Polícia Judiciária terá pedido ajuda a advogado da Doyen para identificar Rui Pinto

Revelação foi feita por José Amador, investigador da Polícia Judiciária, na audiência do Football Leaks. Objectivo seria que processo de identificação de endereço electrónico pudesse ser “agilizado”.

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Rui Pinto na primeira sessão de julgamento Rui Gaudencio

A Polícia Judiciária fez chegar um ofício a Pedro Henriques, então advogado da Doyen, para que o fundo de investimento pudesse acelerar uma investigação que tinha como objectivo identificar Rui Pinto. A revelação foi feita na tarde desta quinta-feira pelo investigador José Amador, uma das peças-chave na identificação e detenção de Rui Pinto em Budapeste e posterior extradição para Portugal. O inspector da Polícia Judiciária disse que o objectivo seria que o fundo pudesse interferir junto “dos russos” para identificar o endereço electrónico que permitiria identificar Rui Pinto. 

Logo no início do depoimento, debatia-se o conhecimento que Rui Pinto tinha – espelhado num email trocado com Nélio Lucas – de que a Polícia Judiciária teria pedido informações à Yandex, servidor onde estava alojado o Football Leaks, sobre o detentor da página. Questionado sobre de que forma Rui Pinto poderia ter tomado conhecimento desta informação, José Amador disse que o denunciante tinha consultado a caixa de correio electrónico de Pedro Henriques, advogado que na altura representava a Doyen.

“Mas como é que Pedro Henriques teve acesso a este documento?”, perguntou Margarida Alves. A resposta do inspector não foi convincente: “Pois, não é habitual, mas era para ver se agilizava junto dos russos”, procurou explicar o inspector, não conseguindo precisar exactamente de que forma o processo poderia ser agilizado pelo fundo de investimento nem quem tinha dado autorização para que este ofício da Polícia Judiciária chegasse ao advogado da Doyen.

Na fila de bancos dos arguidos, Aníbal Pinto abanava energicamente a cabeça: o advogado usado por Rui Pinto nas negociações com a Doyen – acusado de um crime de extorsão na forma tentada – sempre acusou Pedro Henriques de ter agido como um “agente provocador” no processo. À saída do tribunal, disse estar “chocado”, criticando duramente o facto de, no seu entendimento, a Polícia Judiciária ter estado “a trabalhar” para a Doyen. “Mas como é que a Polícia Judiciária dá elementos de pedidos de informação internacional a pessoas interessadas no processo?”, interrogou Aníbal Pinto, o segundo arguido deste caso, acusado de um crime de extorsão na forma tentada. 

José Amador explicou que o encontro entre Aníbal Pinto e os elementos da Doyen numa estação de serviço funcionou com uma lógica de “flagrante delito”. O objectivo das autoridades seria que Aníbal Pinto aceitasse dinheiro em troca de informações da Doyen ou que, na melhor das hipóteses, Rui Pinto marcasse presença no encontro e pudesse ser identificado e detido de imediato.

José Amador explicou ainda que uma “coincidência” terá ajudado a identificar Rui Pinto: este inspector da PJ, ainda antes de ser colocado na investigação do Football Leaks, tinha estado envolvido na disputa entre o hacker e um banco das ilhas Caimão, onde Rui Pinto foi suspeito de ter desviado 264 mil euros. Quando ouviu Aníbal Pinto durante o encontro com a Doyen – em que o advogado descreveu o seu cliente com um jovem na casa dos 20 anos e com questões antigas com uma entidade bancária nestas ilhas –, José Amador fez a ligação.

Os endereços electrónicos da Hungria, onde Rui Pinto já residia, e os acessos informáticos feitos ao Sporting com um IP da Universidade do Porto, o mesmo que teria acedido à instituição bancária, teve praticamente a certeza de que era o gaiense o homem por detrás do Football Leaks e o suspeito da alegada tentativa de extorsão à Doyen.

O inspector da Polícia Judiciária continuará a ser ouvido na próxima terça-feira, dia em que continuará o julgamento do processo onde Rui Pinto é acusado de 90 crimes

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