deste mês de Novembro, quando Abiy Ahmed lançou uma ofensiva militar no dia 4, acusando o movimento no Norte de atacar bases militares federais e de tentar destabilizar o país.

Em Setembro, contrariando a proibição do Governo federal, a FLPT realizou eleições regionais, o que aumentou ainda mais a tensão entre os dois lados do conflito, que têm trocado acusações praticamente desde que Ahmed chegou ao poder em 2018, defendendo um poder mais centralizado.

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