Reino Unido usa câmaras de vigilância chinesas banidas pelos EUA

Hikvision é uma das 28 companhias de câmaras de vigilância banidas pelos Estados Unidos da América. Presente em centros de lazer e casas de banho de escolas britânicas, a tranquilidade do Reino Unido face ao recurso a este tipo de câmaras está a deixar a comunidade internacional inquieta.

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The Guardian

Mesmo estando associada a casos de violação de direitos humanos, a Hikvision - companhia chinesa de câmaras de vigilância - conseguiu ganhar força no Reino Unido. Depois de iniciado, ainda em 2019, o debate em parlamento sobre a ligação do país a esta companhia de vigilância, a proibição da utilização destas câmaras não foi aprovada, encontrando-se presentes em centros de lazer e casas de banho de escolas britânicas. A discussão ganhou proporções internacionais a partir da restrição, por parte dos Estados Unidos da América (EUA), da aplicação destas câmaras em território nacional.

De acordo com o jornal The Guardian, ao mesmo tempo que foi alvo de preocupação por parte do estado, o número de câmaras em uso aumentou com o início da pandemia. Neste momento, a Hikvision gera milhões de dólares em receitas anuais ao vender a tecnologia que produz às companhias e organizações britânicas. Mesmo depois dos EUA difundirem a informação de que estas câmaras estão a ser utilizadas para monitorizar minorias muçulmanas como os Uighurs, que neste momento estão a ser isolados em campos de detenção na China, a situação permanece igual no território inglês. A respeito desta situação, a companhia reconheceu, segundo o jornal britânico, que as câmaras podem ter sido utilizadas nestes locais, em específico nos campos de re-educação. 

Neste cenário, James Lewis, um investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington DC, nos EUA, lança uma questão: “estará a China a alargar o próprio sistema de vigilância?”. Depois de colocada, o investigador responde à pergunta ao dizer que “é possível argumentar que sim, quando outros países estão a usar tecnologias como a da Hikvision nos cidadãos. Agora, a China pode fazer a vigia a nível global”, lê-se no jornal britânico. 

Até agora, existem registos públicos que comprovam a presença deste tipo de câmaras em cidades como Kensington, Chelsea e Chelmsford, no Reino Unido. A atitude do país britânico diverge, assim, da actuação dos EUA. Em 2019, este último, apresentou a lista das 28 companhias banidas do território americano, sendo a Hikvision uma delas. No documento oficial partilhado pelas autoridades norte-americanas, as companhias seleccionadas são acusadas de praticar actividades que vão contra a política externa do país. “Estas entidades estão ligadas à violação de direitos humanos e aos abusos provenientes da campanha de repressão, detenção arbitrária e vigilância de alta tecnologia contra Uighurs, Kazakhs e outros membros de minorias muçulmanas por parte da China”, lê-se. 

Sem prova em contrário, o Reino Unido mostra-se neutro face à opinião dos restantes estados quanto aos problemas que a aplicação deste sistema de vigilância pode ter no país e aos abusos de direitos humanos que a ele estão associados. Ao jornal The Guardian, um porta-voz do concelho de Guildford, que utiliza estas câmaras, explicou que “na altura em que foram implementadas, não tinham conhecimento das alegações associadas a elas”. 

Hikvision refuta as acusações de que é alvo ao defender a inexistência de provas em como as imagens capturadas foram enviadas para Pequim, contrariando assim a posição dos Estados Unidos. Além disso, afirma levar “muito a sério a questão da violação de direitos humanos e reconhece a responsabilidade de proteger as pessoas desse cenário”.

Câmaras instaladas em casas de banho de escolas 

West Norfolk, um agrupamento de escolas britânicas, integrou o sistema de vigilância chinês no perímetro escolar e foi comparado ao reality show - Big BrotherAs câmaras foram instaladas nas casas de banho da escola secundária Smithdon em Hunstanton. Garantir a “saúde e segurança pessoal dos estudantes e evitar actos de vandalismo” foram os argumentos utilizados para justificar esta decisão. 

Texto editado por Ivo Neto 

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