Proteger 30% do planeta pode trazer benefícios económicos (além de evitar o colapso da biodiversidade)

Nova análise global garante que proteger 30% da terra e dos oceanos até 2030 pode trazer benefícios económicos (além de evitar a crise climática e a perda de biodiversidade). Cientistas e economistas dizem que os lucros de manter os ecossistemas intactos ultrapassam os custos em cinco vezes.

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Uma comunidade a que chamam "o comboio" ao longo do rio Caratingui, Cairu, no estado da Bahia.

Enric Sala é um comunicador de ciência nato. Mas será bom o suficiente para convencer os governos de que proteger a natureza não só é vital para evitar a crise climática e o colapso da biodiversidade, como é ainda um “muito bom investimento económico"? Um novo relatório que o conservacionista co-assina, e que reuniu o consenso de mais de 100 cientistas e economistas, mostra que cada dólar gasto a proteger e expandir áreas de preservação da natureza marinha e terrestre poderá criar um retorno de cinco dólares. 

Esta é uma das principais conclusões de uma das “análises globais mais abrangentes” dos potenciais benefícios económicos ao deixar ecossistemas intactos e classificar um terço da Terra como uma reserva natural. “Não podes pôr um preço na natureza, mas os números apontam para a sua protecção”, garante Anthony Waldron, o líder da investigação e ecologista da Universidade de Cambridge. O relatório da Campaign for Nature, organização que quer convencer os governos a proteger 30% dos oceanos e terra até 2030, mostra que para atingir esse objectivo seriam precisos 124 mil milhões de euros por ano (o custo do divórcio de Jeff Bezos, CEO da Amazon). Anualmente, são gastos cerca de 21 mil milhões de euros a proteger áreas naturais, diz o estudo. Aproximadamente 15% das terras e 7% dos oceanos estão classificados com algum nível de protecção. 

“O nosso relatório mostra que a protecção traz mais lucro do que a alternativa e acrescenta lucro à agricultura e exploração florestal, ao mesmo que tempo que ajuda a prevenir as alterações climáticas, crises de água, perda de biodiversidade e doenças”, concordam os mais de 100 investigadores no relatório publicado na quarta-feira, 8 de Julho, e apresentado aos jornalistas numa sessão via Zoom a que o P3 teve acesso. Os cientistas salvaguardam a necessidade não só de garantir que o lucro é distribuído pelas diferentes populações, mas também de assegurar que os esforços dos países são cumpridos para além da assinatura de um acordo. 

O momento escolhido para o lançamento do relatório não é inocente. Os cientistas estimam que pelo menos um milhão de espécies enfrentam a extinção nas próximas décadas, maioritariamente devido à perda de habitat e às alterações climáticas provocadas pelo ser humano. Além disso, melhorar a nossa interacção com o mundo selvagem poderá ser a melhor vacina para evitar a próxima pandemia. Conseguir convencer os países a atingirem a marca de 30% até 2030 é o objectivo do rascunho de um documento que será finalizado no próximo ano, na 15.ª Conferência das Partes (COP) para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, uma reunião chave para escrever o cenário futuro da protecção da biodiversidade. Atingir esse objectivo significaria dar espaço a ecossistemas saudáveis que poderiam gerar mais 350 mil milhões de euros por ano em serviços essenciais à vida como água e ar limpos e prevenção da erosão costeira, indica o relatório.

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