Tenhamos consciência: isto está a correr mal

Está a correr mal pela subida avassaladora dos números de novos casos ou de internamentos e está a correr mal porque os sinais de fadiga da sociedade portuguesa começam a dar lugar a actos de impaciência movidos pelo desespero.

Não há outra forma de o dizer: o esforço colectivo que o país está a realizar para abrandar a brutal curva de crescimento de contágios do novo coronavírus está a correr mal. Está a correr mal pela subida avassaladora dos números de novos casos ou de internamentos e está a correr mal porque os sinais de fadiga da sociedade portuguesa começam a dar lugar a actos de impaciência movidos pelo desespero – como o dos donos dos restaurantes que ontem se manifestaram no Porto. Não se trata de alarmismo, apenas de reconhecer a realidade. Não se trata de agravar o pessimismo, apenas de constatar que a batalha está a ser mais dura do que se imaginava.

Vale a pena recorrer a números para percebermos melhor a dimensão desse desafio. No dia mais duro da primeira vaga, 10 de Abril, registaram-se 1510 casos; hoje confrontamo-nos com números quatro vezes superiores. A 16 de Abril, o SNS bateu o recorde de internados, 1302, dos quais 299 em cuidados intensivos; nesta sexta-feira, havia 2799 internados, dos quais 388 em cuidados intensivos. No dia em que o Governo aprovou a situação de contingência, a 15 de Setembro, registaram-se 425 casos; no momento em que a agravou para a situação de calamidade, um mês depois, contaram-se 2101. Nesta sexta-feira, esse número subiu para 6600.

Quando em Julho se protestava contra o facto de Portugal ter sido excluído do corredor aéreo para o Reino Unido, estávamos pouco acima dos 40 casos por 100 mil habitantes nas duas últimas semanas. Actualmente, o Norte está nos 1126 casos e a região de Lisboa bem acima de 400. A escalada de agravamento das restrições não foi capaz de travar a pandemia. Os “abanões” do Governo estão a ter um efeito nulo. Se há a esperança de que a taxa de contágio comece a dar sinais de abrandamento, nada nos garante que seja para breve. Por muito que queiramos mudar o curso da pandemia, resta-nos para já o confinamento e nervos de aço.

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