Quando será o pico da pandemia? “Não sabemos o tamanho da montanha”, admite Graça Freitas

Directora-geral da Saúde vincou a necessidade de restringir contactos sociais nas próximas semanas.

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Graça Freitas fez o balanço aos novos números esta segunda-feira LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Nas últimas semanas, Portugal tem assistido a uma subida do número diário de novas infecções, correspondente a uma segunda onda do vírus que se reflecte por toda a Europa. Mas quando é expectável que cheguemos ao pico desta nova vaga? De acordo com a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, ainda não é possível apurar esse momento com exactidão, dada a imprevisibilidade do vírus.

“Um dos problemas desta doença é não sabermos isso [quando será o pico]. Não sabemos o tamanho da montanha e, mesmo em relação à gripe, costumo dizer que só sabemos quando chegámos ao pico quando começamos a descer. Podemos ter a certeza que estamos a correr uma maratona sem fim, teremos outras ondas”, explicou Graça Freitas durante a conferência de imprensa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) desta segunda-feira.

Portugal registou, esta segunda-feira, um máximo absoluto no número de mortes: no último dia, a covid-19 matou 46 pessoas, elevando para 2590 o número de óbitos provocados pela covid-19. Quanto ao número de casos, o país registou 2506 infecções, num total de 146.847 mil pessoas infectadas desde o início da pandemia.

No balanço feito pela DGS em conferência de imprensa, a directora-geral da Saúde relembrou as atitudes básicas que servirão para “achatar a curva”, colocando o foco na redução ao máximo dos convívios sociais nas próximas semanas.

“O melhor é nem sequer adoecer e propagar a doença. A prevenção está muito relacionada não só com os nossos comportamentos individuais, mas com a responsabilidade que as entidades dos vários sectores têm para propiciar aos nossos cidadãos a capacidade de terem comportamentos saudáveis. A grande medida é, de facto, reduzir o número de contactos entre as pessoas. Com quantas menos pessoas contactar menos hipótese tenho de transmitir a doença”, reiterou.

A responsável admitiu ainda que os últimos dias têm resultado em pressão para os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), dado o aumento de internamentos e pacientes em unidades de cuidados intensivos.

“Estes números dão não só a dimensão da pandemia, mas também a sobrecarga no Sistema Nacional de Saúde, seja a testar, diagnosticar e acompanhar doentes, seja a identificar contactos próximos destes doentes e isolá-los para quebrar cadeiras de contágio”, avisou Graça Freitas, afirmando que é uma responsabilidade colectiva “achatar a curva” da pandemia.

Esta segunda-feira é ainda o dia em que o primeiro-ministro, António Costa, propôs a Marcelo Rebelo de Sousa a declaração do estado de emergência. O Presidente da República falará ao país às 21h, em entrevista à RTP.

"Remdesivir não é o medicamento ideal, mas....”

Questionada quanto à recente aquisição de remdesivir, medicamento que não reúne consenso no tratamento da covid-19, por parte do Governo, Graça Freitas deixou a garantia que as autoridades de saúde estão a seguir as “melhores práticas internacionais”, deixando claro que há regras que norteiam a utilização deste fármaco.

“A questão é a eficácia, há regras quanto à sua utilização. Pode não ser o medicamento ideal, mas enquanto fizer algum bem e esse bem ficar comprovado não temos uma panóplia muito grande de medicamentos para administrar. Mas volto a dizer: a Agência Europeia do Medicamento, o Infarmed e os mecanismos europeus para a aquisição do medicamento estão a acompanhar e Portugal segue as melhores práticas internacionais e é nesse sentido que nos temos movido”, resumiu.

Sobre as feiras ao ar livre, afectadas pelas novas restrições decretadas pelo Governo, a directora-geral da Saúde traçou uma distinção clara face ao comércio tradicional, que continuará a operar. "Em relação aos feirantes, não posso deixar de reconhecer que é um sector importante, com dificuldades na sua vida, mas quando comparado com o comércio tradicional há uma grande diferença. É estável, fixo, não é móvel e cria as suas próprias regras, dando-nos uma garantia que são cumpridas”, finalizou.

O presidente da Federação Nacional das Associações de Feirantes, Joaquim Santos, criticou o Governo este domingo, dizendo que o executivo estava a “retirar o pão” a estes profissionais.

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