Pedro Nuno Santos não garante “todos os postos de trabalho na TAP” e nunca apoiará “um candidato da direita”

“Não temos operação que justifique a dimensão que a TAP tem”, diz o ministro das Infra-estruturas. Caso o PS não apresente candidato às presidenciais, o socialista admite votar em alternativa apresentada pelo Bloco ou PCP.

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Pedro Nuno Santos MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

O ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, admitiu esta quarta-feira que uma redução de pessoal na TAP será inevitável, justificando que a empresa não tem volume de negócios para manter a mesma dimensão. Em entrevista à RTP3, diz que o cenário é comum a várias companhias aéreas europeias que também estão a ser alvo de reestruturações.

“Podemos garantir postos de trabalho a todos os trabalhadores da TAP? Não. Estaríamos a enganar-nos a todos nós, não temos operação que justifique a dimensão que a TAP tem. Podemos fazer este trabalho, temos a obrigação, com cuidado e respeito pelos trabalhadores. É isso que temos de fazer com os sindicatos, que têm de participar neste processo. Não podem estar só a assistir”, explicou o ministro.

Pedro Nuno Santos garantiu que a perda económica para Portugal seria muito superior aos 1200 milhões de euros de apoio que serão injectados na companhia nesta primeira fase da intervenção, caso o Estado não assumisse o controlo da empresa. O ministro socialista destacou o emprego indirecto sustentado pela actividade da companhia aérea, admitindo, contudo, que qualquer Governo “não tem prazer especial em injectar 1200 milhões de euros numa empresa”.

“A conclusão que tirámos é que deixar cair a TAP teria um custo superior a 1200 milhões de euros. A TAP compra a mais de mil empresas nacionais 1300 milhões de euros anualmente. É só um exemplo da importância que a TAP tem para a economia nacional. A TAP exporta 2,6 mil milhões de euros por ano, temos de ter perfeita consciência do que estamos a falar”, explicou Pedro Nuno Santos. 

“Um Governo não pode ter medo de tomar decisões. Para nós, era claríssimo que perder a TAP teria consequências muito mais gravosas do que os dez mil desempregados que teríamos se a TAP falisse. Todos os empregos gerados pelas actividades económicas suportadas pela actividade da TAP. Depois, há um aspecto que normalmente não é valorizado: se a companhia portuguesa caísse, deixaríamos de ter um hub em Lisboa, seria em Madrid. Isto é, o centro em que se fariam todas as ligações aéreas para o resto da Europa ou para o resto do Atlântico seria em Espanha”, prosseguiu o ministro.

Na segunda-feira, Pedro Nuno Santos já tinha revelado que até Dezembro vão chegar à TAP, de forma faseada, 946 milhões de euros. Os restantes 250 milhões entrarão na companhia aérea até Fevereiro. O ministro não garante, porém, que os apoios fiquem por aqui, argumentando com as imprevisibilidades trazidas pela pandemia. Esta verba permitirá à companhia aérea operar, de acordo com o governante, até, pelo menos, ao final do ano. O pagamento de salários não está em risco, garante. 

“Nem eu nem nenhuma pessoa no mundo consegue ter a certeza sobre a evolução do sector do turismo, aviação e economia em geral. O que sabemos ao dia de hoje foi que chegámos com a TAP e Comissão Europeia a um valor que nos dá a garantia de uma folga, do ponto de vista de liquidez, para trabalhar até para lá do final do ano. Temos de conseguir rapidamente que a TAP volte a colocar os aviões no ar para podermos trabalhar e arrecadar receitas. Tenho uma certeza: não vamos ficar assim eternamente. A pandemia terá um fim, a recessão económica terá um fim. Precisamos de uma companhia aérea que, mesmo que sofra uma redução agora, possa recuperar e voltar a crescer. Os cidadãos vão continuar a voar”, explicou.

“Não havia relação de confiança” com Antonoaldo Neves

O ministro admitiu que não existia qualquer hipótese que Antonoaldo Neves continuasse a ser o CEO da companhia aérea. Por enquanto, as decisões continuam a ser tomadas pela actual comissão executiva.

“Não faria sentido nenhum, acho que muita gente compreende que o engenheiro Antonoaldo Neves não tinha condições para continuar a gerir a empresa. Chegámos a um acordo [com o accionista], uma das alterações é essa e essa substituição vai acontecer. Não há condições de confiança nem relação [para que ele ficasse]. O engenheiro é da equipa da escolha de [David] Neeleman, que vai sair da empresa, não faria sentido. Poderia fazer, se as relações fossem melhor do que aquilo que são”, revela.

Quanto a Neeleman, a quem o Estado comprará a participação por 55 milhões de euros, Pedro Nuno Santos reconheceu a capacidade de abrir a empresa ao mercado norte-americano, recusando a existência de qualquer “hostilidade” com o accionista durante as negociações. Esta compra, contudo, era uma necessidade, de acordo com o ministro: “Entendemos que a não saída de David Neeleman acabaria por provocar uma situação de litígio de resultado incerto.” 

Pedro Nuno Santos deixa a garantia de que a equipa de transição será “de qualidade”, não avançando, para já, nomes para a futura gestão da companhia aérea.

Votar BE ou PCP se PS não tiver candidato presidencial

Depois de ultrapassado o tema TAP, o ministro foi questionado sobre a hipótese de o Partido Socialista (PS) não apresentar candidato nas presidenciais. Pedro Nuno Santos diz que nunca apoiará “um candidato da direita”, dizendo que a candidatura do actual Presidente da República será sempre partidária, fazendo referência ao passado de Marcelo no PSD.

“Por norma, acho que deve haver sempre um candidato da área do PS. Um partido com a importância que o Partido Socialista tem e a importância que as presidenciais têm na vida do país justificariam que o PS tivesse um candidato. Fomo-nos colocando na posição confortável que as candidaturas presidenciais não são partidárias. Ou nós achamos que a candidatura do senhor Presidente da República não é partidária quando ele foi presidente de um partido?”, questionou.

Pedro Nuno Santos admite mesmo votar num candidato apresentado pelo Bloco de Esquerda ou do PCP, caso o PS fique sem representação nas eleições do próximo ano.

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