Chicago retira temporariamente estátuas de Colombo

Presidente da câmara da cidade norte-americana justifica decisão com receio de episódios de violência.

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As estátuas foram retiradas na madrugada de sexta-feira Reuters/KAMIL KRZACZYNSKI

As duas estátuas do navegador italiano Cristóvão Colombo que estavam em dois parques de Chicago, no estado norte-americano do Illinois, foram retiradas de forma temporária por ordem da presidente da câmara local.

Tal como acontece em muitos outros estados norte-americanos desde finais de Maio, numa vaga de protestos anti-racismo que começou com o homicídio de George Floyd em Mineápolis, as estátuas de figuras históricas como Colombo e os generais do exército da Confederação são alvo da fúria e indignação da comunidade negra e das tribos índias.

Para os manifestantes que têm tentado forçar a remoção das estátuas de Colombo em Chicago, os monumentos ao navegador italiano representam o elogio a um passado de colonialismo e escravatura; nos estados do Sul, como o Alabama, a Georgia ou a Carolina do Sul, as estátuas de generais que combateram na Guerra Civil norte-americana de 1861-1865 a favor da escravatura perpetuam os ideais da supremacia branca que só deixaram de ser lei na década de 1960.

Ao justificar a sua decisão, a presidente da câmara de Chicago, Lori Lightfoot (Partido Democrata), disse que o objectivo é impedir que a tensão nas imediações das estátuas acabe por dar origem a cenas de violência e evitar que os manifestantes as danifiquem. Na semana passada, a polícia e os manifestantes envolveram-se em confrontos após uma tentativa de remoção da estátua que estava no Parque Grant, na Baixa da cidade.

Na madrugada de sexta-feira, entre a 1h e as 3h, funcionários da câmara retiraram a estátua do Parque Grant perante os aplausos de dezenas de pessoas, segundo o jornal Chicago Tribune. Em seguida foi retirada a estátua de Colombo no Parque Arrigo, numa zona da cidade onde se concentra a comunidade ítalo-americana conhecida como Litte Italy.

“Esta decisão tem como objectivo proteger a segurança pública e abrir um diálogo inclusivo e democrático sobre os símbolos da nossa cidade”, disse Lightfoot. “E vai também permitir-nos concentrar os nossos recursos de segurança pública nas zonas da cidade onde eles são mais necessários.”

A decisão da câmara de Chicago foi criticada pela comunidade ítalo-americana, que via nas estátuas de Colombo – em particular na que foi colocada no Parque Arrigo – um monumento ao seu contributo para o desenvolvimento do país.

“Eles têm manifestado um profundo sentimento de desilusão por já não poderem mostrar aos filhos, no caminho para a escola, aqueles ícones e símbolos que tanto representaram para eles toda a vida”, disse Pasquale Gianni, da Comissão Conjunta de Ítalo-Americanos, ao Chicago Tribune.

“Tiraram-lhes um pedaço da sua herança e do seu crescimento”, disse Gianni.

A favor da remoção temporária, um grupo de vereadores da cidade defendeu a decisão da presidente da câmara referindo-se às estátuas de Colombo como “monumentos à supremacia branca”.

“Agradecemos aos activistas e aos organizadores que se puseram na linha da frente para que isto acontecesse, e agora vamos continuar a trabalhar para a substituição do Dia de Colombo pelo Dia das Pessoas Indígenas, e para desmantelar a supremacia branca em todas as suas formas.”

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