Pedro Nuno Santos: Portugal está “disponível e ansioso” pelo investimento dos EUA

Governo quer americanos e chineses na corrida à concessão do novo terminal de contentores do Porto de Sines

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O Governo quer ver americanos e chineses no concurso internacional para a concessão do novo terminal de contentores do Porto de Sines, disse esta quarta-feira o ministro das Infra-estruturas na apresentação do plano estratégico do maior porto nacional.

“O concurso [para o terminal Vasco da Gama] está a decorrer com prazo até Abril e temos de esperar. Enquanto portugueses o que queremos é que haja muita gente interessada, muitos investidores dos EUA, da China e do resto do mundo, aliás o senhor embaixador dos EUA deu a entender que havia esse interesse e nós estamos de braços abertos para quem quiser investir em Portugal”, afirmou Pedro Nuno Santos.

Em resposta ao embaixador norte-americano, que disse em entrevista ao Expresso que “Portugal tem de escolher entre os aliados e os chineses”, o governante reiterou que “em Portugal mandam os portugueses”, como já tinha sido dito pelo Presidente da República e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.

“Em primeiro lugar, em Portugal mandam os portugueses, é assim, já vamos a caminho dos 900 anos, e assim continuará a ser. Em segundo lugar nós estamos obviamente muito disponíveis e ansiosos pelo investimento americano em Portugal”, declarou Nuno Santos aos jornalistas.

Minutos antes o ministro já tinha feito questão de destacar que o Porto de Sines, que completa 43 anos no próximo mês de Dezembro, é “do povo português” e constitui um “bom exemplo” da importância das políticas públicas.

“O Porto de Sines é um exemplo de que o Estado, o país, faz apostas certas. Foi uma grande aposta pública que correu bem.”, defendeu, para fundamentar a importância da actual e estratégia nacional para o hidrogénio e a necessidade de ser o Governo a liderar o processo.

Hidrogénio é caminho para industrialização

“A verdade é que o país só se desenvolve se tiver um actor, que normalmente é o Estado, que arrisca, toma a dianteira”, atirou o responsável das Infra-estruturas, para quem “Portugal tem condições únicas para produzir hidrogénio”. Pedro Nuno Santos reforçou que “não é por acaso” que o seu ministério tem “insistido nessa estratégia, apesar dessa parte de portugueses que geralmente não acredita que nós somos capazes”.

Segundo o ministro, 75% do custo de produção de hidrogénio é electricidade e Portugal é “hipercompetivo” nas energias eólica e solar. “Não é por acaso que, na Europa, aqueles [países] que estão em primeiro lugar na aposta no hidrogénio, como é o caso da Holanda, olharam para Portugal”, disse, referindo-se ao acordo assinado na semana passada com os holandeses para a criação de “uma rota de exportação de hidrogénio entre Sines e Roterdão”

“Nós queremos que o Porto de Sines nos permita industrializar Portugal e a estratégia não é só transportar hidrogénio. Se formos dos primeiros países a entrar neste comboio, vamos conseguir um conjunto de actividades industriais e tecnológicas ligadas ao hidrogénio.”, concluiu.

Numa altura em que a movimentação de carga portuária se ressente da redução da actividade das centrais termoeléctricas, cujo fim está anunciado, o presidente da Administração do Porto de Sines (APS) defendeu também a estratégia apontada pelo governante.

“O hidrogénio terá de fazer parte do futuro do porto”, afirmou José Luís Cacho. De acordo com o administrador, a estratégia para fazer do Porto de Sines “uma referência para o futuro portuário europeu” passa por um “novo ciclo” baseado no “reforço do gás natural, no hidrogénio e no desafio da digitalização”.

3% da quota ibérica

O Porto de Sines tem como metas, para os próximos cinco anos, duplicar a quota da carga portuária associada ao comércio externo da Península Ibérica, dos actuais 1,7% para 3% do total, aumentar em 490% a movimentação a partir de empresas instaladas nas zonas industriais de Sines, para aumentar a instalação de empresas e o emprego, e atingir uma classificação de oito pontos, num máximo de nove, quanto ao grau de satisfação dos parceiros portuários e logísticos.

Para atingir estes objectivos, o novo plano estratégico para o porto alentejano, coordenado por Álvaro Nascimento, professor da Nova Business School, aponta três eixos de actuação, designadamente o reforço das ligações física e digital, a afirmação como coordenador do sistema portuário e logístico nacional e o compromisso com a sustentabilidade económica e ambiental.

O autarca de Sines aproveitou a presença do ministro para recordar infra-estruturas que ainda estão em falta, como a conclusão da A26, para que Sines tenha ligação à rede nacional de auto-estradas. Pedro Nuno Santos respondeu que não podia avançar pormenores sobre o Plano Nacional de Recuperação, que vai ser apresentado em breve por António Costa, mas assegurou que o Governo tem “consciência de que há um conjunto de infra-estruturas que são fundamentais para potenciar o desenvolvimento do Porto de Sines”.

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