Reeleição do Presidente Ouattara abre disputa pelo poder político na Costa do Marfim

Oposição boicotou presidenciais de sábado e criou governo paralelo de transição. Polícia carregou sobre opositores em frente à residência do principal adversário, Henri Konan Bédié, que pode ser detido nas próximas horas.

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O Presidente Ouattara (no cartaz) foi reconduzido no cargo com mais de 94% dos votos, segundo a comissão eleitoral EPA/LEGNAN KOULA

A Costa do Marfim transformou-se nos últimos dias num palco de disputa pelo poder político, na sequência das eleições presidenciais realizadas no passado sábado e boicotadas pela oposição. 

Um dia depois de terem anunciado a criação de um governo paralelo de transição, os opositores ao Presidente Alassane Ouattara viram a comissão eleitoral costa-marfinense confirmar, esta terça-feira, a vitória esmagadora do chefe de Estado no acto eleitoral do fim-de-semana, com mais de 94% dos votos, segundo os resultados preliminares.

Depois de revelados os números provisórios do triunfo de Ouattara, dezenas de manifestantes opositores juntaram-se em frente à casa do líder da oposição e ex-Presidente da Costa do Marfim, Henri Konan Bédié, em Abidjan, mas foram dispersados pela polícia, que recorreu a gás lacrimogéneo.

Fontes da polícia disseram ao site noticioso Connectionivoirienne que estão a aguardar a chegada de um mandado de detenção emitido pela Procuradoria-Geral para Bédié, que foi acusado pelo Governo pelo crime de sedição e que pode ser preso nas próximas horas.

Também a residência do ex-primeiro-ministro e opositor Pascal Affi N’Guessan foi cercada por elementos do corpo de segurança.

As eleições presidenciais costa-marfinenses disputaram-se num clima de enorme tensão, com registo de confrontos violentos e mortíferos entre apoiantes dos dois campos políticos – pelo menos 30 pessoas morreram durante a campanha e outras cinco no próprio dia da eleição.

Nas últimas horas foram mobilizadas para as ruas das principais cidades da Costa do Marfim várias unidades policiais e elementos forças de segurança.

O ambiente vivido no país está a trazer para o presente os fantasmas da guerra civil de 2010-2011, iniciadas por causa de outras eleições presidenciais, que tiveram Ouattara como um dos protagonistas, e cujo desenvolvimento para um conflito armado tirou a vida a mais de 3 mil pessoas.

Segundo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a situação de alarme na Costa do Marfim levou cerca de 3200 refugiados a fugirem para os países vizinhos nos últimos dias, incluindo cerca de mil que chegaram à Libéria nas derradeiras 24 horas.

Guerra constitucional

No centro da disputa pelo poder está a candidatura de Alassane Ouattara a um terceiro mandato presidencial. A Constituição costa-marfinense estabelece um limite de dois mandatos, mas Ouattara argumenta que a aprovação da nova Lei Fundamental, em 2016, lhe deu o direito a recandidatar-se de novo.

Os restantes candidatos defendem, porém, que a candidatura do Presidente é inconstitucional e decidiram, por isso, apelar ao boicote do sufrágio. 

De acordo com os resultados revelados pela comissão eleitoral, Henri Konan Bédié teve 2%, Pascal Affi N’Guessan teve 1% e um quarto candidato, Kouadio Konan Bertin, teve 2%.

Os dois primeiros juntaram-se, então, para criar um conselho de transição, liderado por Bédié, que terá como objectivo governar a Costa do Marfim até à realização de novas eleições.

“O conselho terá a missão de preparar o enquadramento para a realização de eleições presidenciais credíveis e transparentes e irá nomear o governo nas próximas horas”, explicou N’Guessan, na segunda-feira, citado pela Reuters.

Num comunicado conjunto, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e a ONU pediram, no entanto, aos opositores para desistirem do projecto de criação de um governo de transição e para se sentarem à mesa das negociações com Ouattara.

Segundo a comissão eleitoral, a participação foi de 54% dos eleitores inscritos. Tanto esta percentagem, com os resultados preliminares que deram a reeleição a Ouattara, terão de ser confirmados pelo Tribunal Constitucional.

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