O professor Marcelo

Sempre vi Marcelo Rebelo de Sousa como um defensor da estabilidade política e na área das Comunidades Portuguesas foi o melhor Presidente que o país já teve. Por isso, não tenho dúvidas sobre o sentido do meu voto nas próximas eleições presidenciais.

Um Presidente da República deve, acima de tudo, ser um fator de coesão nacional e de estabilidade política, isto é, como refere a Constituição, ser um garante da unidade do Estado e do regular funcionamento das instituições. Desde que não ultrapasse os poderes constitucionais que lhe são conferidos, cada Presidente desempenha, como é natural, o mandato de acordo com a sua personalidade e é também em função dela que os eleitores escolhem.

Vivemos tempos de grande imprevisibilidade quanto ao futuro, num contexto de maior fragmentação partidária, de sectarismos que acentuam as diferenças, de posições mais radicalizadas que dificultam os consensos, de correntes extremistas manipuladoras, de desinformação que confunde. E Portugal é um país em que o sentido do bem comum é muitas vezes substituído pelos egoísmos partidários e corporativos, em que cada um está cheio das suas verdades como se fossem as únicas possíveis para salvar o mundo.

É por isso que a coesão nacional e a estabilidade política são fundamentais, sobretudo quando vivemos uma profunda crise económica e social derivada da maior crise sanitária dos últimos 100 anos. Uma democracia saudável exige humildade política para que seja mais fácil alcançar consensos e formas de cooperação institucional, tão importante para dar tranquilidade às pessoas e previsibilidade ao seu futuro. A capacidade para reconhecer o bom desempenho de outros, mesmo que não sejam da mesma cor partidária ou corrente ideológica, é um dos bens mais preciosos em democracia.

Pessoalmente, não partilho a ideia de que a política deva apenas ser feita de divergências e de tensões, nem tão pouco que seja uma desonra convergir com outros espaços políticos quando está em causa um bem maior. São as coligações e os entendimentos, no respeito pelas respetivas diferenças, que são mais propícias a gerar sustentabilidade e longevidade às soluções políticas, sejam de governação ou não. Inversamente, são as ruturas intempestivas que criam incerteza, que adiam projetos de vida e trocam as voltas às pessoas e às empresas, que atrapalham o progresso e o desenvolvimento.

Tal como já aconteceu noutras eleições, o PS não precisa necessariamente de se pronunciar por um ou outro candidato já assumido ou em perspetiva. Mas da mesma forma que não deve criar obstáculos aos candidatos oriundos do seu espaço político, também não deve induzir dilemas morais nos militantes e simpatizantes que tenham outras opções.

E este posicionamento é particularmente relevante num contexto em que muitos socialistas vêm Marcelo Rebelo de Sousa como um garante da estabilidade política, da defesa dos valores da República e da boa projeção internacional do país, seja junto das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, seja como europeísta profundo, como grande defensor da lusofonia e da ligação a África ou da relação transatlântica, dimensões fundamentais da política externa nacional.

Com o seu estilo irrequieto e muito ativo, Marcelo tem uma centralidade incontornável na vida política portuguesa e apoios muitos vastos no espetro político e camadas sociais, mas sem que isso prejudique em nada uma cooperação institucional saudável como a que tem existido, aprovando o que é para aprovar, usando o poder do veto nos diplomas legislativos que lhe suscitavam dúvidas, deixando alertas, elogiando com a mesma facilidade com que deixa criticas.

Sempre vi o Presidente Marcelo como um defensor da estabilidade política, não por gostar do PS, mas por considerar que as crises, sobretudo se forem artificiais como acontece muitas vezes, acabam sempre por fazer mais mal do que bem ao desenvolvimento do país, por tudo o que isso implica de desgaste, crispação, recomeçar tudo de novo e desilusão dos eleitores. É preciso lembrar que Marcelo foi presidente do PSD entre 1996 e 1999, quando o Governo do PS conseguiu levar o mandato até ao fim, apesar de estar em minoria no Parlamento, com apenas 112 deputados.

Marcelo Rebelo de Sousa é um homem popular, mas isso não significa que seja um populista. É um humanista que gosta das pessoas e procura estar próximo delas, como considero que os políticos devem estar, o que é ao mesmo tempo uma forma de dessacralizar a função e de valorizar a política.

Enquanto Presidente da República, Marcelo tem puxado pelo orgulho nacional e pela auto-estima dos portugueses, algo de essencial num país e num povo que, historicamente, apesar do seu imenso potencial, ainda não se libertou totalmente dos complexos de inferioridade, do excesso de discrição e receio de afirmação, do medo de existir, como diria o filósofo José Gil.

E na área das Comunidades Portuguesas, um domínio absolutamente fundamental da nossa dimensão interna e externa, não tenho dúvidas em afirmar que foi o melhor Presidente que o país já teve, não obstante o PS também ter tido extraordinários presidentes, entre os melhores, como Mário Soares e Jorge Sampaio. Sou testemunha disso. Marcelo valorizou como nenhum outro Presidente as Comunidades Portuguesas, puxou pelo seu orgulho, reconheceu o seu valor, disse-lhes que eram os melhores do mundo e que o país não podia nem devia voltar-lhes as costas. Sei bem como os nossos compatriotas no estrangeiro o apreciam e nele depositam confiança para a defesa dos seus interesses.

No estrangeiro, o Presidente é um estadista prestigiado e tem sido inquestionavelmente um símbolo de modernidade, de abertura e de inteligência, o que, pelo seu desempenho e personalidade, faz mais para promover Portugal do que qualquer campanha publicitária.

É por isso que não tenho dúvidas sobre o sentido do meu voto nas próximas eleições presidenciais.

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