Fileira do pinho cresce em todos os indicadores, apesar do abrandamento das exportações

A recessão económica provocada pela pandemia de covid-19 “pode prejudicar as exportações da fileira do pinho”. E alguns agentes económicos já verificam, aliás, “alguma contração da procura nos mercados internacionais”. Apesar disso, o sector cresceu em 2019 em todos os indicadores

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DRO DANIEL ROCHA

Apesar de o volume em crescimento do pinheiro-bravo em Portugal ter registado um decréscimo “impressionante” de 37% entre 2005 e 2019, com a perda de 27% da área plantada no período de 1995 a 2015 (13.240 hectares por ano, em média), a fileira do pinho em Portugal está “em crescimento”.

O sector representou 81% dos postos de trabalho e 88% das empresas das indústrias florestais do país em 2019. E os últimos indicadores revelados em finais de Agosto pelo Centro Pinus mostram que o sector é responsável por 44% do volume de negócios das indústrias florestais e por 50% do valor acrescentado bruto (VAB) das empresas industriais da fileira florestal.

Esta fileira, que agrega 8516 empresas e é responsável por 57.843 empregos, registou um volume de negócios de 4348 milhões de euros em 2019 e ainda respondeu por 36% das exportações de bens das indústrias florestais (1876 milhões de euros).

“Esta tendência de crescimento foi coerente com o desenvolvimento global da economia”. Quem o diz é o presidente da Direcção do Centro Pinus sobre a evolução positiva do sector o ano passado, que registou mais volume de negócios (5%), mais emprego (4%), mais VAB (8%), mais exportações (3%), mais plantas certificadas (51%) e mais consumo de madeira (7%).

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Um outro bom indicador indirecto da área plantada com pinheiro-bravo no país é o número de plantas certificadas pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Foi de 1930 hectares para a época 2019/2020, aumentou em 51% e foi o mais elevado desde 2016, data a partir da qual o Centro Pinus, associação que reúne os principais agentes da fileira do pinho, começou a publicar anualmente estes indicadores.

“É, sem dúvida, um sinal positivo”, frisa João Gonçalves ao PÚBLICO, apesar de este número “indicar apenas uma plantação potencial de 1930 hectares”, que é “manifestamente insuficiente para repor a área perdida de pinheiro-bravo”.

O Centro Pinus estima que, para alcançar as metas de área de pinheiro-bravo preconizadas na Estratégia Nacional para a Florestas, seja “necessário rearborizar 57 mil hectares anualmente de 2021 a 2027”. E, para tal, o sector precisa de 564 milhões de euros de investimento até 2034, segundo um estudo divulgado em finais de Junho.

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Falta de mão-de-obra mais sentida no sector primário

O PÚBLICO também quis saber como está o sector em termos de mão-de-obra. O volume do emprego cresceu 4% no ano passado, para 57.843 pessoas, mas a falta de mão-de-obra disponível é um problema transversal, de que todas as empresas se queixam.

“Sabemos que a fileira do pinho tem uma grande capacidade de criar emprego e representou mesmo 88% das empresas industriais do sector florestal”, começa por dizer João Gonçalves. No entanto, “a falta de mão-de-obra é mais sentida no sector primário”.

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Em meados de Julho, o PÚBLICO questionou o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) sobre as carências de mão-de-obra no sector florestal, desde a exploração de madeira às serrações e à indústria.

António Fontainhas Fernandes constatou que “a mão-de-obra no sector florestal tem vindo a escassear, em especial a qualificada, nos diferentes contextos de trabalho”. E assumiu que o “problema tem vindo a acentuar-se, desde logo porque é uma área com baixa capacidade de atracção de jovens” e porque, “provavelmente, o enfoque na problemática dos incêndios florestais tem passado uma imagem muito centrada em aspectos negativos e não nas conhecidas vantagens económicas e de sustentabilidade ambiental da floresta”.

“Fileira do pinho dá cartas em todos os produtos que exporta”

Analisemos agora o crescimento de 8% no valor acrescentado bruto na fileira do pinho em Portugal (valor da actividade produtiva menos os custos de produção) e o aumento das exportações.

Quanto ao primeiro, João Gonçalves faz notar que a fileira é “muito diversa e complexa”. E explica: “Em 2019, contabilizámos pelo menos 309 empresas de primeira transformação de madeira, a que acrescem oito de primeira transformação de resina.”

Ora, “muitas destas empresas encontram-se interligadas, pelo que também se verifica um efeito de somatório na criação sucessiva de valor ao longo da fileira”, diz o presidente do Centro Pinus. Depois, há “muitas empresas com forte capacidade de inovação” no sector, que “continuam a lançar novos produtos de grande valor acrescentado” no mercado, o que justifica estes indicadores.

Já em matéria de exportações é preciso diferenciar. Se é verdade que cresceram 3% em 2019, o produto oriundo da indústria onde o crescimento das vendas para o exterior foi mais notório foi o das pellets (45%). E o dos painéis (13%).

João Gonçalves é taxativo: “A fileira do pinho dá cartas em todos os produtos que exporta.” E chama a atenção para os valores absolutos, onde os sectores com “maior contributo para as exportações” são o mobiliário, a madeira e o papel.

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“O cidadão comum geralmente não associa o pinheiro-bravo ao mobiliário, porque desconhece que os painéis de madeira dos móveis que adquire são produzidos à base de pinho”, lembra o presidente do Centro Pinus. E realça até outra curiosidade: “A fibra de pinheiro-bravo também é essencial para dotar o papel de embalagem de resistência e o aumento do comércio electrónico e a substituição do plástico têm aumentado muito a procura deste papel”

Neutralidade carbónica das pellets questionada

E a crise económica provocada pela pandemia do novo cronavírus?, perguntámos. João Gonçalves assume que “a recessão económica pode, sem dúvida, prejudicar as exportações da fileira do pinho”. Alguns agentes económicos já verificam, aliás, “alguma contracção da procura nos mercados internacionais”.

Ainda assim, “esta pandemia parece ter consolidado a importância de conceitos como a bioeconomia ou a economia circular, assim como uma maior consciência ambiental do consumidor”. E estes factos e tendências “criam um contexto favorável aos produtos da base florestal para o futuro”, acredita o empresário.

Já quanto à exportação de pellets, ela é “suportada por políticas energéticas, que subsidiam a produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis”, refere João Gonçalves. É um produto produzido “com madeira, e não com biomassa florestal residual, tendo representado 37% do consumo de madeira de pinho nacional em 2019”. Já é, aliás, “o segundo subsector desta fileira neste indicador”.

O presidente do Centro Pinus não esconde que “a neutralidade carbónica das pellets foi seriamente questionada pela comunidade científica”. Alerta, contudo, que “estes factos exigem uma profunda reflexão da sociedade e dos decisores políticos” e que “há lições valiosas a aprender, imprescindíveis para fundamentar as opções futuras”.

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