A pandemia do cancro colorectal

Apesar de ser um dos cancros mais mortíferos — em Portugal morrem 11 pessoas por dia com esta patologia —, se detectado numa fase inicial é possível garantir uma elevada taxa de sucesso.

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"A partir dos 50 anos é necessário fazer o despiste, pois a progressão da doença é silenciosa" Reuters/ARND WIEGMANN

O cancro do cólon e do recto é a segunda causa de morte mais frequente entre os tumores malignos e tem uma incidência ligeiramente superior na população masculina. Sendo este mês dedicado à consciencialização para a saúde do homem, importa alertar para o diagnóstico precoce desta patologia. Manter um acompanhamento médico regular e não adiar a realização de colonoscopia é fundamental e pode salvar vidas.

Apesar de ser um dos cancros mais mortíferos — em Portugal morrem 11 pessoas por dia com esta patologia —, se detectado numa fase inicial é possível garantir uma elevada taxa de sucesso e pode até ser prevenido se os pólipos que lhe dão origem forem removidos antes de se transformarem. O diagnóstico precoce é, portanto, um meio de salvar vidas, permitindo tratar sem deixar sequelas e sem necessidade de fazer radioterapia ou quimioterapia complementares.

Este tipo de cancro pode não evidenciar sintomas na sua fase inicial e por isso é importante realizar exames de diagnóstico regularmente para detecção da doença numa fase precoce.

O diagnóstico é realizado por uma colonoscopia com biópsia das lesões encontradas. Trata-se de um exame com fibra óptica que percorre o intestino e visualiza o seu interior, sendo fundamental para o despiste também de lesões pré-malignas. Este exame, que pode ser realizado com uma sedação ligeira e não provoca qualquer incómodo, é especialmente útil não só porque permite o diagnóstico precoce mas porque, também, é terapêutico: ao detectar os tais pólipos que são lesões pré-malignas evita o desenvolvimento da doença e cura antes de ela aparecer.

Entre os 50 e os 74 anos deve ser realizado um rastreio de base populacional que abranja todos os indivíduos sem sintomas. Deve ser realizada uma colonoscopia aos 50 anos que pode detectar neoplasias ou simples adenomas (tumores benignos) que podem ser retirados de imediato. Esta colonoscopia, no caso de apresentar resultados normais, deverá ser repetida aos 60 e aos 70 anos. No intervalo entre as colonoscopias o doente deverá fazer anualmente análises às fezes com pesquisa de vestígios microscópicos de sangue.

Na população com risco elevado o rastreio deve ter início aos 40 anos. Estão englobados os doentes com doença inflamatória intestinal crónica (Colite ulcerosa e Doença de Crohn), com polipose cólica hereditária ou cancro do cólon hereditário já conhecido ou com história familiar, nos familiares — ascendentes ou colaterais — de primeiro grau.

Ultimamente, neste contexto de pandemia, temos assistido a uma redução dos diagnósticos oncológicos. Têm vindo a ser adiadas consultas e exames de rotina, o que poderá trazer consequências graves para a saúde da população. É, por isso, urgente retomar estas rotinas de saúde que podem, de facto, salvar vidas! As pessoas não devem ter receio de se deslocar às unidades de saúde que garantem as medidas de segurança necessárias.

Mesmo que não exista manifestação de doença, é fundamental um acompanhamento médico regular e, a partir dos 50 anos é necessário fazer o despiste, pois a progressão da doença é silenciosa. Na presença de sintomas como perdas de sangue nas fezes, anemia de instalação lenta, alteração do padrão habitual dos hábitos intestinais (prisão de ventre e/ou diarreia), dores abdominais persistentes ou sensação de massa abdominal e dificuldades agravadas de evacuar, deve motivar a procura imediata do médico assistente.

Além do rastreio e do diagnóstico precoce é igualmente importante adoptar hábitos de vida saudáveis para prevenir o aparecimento da doença: evitar ou moderar os agentes cancerígenos mais frequentes como o tabaco e o álcool, ter uma dieta rica em fibras, com o consumo de fruta, legumes e cereais, e uma boa hidratação de forma a manter os intestinos a funcionar regularmente e com facilidade. A actividade física e desportiva regular de forma a evitar o excesso de peso é também essencial. Ter um estilo de vida saudável, conhecer os principais factores de risco e falar abertamente e regularmente com o seu médico são das melhores formas de evitar o aparecimento deste cancro.

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