Abraçar a história e olhar para o futuro: Portugal e a oportunidade judaica

A principal oportunidade a ser criada entre as duas culturas está no crescimento tecnológico e no crescimento da cultura de start-ups.

Ao longo dos últimos anos, a ligação entre Portugal e a cultura judaica tem vindo a fortalecer-se cada vez mais. Trata-se de uma relação com uma longa história e que ganhou ainda mais importância na última década. Agora, é momento para olhar para o futuro e tirar partido das muitas oportunidades que esta ligação pode trazer – para ambos os povos.

Após a aprovação da Lei da Cidadania Portuguesa, em 2013, os judeus sefarditas, descendentes dos judeus expulsos de Portugal e Espanha, puderam tornar-se, finalmente, cidadãos portugueses e voltar à sua terra-natal. De lá para cá, foram muitos os judeus que se reencontraram com a sua ascendência portuguesa e, nos últimos cinco anos, um total de 100.000 candidaturas à cidadania foram apresentadas por judeus. Cerca de 20 mil já são cidadãos portugueses, de acordo com os relatórios das autoridades. Com a chegada destes novos cidadãos, vieram também para Portugal milhares de milhões de euros de investimento para a economia.

Vindos de várias partes do mundo, os judeus sefarditas veem em Portugal um país com potencial de crescimento, um mundo de oportunidades a nível económico e cultural. Com paisagens deslumbrantes e um património histórico único, Portugal é cada vez mais atrativo – e não apenas ao que ao turismo diz respeito.

A maioria dos investimentos dos novos cidadãos foi direcionada para o turismo, bens imobiliários, infra-estruturas, indústrias médicas, entre outros setores. Mas a principal oportunidade a ser criada entre as duas culturas está no crescimento tecnológico, no crescente investimento e contribuição para o sector tecnológico, e no crescimento da cultura de start-ups, que tem vindo a crescer recentemente em Portugal.

Nos últimos anos, temos visto esforços incríveis do Governo português para aumentar a influência tecnológica e de alta tecnologia em todo o país, e podemos ver que alguns resultados já estão a acontecer, principalmente nas grandes cidades. Mas, se olharmos para o investimento de Portugal em I&D como percentagem do PIB nacional para 2019, veremos um número relativamente baixo de 1,4% (65,5% em serviços, 19% em indústria, 2% em agricultura – dados do statista.com).

Eis a oportunidade. Muitos dos novos cidadãos trazem consigo a experiência e mentalidade certas para contribuir para o crescimento da nação. Por exemplo, para aprender sobre a cultura dos novos cidadãos, podemos dar uma vista de olhos ao PIB israelita (país de onde muitos vieram para Portugal) e verificar que Israel gastou em I&D cerca de 5% do PIB do país para 2019 (classificado em 6.º lugar a nível mundial pela Bloomberg). O futuro sustenta o crescimento que virá da cooperação e do empreendedorismo entre o antigo e o novo, património e visão, passado e futuro em conjunto. Esta cooperação poderia acontecer, por exemplo, através de uma plataforma internacional para start-ups, fundo de investimento conjunto para Israel e Portugal, cooperação académica ou programas conjuntos de I&D que irão contribuir para o desenvolvimento de todos.

Embora tenha uma história bastante longa, Portugal tem sabido modernizar-se e manter sempre a inovação no seu ADN. Para tal, muito tem contribuído o facto de ser um país acolhedor para povos estrangeiros, sendo local de escolha para viver e trabalhar para muitas pessoas do mundo. O impacto positivo da comunidade judaica em Portugal também já se faz sentir, tratando-se de uma comunidade que tem vindo a prosperar de dia para dia. E, com ela, também Portugal.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção