Doentes de hepatite C mais vulneráveis vão ter espaço de rastreio em Lisboa

O presidente do Grupo de Activistas em Tratamentos diz que projecto pretende ajudar “camada da população que tem maiores dificuldades no acesso aos hospitais e que mais fica para trás no tratamento da doença”.

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Luís Mendão diz que projecto “faz ainda mais sentido neste contexto da pandemia" Ricardo Lopes

Cerca de 200 pessoas em situação de maior vulnerabilidade na Área Metropolitana de Lisboa vão passar a dispor de um serviço de rastreio à hepatite C (VHC), sem ter de se deslocar ao hospital, foi anunciado nesta terça-feira.

Estas consultas descentralizadas têm início a partir de quarta-feira no centro de rastreio IN-Mouraria e resultam de uma parceria entre o Grupo de Activistas em Tratamentos (GAP) e o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), segundo referiu à agência Lusa o presidente do GAP, Luís Mendão.

“O nosso centro fica na Calçada de Santo André (Mouraria) junto à Rua dos Cavaleiros, uma zona de grande consumo de droga e onde existem muitos sem-abrigo. São exactamente essas as pessoas mais afectadas pela hepatite que nós queremos ajudar”, explicou.

Segundo o presidente da GAP, a taxa de sucesso de cura nestas pessoas mais vulneráveis é de apenas 11 a 12%, enquanto na restante população é de 60 a 70%.

E “é exactamente essa camada da população que tem maiores dificuldades no acesso aos hospitais e que mais fica para trás no tratamento da doença”.

“Não é que exista uma negação formal dos hospitais. O problema é que as regras hospitalares são complicadas para estas pessoas e não são compatíveis com as suas necessidades”, alertou.

Nesse sentido, Luís Mendão ressalvou que as consultas descentralizadas “serão essenciais para simplificar com segurança e qualidade o acompanhamento desses doentes”.

“Em vez de irem ao hospital fazem tudo onde já vão habitualmente”, apontou, sublinhando que esta medida “faz ainda mais sentido neste contexto da pandemia da covid-19, em que é preciso minimizar as deslocações ao hospital e manter o distanciamento social.

Assim, no centro da GAP, os pacientes poderão realizar procedimentos clínicos, como a confirmação da infecção, análises, elastografia, prescrição e avaliação do sucesso terapêutico.

As pessoas que tiverem resultados positivos no rastreio à infecção da hepatite C serão encaminhadas para o serviço de Gastrenterologia do Hospital de Santo António dos Capuchos.

Estas consultas médicas podem ser presenciais ou por telemedicina.

Luís Mendão estima que cerca de 200 pessoas, de toda a Área Metropolitana de Lisboa, poderão beneficiar imediatamente deste programa, podendo o número vir a aumentar com o tempo.

“As pessoas estão ansiosas e entusiasmadas com o projecto”, sublinhou.

Em Portugal, segundo os dados Infarmed, até ao dia 1 de Julho de 2020, foram autorizados, desde 2015, 27.239 tratamentos para a hepatite C e iniciados 26.006. A taxa de cura mantém-se nos 97%, com 15.909 doentes curados e 572 não curados.

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