Heróis do combate à pandemia vão ter monumento de homenagem em calçada portuguesa

O projecto artístico vai ser definido num concurso de ideias promovido pela Faculdade das Belas Artes da Universidade de Lisboa. Assimagra oferece a pedra e a Associação da Calçada Portuguesa garantiu os calceteiros experientes que vão construir a homenagem aos profissionais das varias áreas que estão na linha da frente contra a epidemia

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Nuno Ferreira Santos

A ideia surgiu logo após o eclodir da pandemia de covid-19. Nessa altura, em meados de Abril havia arco-íris nas janelas e palmas às varandas. E por mais vídeos e registos que haja desses momentos, a verdade é que eles se dissipam com o tempo. Foi nessa altura que Miguel Goulão, vice-presidente da associação que representa a indústria dos recursos minerais em Portugal, a Assimagra, se deteve numa conversa com António Prôa, secretário-geral da Associação da Calçada Portuguesa. Viviam-se então, vivem-se ainda, momentos marcantes e históricos, e ambos concordaram que a calçada portuguesa poderia ser objecto e monumento que servisse para homenagear todos os heróis que, na linha da frente no combate à pandemia, tornaram o dia-a-dia de quem ficou confinado em casa bastante menos difícil.

Depois de mês e meio a trabalhar na ideia, já é possível fazer previsões do resultado. Numa das avenidas mais nobres da cidade - a Avenida da República, bem defronte ao Campo Pequeno, em Lisboa - vai surgir um monumento em calçada que será, também, a primeira obra com que a Associação Portuguesa da Calçada pretende mostrar ao mundo as razões porque entende merecer o epíteto de Património Imaterial da Humanidade, cuja candidatura está a preparar. “Acreditamos que há muitos exemplos na cidade da Lisboa, em Portugal e no mundo, que fazem valer os argumentos da valorização deste património tão único, enquanto símbolo de identidade e do nosso país. Mas este monumento será também uma forma de assinalarmos este momento único da nossa história e de os portugueses agradecerem a estes heróis numa expressão artística e numa linguagem que é tão portuguesa”, argumenta Antonio Prôa. 

Esta homenagem - que vai ocupar 300 metros quadrados de área, isso também já se sabe - vai ser possível depois de conciliar muitos desafios e boas vontades. O primeiro desafio foi lançado à Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e prontamente aceite. É a comunidade académica desta faculdade que vai responder ao concurso de ideias cujo regulamento e termos de referência foram recentemente concluídos. As propostas serão seleccionadas por um júri, e o início das obras está previsto para finais de Setembro, princípio de Outubro. A área de implantação será o separador central da Avenida da República, enriquecendo um troço que está calcetado com pedra branca, incaracterística. 

António Prôa não consegue adivinhar o tempo que será necessário para terminar a construção deste monumento, mas antecipa que serão “varias semanas”. “Vai depender do detalhe do projecto. Mas já assegurámos ter disponível a necessária mão-de-obra qualificada para o aplicar. Porque queremos ter um trabalho de excelência”, afirmou o responsável da Associação da Calçada Portuguesa. E é aqui que surgem, depois, outras boas vontades: a da Câmara de Lisboa, que, para além de ter concordado com a localização, também assegurou a intenção de disponibilizar os seus calceteiros. Também a Junta de Freguesia das Avenidas Novas, que também tem calceteiros no seu quadro de colaboradores, os vais disponibilizar. E, ainda assim, vai ser necessário recorrer aos profissionais da empresa ROC2C, que aplica calçada portuguesa em Portugal e no mundo. “Será um trabalho a três mãos”, resume Prôa.

No regulamento do concurso estabeleceu-se que a pedra de calcário a usar será maioritariamente a branca e a preta, mas está prevista a possibilidade de haver apontamentos que possam mostrar a variedade da paleta de cores da calçada portuguesa: rosa, alaranjado e cinzento. A Associação da Calçada Portuguesa já assegurou os fornecedores para a matéria-prima que vai ser necessária. E a Assimagra já se comprometeu a pagar a factura. 

“Este projecto resulta de uma associação feliz de um conjunto de entidades que, de uma forma proactiva, se juntaram para fazer uma homenagem que vai perdurar para todo o sempre”, diz Miguel Goulão ao PÚBLICO. Mas também não esconde a relevância que tem este tipo de intervenção para recuperar junto da opinião publica a valorização da calçada portuguesa que, mais do que o chão que pisamos, é arte e é mensagem.

“A calçada portuguesa tem um potencial de internacionalização ilimitado. E, sempre tendo cuidado com o acesso ao recurso, temos de pugnar pela retoma desta actividade que é muito artesanal, que está na mão de empresas familiares, em que muitas fecharam as portas. É altura de recuperar estas empresas, esta actividade, em respeito pela nossa cultura e identidade”, sintetiza Miguel Goulão.

A origem da pedra de calcário que vai ser oferecida pela Assimagra é sobretudo a zona da Serra de Aire e Candeeiros. E tanto António Prôa como Miguel Goulão sublinham o facto de também a Câmara Municipal de Porto de Mós, um dos concelhos onde a extracção de pedra para calçada portuguesa é mais relevante, pretender também associar-se a esta iniciativa. Numa segunda fase, a autarquia de Porto de Mós pretende fazer uma réplica do monumento a calcetar na Avenida da República em Lisboa num dos jardins principais da cidade.

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