Guimarães Noc Noc assinala uma década confinado a um parque de estacionamento

As propostas artísticas deste festival de rua espalham-se habitualmente pela cidade, ocupando espaços como cafés, lojas ou até casas, mas a 10.ª edição, embora capaz de resistir à pandemia, vai estar confinada ao parque de estacionamento de Camões neste fim-de-semana.

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Ao longo da última década, a cidade de Guimarães reservou o primeiro fim-de-semana de Outubro para se converter num espaço onde a arte espreita em cada rua: o Noc Noc surgiu em 2011 como um evento em que sedes de associações culturais, lojas, cafés, restaurantes e até habitações escancaram as portas para exibir uma obra de ilustração, uma instalação multimédia ou uma performance de dança contemporânea. A 10.ª edição do festival ocorre, porém, em 2020, e a habitual sinalética numérica que guia os visitantes estará ausente do espaço público. Assim vai acontecer neste fim-de-semana, porque a arte, em vez de ladear as ruas vimaranenses, vai-se confinar ao parque de estacionamento de Camões, uns 100 metros a sul do Largo do Toural.

“O parque de Camões surgiu como solução por ser um espaço novo, grande, ventilado. Está sob alçada da Câmara Municipal, parceira do Guimarães Noc Noc, o que agiliza a organização”, adianta ao PÚBLICO Pedro Ferreira, presidente da Ó da Casa, associação que criou o evento e o organiza anualmente.

Devido à pandemia, a realização do festival esteve em dúvida “durante muito tempo”, com a Ó da Casa a ter de “melhorar” progressivamente o plano de contingência até conseguir as autorizações da autarquia, da Protecção Civil e da Direcção-Geral da Saúde. “A última validação foi feita hoje [nesta sexta-feira], depois de se inspeccionar o local”, revelou o dirigente associativo.

A 10.ª edição do Noc Noc vai-se repartir por dois pisos do parque: um deles alberga pintura, escultura, instalação artística e fotografia, numa exposição com cerca de 70 projectos artísticos; o outro é uma “arena com uma plateia de 80 lugares” para espectáculos de música, teatro e dança. Esse espaço dedicado às artes performativas vai poder receber grupos de 80 pessoas de duas em duas horas. Já a zona das artes plásticas tem, como limite, grupos de 60 visitantes, a cada hora. “Devido às recomendações da DGS, temos de impor limite de visitantes e pré-reserva de bilhetes gratuitos para diferentes horários”, esclarece Pedro Ferreira.

O legado mais duradouro do Noc Noc 2020 está, porventura, numa das entradas do parque de estacionamento: numa das casas da Travessa de Camões, vê-se um mural do artista Carlos Quitério, denominado Rizoma, que retrata o acto de abraçar. Para o presidente da Ó da Casa, a obra espelha a relação entre o festival e a cidade. “O mural vai ali ficar e celebra a lógica da cidade abraçar este evento. O rizoma é uma estrutura horizontal, que vai rebentando aqui e ali, para criar ligações e crescer num sentido horizontal. O Noc Noc também é assim”, resume.

Já a vereadora municipal com o pelouro da Cultura, Adelina Paula Pinto, realçou que o festival só vai estar no terreno devido à “resiliência” da associação organizadora. “O evento volta a dar a oportunidade às pessoas de respirarem este ambiente artístico, cumprindo todas as regras de segurança e as medidas sanitárias”, salienta, num comunicado emitido nesta sexta-feira pela câmara de Guimarães, entidade que apoia o evento com 20 mil euros.

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