BPI rejeita tratar trabalhadores como “folhas de Excel”

O BPI teve lucros de 42,6 milhões de euros no primeiro semestre, menos 68% do que no mesmo período do ano passado.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O presidente executivo indigitado do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, rejeitou esta sexta-feira tratar os trabalhadores como “folhas de Excel” e fazer cortes “só porque sim”, quando questionado sobre a possibilidade do banco reduzir a sua estrutura de pessoal.

“Será algo que vamos analisando, agora... não funcionamos com folhas de Excel quando se trata de pessoas”, referiu João Pedro Oliveira e Costa quando questionado sobre o possíveis cortes na estrutura do banco, durante a conferência de imprensa da apresentação dos resultados do BPI (lucros de 42,6 milhões de euros), que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

O responsável do BPI considerou que “a possibilidade de o banco poder ser mais ágil a nível dos custos terá de ser ponderada com a manutenção da qualidade do serviço, com o nível de competitividade que o banco quer ter e com a presença que o banco quer ter no mercado”.

O presidente executivo do banco, ainda com o estatuto de indigitado, disse ainda que a constituição de imparidades por parte do banco, na sua maioria ligadas à pandemia de covid-19, não pode ser directamente ligada a reestruturações.

“Os lucros são 6,5 [milhões de euros, em Portugal] porque o BPI faz uma constituição de imparidades, por antecipação, de uma forma muito significativa. Se retirássemos essas mesmas imparidades, no seu grosso, os resultados teriam caído muito pouco. Por isso, eu não posso ligar o assunto imparidades a um assunto de redução de custos só porque sim”, argumentou João Pedro Oliveira e Costa.

Relativamente à redução de 23 trabalhadores e 29 balcões entre Junho de 2019 e Junho de 2020, o responsável afirmou que “numa organização, as pessoas também saem naturalmente, porque se reformam”. E em relação aos balcões disse que as equipas das sucursais encerradas foram integradas em outras unidades.

“O banco teve sempre uma grande preocupação com a componente do reconhecimento dos recursos humanos a vários níveis, e nomeadamente, também, quando é necessário adaptar a sua estrutura às circunstâncias exteriores que não são impostas pelo banco. E o banco continuará a analisar e a olhar para essas mesmas circunstâncias e adaptando a sua estrutura conforme for necessário”, disse ainda o presidente indigitado do BPI.

O BPI teve lucros de 42,6 milhões de euros no primeiro semestre, menos 68% do que no mesmo período do ano passado, tendo registado 83 milhões de euros em imparidades, divulgou o banco em comunicado ao mercado.

As imparidades criadas entre Janeiro e Junho foram de “carácter preventivo”, segundo o banco detido pelo grupo espanhol Caixabank, relacionadas com a crise económica desencadeada pela covid-19.

Na actividade em Portugal, o lucro foi de 6,5 milhões de euros, menos 92,6% face a período homólogo.

Lucros “bons” dada a conjuntura

O presidente executivo indigitado do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, classificou, por outro lado, os lucros de 42,6 milhões de euros como um resultado bom, dada a conjuntura económica associada à pandemia de covid-19.

“Quando refiro que os resultados são bons, é preciso pôr em contexto que quando esta crise começou, o nível de incerteza era muito grande, e o impacto do mundo onde nós temos taxas de juro negativas, uma enorme pressão nas comissões e um abrandamento da actividade como não tínhamos antes, era expectável que os resultados fossem piores”, disse João Pedro Oliveira e Costa.

O sucessor de Pablo Forero sustentou a sua argumentação com o facto de que “o banco aumenta a margem financeira, os depósitos, o crédito, ou seja, aumenta o volume de negócio, e ganha quota nos negócios principais onde está”.

“Eu tenho que sentir que os resultados, no contexto actual, são bons”, disse o presidente executivo indigitado do BPI, que admitiu, porém, que “gostaria que fossem muito melhores” se não fosse o surgimento da pandemia de covid-19.

Banca está melhor preparada 

O presidente executivo indigitado do BPI considerou ainda que a situação atual da banca “não tem nada a ver” com a da crise de 2008, defendendo que o sistema financeiro está melhor preparado para a crise associada à pandemia de covid-19.

Começando por saudar os níveis de “solidez” e “liquidez” e “de risco” do BPI, João Pedro Oliveira e Costa alargou o comentário ao sistema bancário nacional, dizendo que “não tem nada a ver a situação em que o sector financeiro português está com aquilo que enfrentou quando começou a crise de 2008”.

O responsável do BPI referiu “o esforço muitíssimo grande que fez na redução da sua carteira de malparado, mas também um esforço de redução de custos, transformação do modelo de negócio, digitalização, transformação em termos do formato com que estava a operar em cada uma das linhas de negócio”.

“O que nós verificamos hoje, nos vários indicadores, é que todo o sector financeiro português está muito bem, e basta ver os comentários que as próprias agências de rating fazem relativamente à banca portuguesa”, referiu, quando questionado precisamente acerca de vários ‘avisos’ das agências quanto à exposição do sistema bancário nacional à crise associada à pandemia de covid-19.

João Pedro Oliveira e Costa disse que “a banca portuguesa está preparada para apoiar a economia, para enfrentar o que vem pela frente”.

“É preciso dar esse voto positivo à banca portuguesa, deixando muitas vezes de ser o foco em muitos comentários que eu considero desnecessários”, afirmou o presidente executivo indigitado do BPI.

Na quinta-feira, a Fitch considerou que o choque sem precedentes desencadeado pela crise pandémica é um risco para o rating dos bancos portugueses e que uma crise mais longa é uma ameaça ao sector.

Segundo a agência, o sector bancário português mostrou alguma resiliência no primeiro trimestre deste ano, ainda que com aumentos das provisões para perdas com crédito, mas a pressão ter-se-á intensificado a partir do segundo trimestre, com alguns bancos provavelmente com prejuízo ou pelo menos em break-even (ponto de equilíbrio entre ganhos e perdas), prevendo que a recuperação gradual das operações seja improvável antes de 2022.

“Uma crise mais longa do que actualmente esperamos ameaçaria a viabilidade do sector bancário e reverteria os significativos progressos alcançados desde 2016”, afirma a Fitch.

No imediato, diz a Fitch, a crise é um risco para a avaliação que faz das métricas dos bancos, desde logo, porque os bancos com mais activos problemáticos e menos capitalizados “estão mais vulneráveis”, o que pressiona os ‘ratings’ atribuídos.

Contudo, sugere, a pressão sobre os ratings poderá ser mitigada com os pacotes de apoio das autoridades públicas (governo, banco central, fundos europeus), minimizando o efeito da crise económica sobre o sector bancário.

Ainda esta semana, outros bancos revelaram as quebras que tiveram no primeiro semestre de 2020 devido à pandemia de covid-19. Globalmente, o Banco Santander registou perdas recordes de 10.798 milhões de euros no primeiro semestre do ano, ao actualizar o valor das filiais, o Deutsche Bank registou perdas líquidas de 120 milhões de euros e o Barclays ganhou menos 12% do que primeiro semestre de 2019. Em Portugal, os lucros do BCP recuaram 55% no primeiro semestre.