Pinheiro-bravo precisa de 564 milhões de euros até 2034

Estimativa do que é preciso investir para atingir a meta mínima da Estratégia Nacional para as Florestas é feita pelo Centro Pinus. A cada ano perdem-se, em média, 13.240 hectares de floresta de pinho.

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Adriano Miranda

Em meio século, mais de metade da floresta de pinho desapareceu. Só entre 2005 e 2019, o volume em crescimento daquela espécie autóctone registou um decréscimo “impressionante” de 37%, tendo-se perdido 27% da área plantada no período de 1995 a 2015. O Centro Pinus, uma associação que reúne representantes do sector da madeira ao papel, da investigação e do ensino, diz que, para cumprir as metas da Estratégia Nacional para as Florestas, o sector precisa de 564 milhões de euros de investimento até 2034.

A componente empresarial da fileira do pinho emprega 55.826 pessoas, representando 81% do emprego do sector florestal e 88% das empresas industriais (8437) em Portugal. De acordo com as últimas actualizações do Inventário Florestal Nacional, é responsável por 50% do valor acrescentado bruto (VAB) das empresas industriais da fileira florestal e por 3,1% das exportações (1830 milhões de euros).

Apesar desta relevância económica, a área florestal de pinhal bravo que alimenta a indústria está em declínio no país. Em meio século, mais de metade da floresta de pinho desapareceu. Ocupa hoje 713.300 hectares (22%) da floresta nacional, segundo o último Inventário Florestal Nacional, que já incorpora a avaliação das áreas, volumes e biomassa afectados pelos incêndios rurais de 2016 a 2018.

O volume em crescimento daquela espécie autóctone registou um decréscimo que o Centro Pinus – Associação de Valorização da Floresta de Pinho, considera “impressionante”, de 37% entre 2005 e 2019, tendo-se perdido 27% da área plantada no período de 1995 a 2015.

A perda média está calculada em 13.240 hectares por ano. Os incêndios, principalmente quando se repetem em intervalos de tempo inferiores à capacidade de regeneração natural da espécie, então entre as principais causas para este declínio.

Ao PÚBLICO, João Gonçalves, presidente do Centro Pinus, complementa os dados. Em 2015, diz, 42% da área que deixou de estar ocupada por pinheiro-bravo estava ocupada por matos (111.400 hectares, sem indicação se seriam espécies invasoras) e 27% estava plantada com eucaliptos (71.500 hectares).

Aliás, de acordo com as últimas contas económicas da Silvicultura divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), “em 2018 continuaram os cortes e remoções de madeira de pinheiro bravo em resultado dos incêndios, observando-se um acréscimo de madeira para serrar em volume (+2,0%), face a 2017”. Esse aumento da oferta originou “uma diminuição do preço, tendo-se registado um decréscimo em valor (-2,4%)”.

O Centro Pinus está bem ciente desta conjuntura. E avisa que “a concentração dos pinhais em idades jovens é preocupante, porque ainda não originam receitas e exigem investimento”. A título de exemplo, em 2015, apenas 4% dos pinhais se encontrava na classe 30-40 anos, ou seja, a idade em que com que geralmente se realiza o corte final das árvores e se gera a principal receita para os seus proprietários.

Meta é atingir os 727 mil hectares

Para ser possível reverter esta situação e atingir a meta mínima da Estratégia Nacional para as Florestas de 727 mil hectares daquela espécie arbórea, o Centro Pinus estima que seja necessário um investimento de 564 milhões de euros nos próximos dois ciclos de apoios comunitários (2021-2027 e 2028-2034). Só no próximo período de programação (2021-2027) é necessário um investimento mínimo em pinheiro-bravo no valor de 53 milhões de euros por ano.

O Centro Pinus propõe várias intervenções: “Reforçar a remuneração dos serviços ambientais fornecidos por esta espécie; apoiar os proprietários florestais em microfúndio e minifúndio; e investir na gestão activa das áreas florestais através de um investimento integrado.”

Estas medidas, considera, são essenciais para que todos os proprietários de áreas de pinheiro-bravo possam fazer “uma gestão mais eficaz das suas áreas com apoios” de modo a “reverter a actual tendência de redução de área” daquela espécie.

João Gonçalves, presidente da estrutura, lembra um estudo recentemente elaborado pela associação que lidera segundo o qual “apenas houve um investimento de 5,1% do PDR [Programa de Desenvolvimento Rural] 2020 em pinheiro-bravo”, sendo que, no último programa equivalente, o ProDer, “apenas 1% das áreas florestais com apoio à gestão eram compostas pelo pinheiro-bravo”.

Questionado sobre como foi calculada a estimativa do montante de investimento necessário (564 milhões de euros) para os períodos de 2021-2027 e 2028-2034 e que dados-base foram tidos em conta para apontar para este valor, João Gonçalves começa por ressalvar que “em nenhum momento se deve confundir o decréscimo do pinhal-bravo revelado pelo Inventário Florestal com o grande potencial desta espécie autóctone”. Depois, explica que “tendo em conta que os incêndios infelizmente fazem parte da nossa realidade, considerámos os dados estatísticos históricos de área ardida em pinhal-bravo”.

“Sabendo que parte dessa área vai regenerar naturalmente e precisar de gestão activa (criando faixas e reduzindo a densidade de árvores), e uma percentagem já não terá essa regeneração e precisará ser rearborizada, chegámos a uma estimativa da área que necessitaria de intervenção”, prossegue. A estimativa do custo associado às operações de condução de regeneração natural e rearborização considerou “valores médios unitários por unidade de área”, refere João Gonçalves.

1500 euros/hectare para rearborização de pinheiro-bravo

Em média, quanto custa investir num hectare de pinheiro bravo em Portugal? — perguntámos. O presidente do Centro Pinus diz que “referir custos médios de operações florestais implica sempre fazer uma importante ressalva prévia, porque as condições no terreno variam muito, o que se reflecte nos custos das intervenções”. Os dados da CAOF (Comissão de Acompanhamento das Operações Florestais) confirmam-no. Ainda assim, no contexto particular desta estimativa de investimento necessário nos próximos anos, “o Centro Pinus considerou um custo médio de 1000 euros/hectare para condução de regeneração natural e de 1500 euros/hectare para rearborização”.

Chegados a estes números, coloca-se a questão: o investimento de 564 milhões de euros que o Centro Pinus considera necessário terá de ser feito por privados ou o Estado também tem obrigações por cumprir neste domínio? João Gonçalves fala de “um desfasamento” entre o “elevado potencial do pinhal-bravo” para abastecer uma fileira geradora de emprego e riqueza e a “predisposição do proprietário privado para investir em espécies de ciclo”. Daí que os apoios públicos sejam “a única solução para motivar a acção do proprietário, desbloqueando o principal estrangulamento de base da fileira do pinho”, que é a falta de investimento e a gestão florestal insuficientes.

O presidente do Centro PINUS não tem dúvida: “A sociedade deve consciencializar-se que os proprietários florestais, incluindo de pinhal-bravo, devem ser remunerados pelos serviços de ecossistema.” E isso, diz, “terá custos e benefícios para todos”.

No entanto, o pinheiro-bravo já deu mostras do seu potencial. “No contexto de emergência climática em que vivemos, é de destacar que apesar de se ter tornado a terceira espécie em área ocupada em 2015, o pinhal-bravo continuou a ser o maior reservatório de carbono da floresta nacional, com 90,3 gCO2”, realça João Gonçalves.

O pinheiro-bravo é também “a espécie com mais carbono armazenado por hectare na biomassa viva das árvores de povoamentos puros, com 119,4 tCO2eq[1]”. Não falando na “enorme variedade de produtos que continuam a armazenar o carbono” e que são “passíveis de reciclagem no final da sua utilização, num perfeito exemplo de economia circular”.

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