Pandemia força corte na previsões económicas do final do ano

Últimas previsões para a economia da zona euro passaram a apontar para uma contracção do PIB no quarto trimestre deste ano. A esperança de uma retoma em V começa a cair por terra

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LUSA/MOHAMMED BADRA

Numa reacção à escalada de casos de covid-19 na generalidade dos países e às novas medidas de confinamento anunciadas pelos governos, começam a suceder-se na zona euro as revisões em baixa das previsões para a evolução da economia durante os últimos três meses do ano. Se, antes, a generalidade das projecções apontava para uma variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB) nesse período, agora a expectativa é a de um novo recuo da actividade, depois da recuperação registada no terceiro trimestre.

Esta segunda-feira, o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs anunciou que passou a agora a prever, para o quarto trimestre deste ano, um recuo em cadeia do PIB da zona euro de 2,3%. É uma inversão completa da tendência esperada porque, na sua anterior projecção para esse período, a estimativa do banco era de um crescimento de 2,2%.

Na mesma linha, os economistas do banco de investimento Morgan Stanley passaram também a apontar para uma contracção da economia da zona euro no quarto trimestre, afirmando que antecipam agora “uma recuperação mais complexa em forma de W, em vez da nossa anterior expectativa de um V assimétrico”.

De igual modo, na sua edição desta segunda-feira, o jornal britânico Financial Times revela que, em média, o conjunto de analistas por si inquiridos aponta para uma contracção da economia da zona euro no quarto trimestre de 2,3%, quando antes quase todos previam uma variação do PIB positiva.

Na sexta-feira, o Eurostat anunciou que, durante o terceiro trimestre do ano, o PIB da zona euro cresceu 12,7% face ao trimestre anterior, recuperando parte das perdas recorde registadas na primeira metade do ano. Esse resultado, embora ainda longe de fazer regressar o PIB aos níveis pré-crise, poderia reforçar a esperança de uma retoma relativamente rápida e sem interrupções. No entanto, essa esperança praticamente caiu por terra com os mais recentes desenvolvimentos na frente sanitária.

Com a segunda vaga da pandemia confirmada, os diversos governos europeus, incluindo o português, têm vindo a anunciar novas medidas destinadas a travar o contágio, mas que em muitos casos podem também conduzir a recuos na actividade económica.

Para a economia portuguesa, que depois de recuos de 4% no primeiro trimestre e de 13,9% no segundo trimestre, cresceu 13,2% no terceiro em cadeia, mantendo uma variação homóloga do PIB negativa de 5,8%, a expectativa de uma interrupção do processo de retoma já no quarto trimestre também não pode ser descartada.

As novas medidas impostas pelo Governo podem ter como resultado uma redução do volume de negócios em alguns sectores de actividade, sendo que já antes das medidas, e somente perante os sinais de aceleração da pandemia, já se notou em alguns indicadores, como as vendas de veículos automóveis, o tráfego aéreo ou o consumo de electricidade, uma contracção durante o mês de Outubro.

Depois da queda a pique da actividade económica nos primeiros meses da pandemia, os economistas têm tentado antecipar a que tipo de retoma se poderá vir a assistir.

Num cenário mais optimista, poder-se-ia pensar na chamada recuperação em V, em que o regresso do PIB aos níveis pré-crise seria quase imediato. No entanto, desde o início, se colocou a hipótese de a própria evolução da pandemia, com o risco de existência de novas vagas, não permitir que a economia recupere de uma forma rápida e linear, estando antes sujeita a avanços e recuos.

É este último cenário que se parece estar já a confirmar para a zona euro e que é também provável para Portugal. Aliás, tendo em conta os números já conhecidos do PIB para os nove primeiros meses do ano, a previsão do Governo de um recuo da economia de 8,5% no total de 2020 face a 2019, é consistente com um recuo do PIB de cerca de 3% durante o quarto trimestre do ano.

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